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Quem diria…O impeachment devolveu o PT à cena política - Por Nonato Guedes

O raciocínio é esboçado pelo deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara Federal e candidato à reeleição

O raciocínio é esboçado pelo deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara Federal e candidato à reeleição: o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff devolveu o Partido dos Trabalhadores à cena política, tanto assim que militantes e dirigentes estão todos engajados com força total na vitória da chapa encabeçada por Fernando Haddad e que tem como vice a deputada gaúcha Manuela D’Avila, do PCdoB. Com Lula preso e sem que o petismo, em princípio, tenha forjado qualquer alternativa para uma emergência, até por causa do culto à personalidade do ex-presidente, caminhava-se para um triste fim de Policarpo Quaresma nas urnas de outubro. Até que…o PT deixasse de brincar de política, encarasse a realidade, com o peso da Lei nas costas de Lula e abandonasse a pantomima de uma chapa tríplex, que não logrou esticar prazos na Justiça Eleitoral, conforme o plano concebido na origem.

Toda a estratégia do PT, de caso pensado, foi no sentido de forçar a barra para que o retrato do ex-presidente e presidiário Luiz Inácio Lula da Silva aparecesse na urna eletrônica, com isto pressionando-se psicologicamente eleitores ainda incrédulos quanto à retomada da perspectiva de poder com que a legenda acenava. A Cúria petista rendeu-se às evidências sobre a inutilidade da tática de empurrar Lula como candidato de qualquer forma, criando-se um perigoso precedente pelo qual, como chegou a ser avaliado em colunas da mídia sulista, o próprio bandido Fernandinho Beira-Mar teria direito à regalia de se candidatar, mesmo com o alentado prontuário que cerca sua ficha.

A verdade é que o PT durante muito tempo brigou com os fatos – e cansou desse exercício que não leva a nada. Quando do impeachment de Dilma Rousseff, tentou-se vender, sobretudo lá fora, que havia sido praticado um golpe no Brasil, embora o processo tenha transcorrido de forma democrática, com amplo direito de defesa assegurado à querelante, ainda por cima premiada com a manutenção dos seus direitos políticos, o que não ocorreu com Fernando Collor de Mello em 1992 no primeiro impeachment da história política brasileira. Dilma está aí, fagueira e serelepe, posando de candidata favorita a uma vaga de senadora por Minas Gerais. A fotografia mostrando-a em campanha desmoraliza o discurso do golpe, mas ao mesmo tempo, com a prisão de Lula, obrigou-se o PT a tentar reatar o elo que havia se perdido com as ruas. Foi, então, que a cúpula resolveu deixar de brincar com fogo e lançar uma chapa para valer, que não sofresse contestação no âmbito judicial. Haddad e Manuela ocupam espaços livremente, desfiando bandeiras vermelhas num esforço para colorir com outras tonalidades a campanha eleitoral em curso.

O lulopetismo enquadrou-se de tal forma às regras do jogo que Lula desistiu de questionar sua prisão, pelo menos por enquanto, e o candidato Fernando Haddad foi adrede instruído a aproveitar o espaço que terá logo mais à noite na TV Globo, no Jornal Nacional, para dar um recado ao mercado, certamente que uma mensagem acauteladora diante dos compromissos de um candidato desconhecido da maioria do eleitorado como o Haddad. Talvez nem precisasse haver o tal recado porque os investidores, no íntimo, sabem que o fiador de Haddad é o próprio Lula, e no Lula todos confiam, como aconteceu nos bons tempos do mensalão e do petrolão. Com Haddad no jogo, a conjuntura se normaliza em termos relativos. O jogo a ser jogado é na urna, com o retrato de Haddad, não com a foto de Lula. Simples, assim.

Nonato Guedes

Fonte: Os Guedes
Créditos: Nonato Guedes