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'Imprópria' é arte, faz pensar e deve ser respeitada - Por Ívyna Souto

Temos testemunhado e noticiado uma grande guinada a direita em todo o mundo, o Brasil não fica para trás, seja na política partidária, ou na sociedade, temos vivido tempos difíceis. Debates se transformaram em briga, opiniões geram, hoje, tretas homéricas e até conflitos físicos.

Tudo isso faz parte de um grande movimento que traz consigo um grave retrocesso, seja nos direitos conquistados por trabalhadores, que agora sofrem com as mudanças impostas pelas novas regras votadas e aprovadas pelo Congresso, ou na vida cotidiana, quando vemos tantas pessoas sendo vítimas de preconceito e menosprezo por pessoas que acham que podem meter-se na vida intima de outra.

Falando em não saber discutir de forma civilizada, é que chegamos a polêmica da semana. O compositor e cantor paraibano Chico Limeira tem sido vítima de uma campanha contra a música ‘Imprópria’ que ficou em primeiro lugar no Festival de Música da Paraíba. Não se sabe se a ofensa tão reclamada é mesmo pela letra da canção ou se é pela visibilidade que Chico trouxe ao assunto, que é polêmico, e merece atenção das pessoas daqui e todos os lugares. Vivemos em João Pessoa, trabalhamos na Avenida Epitácio Pessoa, moramos no bairro Ernesto Geisel (Costa e Silva, Valentina de Figueredo…), passamos sempre na Rua Duque de Caxias e frequentamos um bar na Avenida General Osório. Não podemos discordar desses nomes e homenagens? Alguém lembra de um movimento que pede a retirada de homenagens a pessoas ligadas a Ditadura?

Pois então, Chico citou alguns locais com nomes e homenagens que ele julga desnecessárias e sugeriu que esses locais tenham nomes de artistas, plantas, flores ou animais. Por isso, ele tem sido hostilizado por historiador e políticos que pedem que ele mude a letra de sua música (pedem não, exigem). Familiares de políticos paraibanos, que muitas vezes nem conhecem a história do parente “famoso”, vem meter-se na conversa em busca de audiência.

Arte não é feita para ser meramente absorvida, como acontece com ‘músicas relâmpago’ que aparecem e somem em uma semana, sem que as pessoas prestem sequer atenção ao que é dito ou discutam isso. Arte deve ser discutida e pensada, debatida, entendida (ou não); muitas pessoas nunca vão entender a profundidade de uma obra de arte, seja um quadro, uma fotografia, uma música ou um poema. Muitas pessoas preferem eliminar o que lhe incomoda, em vez de buscar entender o motivo do incomodo.

Ninguém lembra das letras do outro Chico, o Buarque, que colocou criticas em suas músicas retratando o período em que vivia? Letras que falam da censura e do preconceito. E as músicas de Raul Seixas? ‘Aluga-se’ nunca foi tão atual.

‘Impropria’ é forte e já tem vida própria, já tem história e traz muita história, fala de personagens que são públicos, que podem ser elogiados e criticados por qualquer paraibano ou brasileiro que quiser. As famílias dos citados podem até achar ruim, historiador e vereadores podem ficar irritados, mas as figuras públicas colocam seu nome para jogo sabendo que podem receber criticas também, ao menos deveriam pensar nisso. Quem não quer críticas, não realiza nada, basta não aparecer, não há críticas nem elogios.

Sempre haverá dois lados, duas versões, duas opiniões (ou mais) sobre algo. Acostumem-se com a democracia e fortaleçam-na.

Tá valendo sim, boy!

https://www.youtube.com/watch?v=LxBxCw-w634

Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Polêmica Paraíba