Calor e tristeza?

Aumento de temperaturas pode provocar 40 mil suicídios até 2050, diz estudo

Pesquisa  relaciona efeitos das mudanças climáticas na saúde mental da população.

Pesquisa  relaciona efeitos das mudanças climáticas na saúde mental da população.

Uma pesquisa publicada nesta semana na revista Nature revela que as mudanças climáticas extremas têm efeitos diretos na saúde mental da população, mais especificamente, nas taxas de suicídio.

De acordo com o estudo, em dias excepcionalmente quentes, a taxa de suicídio também se eleva. Nos Estados Unidos, o mês que aumenta em 1ºC sua temperatura normal reflete um aumento de 0,7% dos suicídios. No México, esse aumento é de 2,1%.

De acordo com Marshall Burke, economista de Stanford e um dos pesquisadores envolvidos com o estudo, o resultado é um alerta sobre como qualquer pessoa pode ser vítima das mudanças climáticas – em maior ou menor grau.

“A mudança climática vai gerar vencedores e perdedores – essa é uma frase que você ouve o tempo todo. Mas para esse resultado, são todos perdedores. Não há vencedores. Encontramos essas fortes relações diretas entre suicídio em todos os lugares quando você eleva a temperatura.”

O grupo de pesquisadores examinaram dados de temperaturas de décadas diferentes e fizeram uma comparação com as taxas de suicídio em cidades dos EUA e do México.

Essa descoberta tem implicações sérias para um mundo em que o clima está mudando tão rapidamente. Os pesquisadores projetam que pelo menos 9.000 – e até 40.000 – pessoas podem morrer por suicídio nos Estados Unidos até 2050 se não reduzirmos as emissões de gases de efeito estufa.

“Projetamos que a mudança climática poderia resultar em suicídios adicionais combinados nos Estados Unidos e no México até 2050, representando uma mudança nas taxas de suicídio comparável ao impacto estimado de recessões econômicas, programas de prevenção de suicídio ou leis de restrição de armas”, diz o estudo.

O estudo não aborda o processo que está por trás dessa relação entre mudanças no clima e o suicídio. Mas os autores relatam que certos neurotransmissores, incluindo a serotonina, também são afetados. Outro ponto que Burke chama atenção é para o fato de que que os dias mais quentes também afetam a violência interpessoal nos Estados Unidos.

O pesquisador, que também foi co-autor do estudo sobre violência interpessoal e mudança climática, considerou os efeitos “semelhantes”: “É uma hipótese, mas poderia haver algo na biologia que liga a sua vontade de prejudicar alguém com a sua vontade de prejudicar a si mesmo.”

Os pesquisadores afastam qualquer ideia de que a mudança climátia é a principal causa dos suicídios, porém, como cientistas, defendem que é preciso refletir sobre o que os dados demonstram, além de entendermos o impacto do aquecimento global na vida das pessoas.

“As pessoas estão realmente sofrendo com isso no dia a dia, e precisamos ter cuidado. Mas, de uma perspectiva social, quando olhamos para os dados, vemos uma relação muito forte. Se reduzirmos o aumento futuro da temperatura, não importa onde você esteja, nos EUA, no México ou em outro lugar, você vai se beneficiar dessa redução”, declarou.

Aumento de temperatura no mundo

De acordo com a Organização das Nações Unidas, os últimos três anos foram os mais quentes do planeta. Só em 2018, mais de 60 pessoas morreram no Paquistão devido a uma onda de calor, que elevou as temperaturas a mais de 40ºC.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, o estresse provocado pelo calor devido às mudanças climáticas pode causar até 38 mil mortes adicionais por ano em todo o mundo até 2050.

Caso você — ou alguém que você conheça — precise de ajuda, ligue 141, para o CVV – Centro de Valorização da Vida, ou acesse o site. O atendimento é gratuito, sigiloso e não é preciso se identificar. O movimento Conte Comigo oferece informações para lidar com a depressão. No exterior, consulte o site da Associação Internacional para Prevenção do Suicídio para acessar uma base de dados com redes de apoio disponíveis.

Fonte: Huffpost Brasil
Créditos: Huffpost Brasil