Opinião

O ciume político que emerge da aversão aos competentes, à cultura e à ciência - por Rui Galdino

A desconfiança desagrega mentes e desperta o sentimento do ciúme político. Muito mais quando o enciumado tem consciência de suas limitações e conhece bem até onde vai o nível de sua inteligência ou competência.

Na política a competição e a ambição são os principais causadores das crises de ciúme. A defesa aguerrida dos seus espaços deixa, muitas vezes, o político num estado de insegurança. Revela-se o medo de perder sua condição de liderança e passa a enxergar traição em tudo o que atinja o seu poder de comando. A desconfiança desagrega mentes e desperta o sentimento do ciúme político. Muito mais quando o enciumado tem consciência de suas limitações e conhece bem até onde vai o nível de sua inteligência ou competência.

É muito comum vemos governantes insatisfeitos com a popularidade de auxiliares. Aí nasce o ciúme. Se sentem ameaçados por eventuais brilhos de algum integrante de sua equipe de governo. Resolvem então afastar quem esteja assumindo protagonismo político maior do que eles. A ausência de capacidade para o exercício dos cargos a que foram galgados produz um sentimento de insegurança. Por isso, normalmente agem por impulsos emotivos. Não tomam decisões guiadas pelo equilíbrio racional.

Li em algum lugar, que não me lembro onde, nem quem é o autor da frase, que: “o homem que não tiver virtude própria, estará sempre invejando a virtude dos outros”. Sofre a dor pelo sucesso alheio. Então se instala a tribulação política. Não admite que ninguém brilhe mais do que ele. Não sabe conviver com as divergências no seu campo de atuação.

Estamos vivendo a “era do vazio”, onde a ignorância é aplaudida, e o talento e a competência causam manifestações de ciúme político. É evidente o desprezo pelo conhecimento, pela cultura, pela educação, pela ciência, pela inteligência. Os que se destacam por serem brilhantes são descartados e considerados inimigos. O ciúme se alia ao egoísmo e germina o medo. Se apavora com a possibilidade de ser substituído pelos que possam lhe fazer sombra. Daí a necessidade de se acompanharem dos obscurantistas, dos retrógrados, dos subservientes. Tem uma velha expressão da sabedoria popular que diz: “ao ignorante sempre aborrece o sabedor”. O ciúme político se alimenta da ignorância que, segundo o filósofo Sófocles, é um mal invencível.

Fonte: Rui Galdino
Créditos: Rui Galdino