Zennedy afirmou que o jogo estava zerado

O DIA SEGUINTE AO FICO: A dúvida sobre até onde Cartaxo contava com o apoio de Cássio - Por Flávio Lúcio

Os acenos de Luciano Cartaxo para Ricardo Coutinho e João Azevedo são evidentes. Lucélio espera com ansiedade a resposta para retomar o projeto, apenas adiado, de assumir uma cadeira no Senado no próximo ano.

CARTAXO E A “ALTERNATIVA CÁSSIO”

Por Flávio Lúcio

Se o PSDB esperava pela calmaria no dia seguinte após a tempestade, causada pelo anúncio da desistência de Luciano Cartaxo de disputar o governo estadual, frustrou-se.

A ventania, acompanhada de trovoadas, continuou a assolar o terreiro tucano, e o que se viu foram sinais de desorientação vindo dos bicos, hoje mal torneados, das lideranças tucanas. A confusão no reino cassista é grande.

Vereadores campinenses apelaram para o cumprimento do compromisso de Cássio com a candidatura de Romero Rodrigues − enquanto isso, o próprio Romero continua mudo e continua convenientemente “adoentado”.
O deputado federal Rômulo Gouveia, em nome do PSD, afirmou em nota que Luciano Cartaxo “não desistiu de contribuir com a Paraíba.

Ele escolheu, isso sim, concluir o mandato para o qual foi escolhido pela população pessoense” e praticamente lançou Lucélio Cartaxo ao Senado na chapa de… Infelizmente, o gordinho não adiantou.

Hoje, o PSDB se reuniu em João Pessoa. Em entrevista, o senador Cássio Cunha Lima fez questão de lembrar o apoio do PSDB à reeleição de Cartaxo, em 2016, indicando que cobrará reciprocidade de Cartaxo, seguindo o script que adiantamos antes por aqui.

Cássio se prepara para ser candidato, decisão que deve ser tornada pública depois de 7 de abril, quando o quadro de candidaturas estará mais ou menos definido − com a permanência de Romero Rodrigues na PMCG ratificada e, sobretudo, a definição sobre a permanência ou não do governador Ricardo Coutinho no cargo.

Quando isso acontecer, uma estratégia bem delineada se revelará em todos os seus traços.

A estratégia da “alternativa Cássio”

Desde que foi anunciada a composição do PSD de Luciano Cartaxo com o PMDB de José Maranhão, que resultou na indicação do então deputado federal, Manoel Jr., para o cargo de vice-prefeito, um cassista dentro do PMDB, já era possível antever um dos grandes problemas que o prefeito pessoense teria para postular a candidatura a governador.

Nesse sentido, Cartaxo evitou seguir os passos de Ricardo Coutinho, que na disputa de reeleição bancou um vice de sua estrita confiança, mesmo tendo que enfrentar o mau humor e a desconfiança do mesmo PMDB de José Maranhão, que engoliu em seco a decisão de RC.

Em 2016, Cartaxo acabou por preferir a segurança da aliança com o PMDB e ter como companheiro de chapa alguém que, não fazia muito, tinha sido um dos críticos mais ácidos de sua administração.

Manoel Jr. era a “cabeça-de-ponte” de Cássio no território cartaxista, que poderia ter optado por um lance de maior ousadia, como a indicação de alguém como Zennedy Bezerra, seu fiel escudeiro, para a vaga de vice.

Se a aliança com o PMDB facilitou a reeleição de Cartaxo, em 2016, acabou por se constituir no maior óbice para uma decisão que impusesse menos riscos em 2018.

Não bastasse o fato de Cartaxo ser obrigado a renunciar ao cargo de prefeito em benefício de alguém com a trajetória de “lealdade” do peemedebista Manoel Jr. − José Maranhão, Veneziano e Vital do Rego Filho que o digam, − o PMDB acabou por criar o primeiro obstáculo para Cartaxo: José Maranhão anunciou sua candidatura ao governo ainda no primeiro semestre de 2017.

E, o que no começo era encarado como um mero capricho, acabou por se constituir em um dos grandes problemas para as pretensões do prefeito pessoense.

O obstáculo a seguir veio das hostes do próprio PSDB com o anúncio da postulação do prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues. Se o lançamento de José Maranhão era preocupante em razão da dubiedade do discurso do senador quanto ao caráter oposicionista de sua candidatura, a pretensão de Romero Rodrigues era ainda mais, porque ameaçava a estratégica aliança “geopolítica” entre as duas maiores prefeituras do estado, um contraponto à altura para o poderio da máquina estadual.

Além do quê, a postulação de Romero inevitavelmente lançava uma terrível dúvida sobre o real comprometimento da família Cunha Lima com a candidatura de Cartaxo.

Ora, se Cássio apoiava a postulação do prefeito pessoense, como o seu primo e correligionário se lança ao governo e passa a disputar com Cartaxo a condição de candidato da oposição?

A dúvida sobre até onde Cartaxo contava com o apoio de Cássio Cunha Lima certamente passou a assaltar a cabeça do prefeito pessoense. Ou tudo aquilo era jogo de cena? Quem sabe, Cássio não jogava para assumir, no futuro, a condição de um Tertius, simulando uma disputa entre Cartaxo e Romero, com a participação consciente deste último?

O fato é que Luciano Cartaxo se movimentou como candidato até o final do ano passado, provavelmente da mesma forma que Cássio orientou Cícero Lucena fazer, em 2010. Visitou prefeitos e foi a diversas festas de padroeira pelo estado para apresentar a experiência da administração pessoense.

Até mesmo uma convenção tucana foi realizada em João Pessoa − quando o pré-candidato do PSDB era, é e continuará sendo prefeito de Campina Grande − para agradar Cartaxo.

Depois dessa convenção, Romero Rodrigues, enciumado, procurou Maranhão para um acordo cuja intenção era isolar Cartaxo. E Romero começou a engrossar o discurso.

Cartaxo parece ter se dado conta da arapuca porque, sintomaticamente, a partir de dezembro, as viagens de Cartaxo para o interior cessaram, a motivação dos discursos diminuiu claramente e, no final do ano, mesmo sabendo da impossibilidade de ser cumprido, estabeleceu o prazo de 31 de janeiro para a definição do candidato.

Cartaxo prepara a justificativa para pular fora da arapuca.

O prazo dado por Cartaxo foi, claro, solenemente ignorado pelos PSDB. Ao contrário. Os tucanos se reuniram em janeiro na residência da família Toscano e, a invés de uma definição pelo nome de Cartaxo, incensaram ainda mais a candidatura de Romero Rodrigues, mesmo com todos ali sabendo que Romero não sairia da PMCG.

Ao mesmo tempo em que isso acontecia, eram cada vez mais frequentes os movimentos de Cassio, acompanhados agora de declarações de cassistas que passaram a levantar a possibilidade da candidatura do senador tucano ao governo, sobretudo depois que Luciano Cartaxo resolveu demitir os aliados de José Maranhão da Prefeitura de João Pessoa, queimando com isso todas as pontes com o ex-governador.

Quando Cartaxo fechou portas e janelas para um acordo futuro com José Maranhão (a “velha política” da carta?), a decisão da permanência provavelmente já tinha sido tomada.

Os indícios eram evidentes de que Cartaxo não era mais candidato, apesar de alguns jornalistas e blogueiros continuarem a dar como certa sua candidatura ao governo.

Alguns chegaram mesmo a revelar a data do anúncio da desistência de Romero e do apoio do PSDB.

Cartaxo provavelmente já sentia o calor do cozinho, que já estava em fogo alto, quando resolveu pular fora da panela e antecipar o anúncio da desistência. Livre, leve e solto, Cartaxo prepara sua resposta a Cássio e Cia.

A carta de Cartaxo

“Avançarei me distanciando, como sempre, da política antiga – e vencida – que busca colocar os interesses pessoais acima das causas coletivas”

“A mesquinhez do carreirismo não tem lugar ao meu lado, nem será capaz de fazer curvar minha cabeça erguida”.

“Eu não faço política por conveniência. Portanto, procuro transcender o imediatismo.”

Os trechos acima são da carta em que o prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, anunciou a desistência de sua candidatura.

São termos duros que, claro, são dirigidos aos membros da oposição. Não só por isso, mas, em muitos aspectos, os termos utilizados (“política antiga − e vencida”) aproxima Luciano Cartaxo de Ricardo Coutinho.

A entrevista de Zennedy

Se eu tinha alguma dúvida sobre a afirmação acima, tirei todas elas depois que escutei a entrevista do secretário Zennedy Bezerra, concedida hoje ao programa Correio Debate, da 98 FM.

Com todas as letras e sem recorrer a nenhuma dubiedade, Zennedy afirmou que o jogo estava zerado e que o grupo do prefeito não Luciano Cartaxo não tinha mais qualquer compromisso prévio com a oposição. E que iria observar as candidaturas e o programa para tomar uma decisão. Até a de João Azevedo.

Os acenos de Luciano Cartaxo para Ricardo Coutinho e João Azevedo são evidentes. Lucélio espera com ansiedade a resposta para retomar o projeto, apenas adiado, de assumir uma cadeira no Senado no próximo ano.

Se possível, ao lado de Ricardo Coutinho.

Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Flávio Lúcio