neoliberalismo

AS ARMAS DE BOLSONARO: O Estado um mal necessário - Por Estevam Dedalus       

O neoliberalismo está baseado na crença de que “não existem sociedades, mas indivíduos”. A sociedade seria algo artificial. O Estado um mal necessário.

A centralidade atribuída ao indivíduo não é uma coisa nova. Ela está na base daquilo que se convencionou chamar de modernidade. O problema é quando essa ideia se torna o guia para políticas econômicas privatizantes vorazes e o fundamento de uma ética que coloca em primeiro lugar os interesses individuais mais mesquinhos, isso resulta em prejuízo do “bem comum”.

Em outras palavras, a ética neoliberal diz que devemos nos importar apenas com nós mesmos, não com os outros – corroendo assim os sentimentos de empatia e solidariedade das pessoas. Um exemplo é o projeto de reforma da previdência proposto pelo Governo Bolsonaro que visa a troca de um regime em que trabalhadores ativos, empresas e Estado contribuem para sua manutenção, por um regime de capitalização. A capitalização levaria os trabalhadores a criarem poupanças individuais administradas por bancos que lucrariam bilhões de reais através de seus fundos de pensão, gerando rendimentos de aposentadoria inferiores aos do atual regime de repartição.

É esse mesmo tipo de ideologia que molda a política de armas e segurança de Bolsonaro. Isto é, não caberia ao Estado a proteção de seus cidadãos. A responsabilidade é transferida para os próprios indivíduos, entrincheirados em casas com cercas elétricas, câmeras de segurança e armas de fogo. Trata-se, portanto, de um empreendimento individual. O ato de transferir para a esfera privada a responsabilidade com a segurança é alimentada pela violência e a sensação de medo que assombram a sociedade brasileira.

O medo invadiu níveis moleculares da vida social, foi colonizado pelo mercado e transformou-se num negócio bilionário que se alimenta de nossas incertezas e vulnerabilidades. O medo está no noticiário sangrento dos programas policiais. Nas páginas dos jornais. Na internet. Nas conversas informais. Nas ruas. Nas escolas. No trabalho. Nas igrejas. No desemprego. Na ignorância. Na impotência. Na pobreza. No outro. No governo. No presente. No futuro.

Somos o país com o maior número de mortes por armas de fogo no mundo, cerca de 20 por cada 100 mil habitantes. Há um holocausto em curso no país. Em 2017, 65.602 pessoas foram mortas no Brasil, o equivalente ao número de baixas norte-americanas durante a Guerra do Vietnã.

Além desses aspectos, é preciso considerar ainda os interesses materiais concretos, o papel de atores econômicos de peso. Em última instância, são eles que movem essa política. O mercado brasileiro é visto pela indústria armamentista como uma fonte inexplorada de lucro. Outro fator negativo nesse processo é a associação do governo com milícias e o crime organizado. A flexibilização ao acesso a armas de fogo pode aumentar a força de poderes paralelos no interior do Estado, o que colocaria em risco a soberania nacional e a nossa já combalida democracia.

 

* Estevam Dedalus  é Sociólogo

Fonte: Estevam Dedalus 
Créditos: Estevam Dedalus