Não é de hoje que parte da imprensa brasileira tenta, de todas as formas, por em cheque não apenas o político Jair Bolsonaro (PSL), como também são colocados em pauta os ataques pessoais.A atmosfera de caça às bruxas tem promovido uma busca incessante no passado do ex-capitão do exército, na ânsia de  alimentar a fábrica de factoides que parte da imprensa tem se sujeitado para manter a militância ideológica em dia.

Um dos exemplos é a revista Época, pertencente ao Grupo Globo, que tem abraçado a escalada para manchar a imagem de Bolsonaro e pessoas ao seu redor. A publicação fez, inclusive, afagos recentes ao candidato Ciro Gomes (PDT), colocando-o como o ponto de equilíbrio entre o que a revista chamou de “antipetismo” e “antibolsonarismo”, sem levar em consideração os constantes ataques de fúria do candidato pedetista. Como se isso já não colocasse em dúvida a isenção jornalística do veículo, a Época ainda fez recentes afagos a Fernando Haddad (PT), além de taxar a intenção de voto de um homossexual na direita como “singular”.

A perseguição do Grupo Globo a Jair Bolsonaro tem a ver com uma fala do candidato em que ele relembra os bilhões que foram destinados aos veículos do grupo nos últimos 15 anos do governo federal. Na declaração, Bolsonaro afirma que vai democratizar e descentralizar esse valor.

O novo episódio da caçada promovida pela mídia agora acontece no Nordeste, especialmente nos estados da Paraíba e Pernambuco. Natália Portinari assina a capa que traz o título “Os marqueteiros”. Logo abaixo, o ataque: “A produtora-fantasma contatada por Bolsonaro”. A repórter tenta, com vários remendos, conferir o rótulo de “fantasma” a uma empresa de sete anos de existência e um extenso portfólio de clientes.

A Mosqueteiros Filmes, empresa citada na reportagem, presta serviços à Alfa9 Intelligence. “A Mosqueteiros uma produtora pequena, mas que sempre prestou o melhor serviço possível. Apesar de pequena, faz um grande trabalho. Sempre com as contas em dia”, disse Maria Dias, procuradora da Mosqueteiros Filmes.

Com a liderança do nome de Jair Bolsonaro na corrida presidencial, setores da imprensa viram-se obrigados a buscar episódios que denegrissem a imagem do candidato. Não encontrando, passaram a percorrer vias paralelas, buscando quem está ao redor de Bolsonaro.

Lucas Salles, que além de especialista em marketing e responsável pela agência 9ideia Comunicação e pela Alfa9 Intelligence, é escritor, empresário, jornalista e publicitário. Lucas foi contratado para trabalhar na comunicação oficial do candidato. Junto com a sua equipe, ele foi o responsável por criar o conceito “Muda Brasil, muda de verdade”, o jingle e toda a identidade visual da campanha. “Somos um grupo familiar de comunicação com cerca de 30 anos no mercado, atuando na Paraíba e Pernambuco. Em todos esses anos, como qualquer empresa, altos e baixos aconteceram. Apesar disso, sempre buscamos um serviço de excelência”, explica Salles.

Lucas Salles é professor universitário, presidente da Associação Brasileira de Agências de Publicidade na Paraíba (Abap-PB) e da Associação Brasileira de Consultores Políticos (ABCOP), além de ter um histórico de credibilidade na Paraíba e em Pernambuco. “Sempre fiz questão de um marketing eleitoral transparente. Um conceito criado por mim. Uma pesquisa rápida sobre a minha história, mostra que não tenho máculas.”

Uma história viva

A repórter comete um erro jornalístico grave e irreparável ao abandonar critérios de apuração e usar o texto como bandeira ideológica em tom de denúncia, pondo a fala de um dos lados em segundo plano. Natália Portinari se contradiz dentro do texto da matéria ao dizer que a “produtora-fantasma” tem escritório virtual, sede e filial. Além disso a própria repórter esteve no local onde funciona o grupo, no bairro de Manaíra, em João Pessoa, capital da Paraíba.

“Só com a Mosqueteiros já recebemos o Prêmio Criatividade – a maior premiação da publicidade paraibana – por três vezes e temos cerca de 20 Chapéus de Ouro, sendo cinco com a nossa produtora”, esclarece Maria Dias. A reportagem não consegue esclarecer, contudo, qual suposto benefício teria vindo com os aparentes indícios levantados no texto.

Empresas-fantasma são usadas para fins ilícitos, ganhos econômicos indevidos e desvios patrimoniais. Natália Portinari não consegue constatar a participação da Mosqueteiros Filmes em nenhuma dessas situações. “Impressiona a irresponsabilidade jornalística da matéria. Uma vez que a jornalista esteve presente em uma sede física registrada oficialmente na Junta Comercial e na Receita Federal e ainda assim ousa usar termos como: produtora-fantasma e empresa laranja. A liberdade de expressão não pode ser usada para deliberadamente atacar a honra alheia. Quem a desvirtua pode e deve responder por seus atos nas esferas cível e criminal. Certamente as empresas e pessoas atacadas nessa reportagem tem o direito de buscar as medidas legais pertinentes”, diz o advogado da Mosqueteiros Filmes, André Cabral.

Existem inúmeros documentos que comprovam a legalidade da produtora. Um deles é o contrato de prestação de serviço da Ethos – Serviços Empresariais, empresa especializada em ceder áreas comerciais, funcionando como escritório virtual em Petrolina, onde a repórter disse que não encontrou nada, mas a apuração eliminaria essa dúvida. “Em uma época de grande demanda, fez-se necessário uma ampliação de estrutura. Com a crise, há o enxugamento de custos. Nos últimos anos, fomos obrigados a buscar alternativas. Uma delas é o escritório virtual”, explica Maria Dias. O contrato é datado de 28 de fevereiro de 2018, sete meses antes da “caça jornalística” promovida pela repórter.

Ainda que exista o escritório virtual, a empresa possui uma filial física, localizada na Rua Juvenal Mário da Silva, 981, Manaíra. Por questões logísticas, todos os equipamentos da Mosqueteiros estavam em atividades externas. Os modelos empresariais do século XXI permitem negócios flexíveis. A Uber, maior empresa de transporte privado de passageiros do mundo, não tem um único veículo. A Airbnb, uma das maiores empresas de hospedagem, não possui uma única cama.

Preconceito e erro de apuração

“Muito me espanta o ar de preconceito levantado no texto. A jornalista dedica um momento da reportagem para falar do meu visual, como se fosse algo caricato”, ressalta Lucas Salles. “Além disso, houve discriminação quanto ao tamanho e localização das empresas que prestam serviços em nível nacional”, acrescentou.

A fala de Lucas ganha coro, quando a repórter faz questão de comparar os valores destinados para os mesmos serviços, mas em campanhas diferentes. A reportagem parece querer induzir o leitor a tomar partido. “Ao citar os valores do mesmo trabalho em outras campanhas, Portinari entra em contradição. Afinal, se o trabalho é feito por um valor menor, onde estaria o ilícito?”, questiona Lucas Salles.

Natália cita uma condenação no Tribunal de Contas da União, que teria levado a 9ideia Comunicação a “devolver dinheiro aos cofres públicos”. Apesar disso, o advogado Paulo Gomes, uma das maiores autoridades em Direito da Comunicação no Brasil e advogado da empresa, afirmou que esclareceu o processo para a repórter, mas, segundo ele, ela não teria levado em consideração. “A jornalista errou”, confirmou Gomes.

Em tempos de fake news, a população não pode admitir que o bom jornalismo seja sacrificado em prol de uma patrulha ideológica. Tempos de crise não devem destruir deliberadamente pilares fundamentais da atividade de um repórter, seja ele de qual veículo for. A investigação e denúncias devem ser feitas, mas tudo com extrema responsabilidade, ouvindo os dois lados, dando voz ao contraditório e sempre colocando a verdade em primeiro lugar. Ainda que tenha feito juramento pela imparcialidade na colação de grau ou que tenha compartilhado um texto do jornalista Otavio Frias Filho nas redes sociais em que diz: “Dói que haja alguém para nos atacar”.