'ainda bem'

Bolsonaro não vai a Nova York! Nova York não quer Bolsonaro! - Por Silvio Osias

Comecei a sonhar com Nova York entre o final da infância e o início da adolescência.

Meu tio Humberto me mostrou Gershwin. Começou – claro! – pela Rapsódia in Blue, mas não ficou somente nela.

Muitos anos depois foi que Kaplan conversou comigo sobre “Gershwin é Nova York, Nova York é Gershwin”.

Lennon me pegou com aquele rock visceral: “Que pasa, New York? Que pasa New York?”.

Simon, com a doçura da melodia de American Tune.

E os versos? A Estátua da Liberdade navegando para o mar, e ele – o songwriter – a sonhar que estava voando.

Ou a Estátua da Liberdade vista pelo menino no navio de imigrantes, ao som de Nino Rota.

Mas o impacto definitivo veio numa sessão noturna do Cine Tambaú: o cinema e a música naquela telona, as imagens e os sons de West Side Story. Não havia só Gershwin. Agora havia também Bernstein.

Todos foram para Nova York ou vieram de lá.

Os homens e as mulheres do jazz.

Os cantores e as cantoras que passaram pelo palco do Teatro Apollo. O “Apollo of freedom” do verso de Lennon.

Os judeus como Gershwin e Bernstein.

Os italianos do cinema, como Scorsese.

Ou da música e do cinema , como Sinatra.

“New York, New York! It’s a hell of a town!”.

Um Dia em Nova York.

Sonhei com vários dias.

A vida toda.

Estudei os mapas com afinco.

Nunca fui.

Talvez morra sem ir.

*****

Bolsonaro não vai mais a Nova York.

O prefeito não quis.

O senador do Partido Democrata não quis.

O museu não quis.

O restaurante não quis.

O hotel ficou em dúvida.

Os patrocinadores começaram a chiar.

O presidente brasileiro é racista?

O presidente brasileiro é homofóbico?

O presidente brasileiro é machista?

O presidente brasileiro defende a tortura?

O presidente brasileiro é tudo isso?

Meus Deus! Que presidente o Brasil tem!

Nova York não quer Bolsonaro!

Nova York não ama Bolsonaro!

Nova York amava Tom Jobim!

Ainda bem!

Fonte: Jornal da Paraíba
Créditos: Silvio Osias