Luto no jornalismo paraibano

UM BRINDE AO NOBRE HERALDO: hoje tomarei uma taça de vinho em sua memória, na minha adega de saudade -Por Piancó

Nesse diverso ecossistema do jornalismo paraibano, Heraldo era um espécime raro. Vestia-se como um fidalgo, conversava como um lorde inglês, mas conhecia a alma popular mais que qualquer asilado do Ponto de Cem Réis. Ele, feito um João do Rio Jaguaribe, gostava de flanar pelos recantos mais abaixo da linha de visão dos que empinam seus narizes. Quantas vezes o encontrei no Mercado da Torre, no Terceirão e em verdadeiros templos da baixa gastronomia pessoense. Sempre agradável, cheio de dicas e histórias pitorescas que catava na casa grande e levava para fazer a senzala gargalhar. Heraldo era mais que um jornalista observador, como amante de um bom vinho, ele era também um sommelier de personalidades. Sabia decifrar as notas contidas em cada personagem que descrevia. Tanto que ao degustar qualquer de suas encorpadas histórias, podia perceber a acidez, as notas florais e o tanino que ele lançava em cada uma. Hoje tomarei uma taça de vinho em sua memória, hoje a taça também terá lágrimas, soluços e será acompanhada por petiscos de sorrisos. Pois lá se foi uma reserva especial, mas fica o retrogosto de quem só fez o bem. E eu, pesarosamente, vou colecionar mais um rótulo raro na minha adega de saudade.

Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Polêmica Paraíba