Opinião

O DIREITO DE CHORAR - Por Rui Leitão

O choro é um estado emocional que pode ser provocado, tanto por manifestação de alegria, quanto de tristeza. É uma característica exclusivamente humana. O pranto do sofrimento, no entanto, é resultado da vivência de angústias, decepções, dores, medo, indignação e saudade. Nesses casos o choro é involuntário. Há quem entenda que ao chorar a pessoa demonstra que não tem capacidade para lidar racionalmente com uma situação indesejada. Não concordo com esse ponto de vista. Tem sentimentos que dificilmente podem ser reprimidos ou sufocados. É preciso que eles sejam expressos de forma a acalmar um coração pesaroso.

Tem gente também que costuma censurar o choro e pergunta por quanto tempo o indivíduo vai continuar derramando lágrimas. São pessoas que se incomodam com o choro dos outros, não por uma questão de solidariedade, compaixão, mas porque as deixam irritadas. Geralmente esse é o comportamento de quem não tem sensibilidade, são embrutecidos, não costumam ser alcançados pelo espírito de empatia. São frios por natureza.

O aperto no peito, a sensação de desamparo, a perda de paz interior, são sintomas que inevitavelmente levam o ser humano a verter lágrimas de tristeza e de preocupação. Neste momento ele espera receber o abraço fraterno de apoio, a compreensão do seu sentimento de consternação, a palavra de conforto e de ajuda. O pranto do luto é mais demorado, permanece maltratando os corações por mais tempo, por conta da perda inesperada de alguém que amamos.

Neste período de pandemia a humanidade está passando por essas lamentáveis ocorrências circunstanciais. Então é natural que o choro se apresente como consequência de experiências das dores de perdas, do medo de que a doença nos ataque, da ausência de proteção diante das ameaças do vírus, das incertezas de que seremos capazes de superar a tragédia, etc.

O choro nem sempre mostra-se derramando lágrimas. Muitas vezes ele se evidencia por gritos silenciosos de inquietação, desgosto, aflição, amargura, revolta. Chorar, no sentido de lamentar, cobrar, questionar, reclamar, é um exercício de cidadania. A indignação nos conduz também ao choro.

O machista diz que “homem não chora”. São inaceitáveis códigos culturais impostos como peso da masculinidade, onde ele terá que guardar para si as emoções que podem produzir pranto. Eu não me envergonho de chorar. E tenho chorado muito recentemente. Por vários motivos. Mas principalmente pelos males causados pela pandemia. Reajo com veemência às afirmações de que chorar é “frescura”. Não. Chorar não é atitude de covardia, como alguns tentam classificar. Pelo contrário é um ato de coragem, autenticidade, quando não se submete ao fingimemto de que não está infeliz ou desgostoso com alguma coisa, para não ferir a imagem de masculinidade ou não desagradar os que possam ficar aborrecidos com seu pranto de lamento.

Quero me manter firme na coragem de não esconder meus sentimentos de tristeza, de dor, de medo e de angústia. E vou chorar sempre que tiver vontade. Porém, sem perder o ânimo para vencer as contrariedades, a desesperança e o arbítrio. Não abro mão do meu direito de chorar. Muito mais quando esse choro tem justificativas e se faz necessário até para alívio da alma.

Rui Leitão

Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Polêmica Paraíba