Opinião

O mau exemplo - por Rui Leitão

“Dar o exemplo não é a melhor maneira de influenciar os outros. É a única”. Essa frase do filósofo e médico alemão Albert Schweitzer diz bem da obrigação que tem o líder em oferecer bons exemplos aos seus liderados. Muito mais quando se trata de alguém que exerce as funções de primeiro mandatário da nação.

Lamentavelmente não é isso que estamos testemunhando atualmente em nosso país. O presidente da república tem sido reincidente na oferta de atitudes e declarações consideradas inapropriadas para quem, por dever do cargo que exerce, deveria ter uma postura exemplar para os seus comandados.

É inaceitável a insensibilidade que ele tem demonstrado diante da alarmante crise sanitária que o mundo inteiro está vivenciando com a disseminação do coronavírus, induzindo a população a subestimar os riscos dessa pandemia que já nos ameaça de forma apavorante. O mais estarrecedor é que o “capitão” assume uma posição contrária ao que chefes de estado do mundo inteiro têm adotado.

Nada é mais forte que o exemplo. É muito ruim quando o líder se manifesta despreparado para tempos de paz, de vida construtiva, e age por impulsos irresponsáveis e agressivos, como se fosse um peixe fora d’água. Desconectado com a realidade e o mundo contemporâneo, insiste em contagiar seus comandados com a irresponsabilidade da insensatez e da irreflexão. Fanáticos, em sua cegueira política, costumam encontrar no seu líder o exemplo de comportamento, mesmo que totalmente fora dos padrões de civilidade e de bom senso. Aí reside o perigo. O líder vocacionado para o autoritarismo, consegue impor aos seus admiradores identificação com seu lado patológico de comportamento.

O “mito”, como seus seguidores gostam de chama-lo, ignora ordens de isolamento, participa de manifestações públicas expondo a população à expansão da pandemia, tenta convencer que o mundo está vivendo uma histeria, minimizando, irresponsavelmente, a gravidade do problema sanitário que o mundo inteiro está vivendo. Chegou ao cúmulo de afirmar que “o Brasil estará livre do coronavirus quando um certo número de pessoas for infectado e criar anticorpos”. O mais impressionante é que há quem aplauda declarações como essa.

O presidente brasileiro, nacional-populista de raiz, tem passado dos limites, teimando em não enxergar o óbvio, e brincando com a saúde da população. Torna-se, sem qualquer constrangimento, inimigo do próprio sistema de saúde do país. É recorrente no comportamento que fere a honra, a dignidade e o decoro do cargo, estimulando desobediência às determinações de órgãos técnicos, e pondo em risco seus governados.

Preocupante vermos um chefe de estado comportar-se como voz isolada no mundo, agindo na contramão do que vem sendo feito por todas as nações do planeta no enfrentamento da pandemia do coronavirus. Além de provocar apreensão, essas atitudes causam vergonha.

Fonte: Rui Leitão
Créditos: Rui Leitão