OPINIÃO

A PF não é instituição de Governo e sim de Estado - por Rui Leitão

Nunca escondi que não tenho qualquer admiração pela biografia do agora ex-ministro Moro. Minha opinião sobre ele continua a mesma, um ex juiz partidário e a serviço de interesses ideológicos e antidemocráticos, um embusteiro. Nunca me enganou. Mas, como sempre, usou de sua esperteza circunstancial para permanecer usufruindo ganhos de aprovação popular. Teve a perspicácia de perceber que o navio está afundando. E decidiu pular fora antes do naufrágio.

Parece ser um exímio jogador de xadrez. Sentiu que era a hora de dar um xeque mate. O rei ficou exposto ao lance mortal. Ele não perdeu tempo. Até porque o adversário é carente de inteligência e de percepção do que possa acontecer. Um maluco, sem a mínima consciência do jogo que está jogando. Sem cultura jurídica e intelectual, mostrou que sabe movimentar as pedras no momento certo. Nem sempre a sabedoria se vincula ao nível de conhecimento científico ou cultural que possa ter. Basta ser arguto, astucioso, ardiloso.

O ex ministro foi desenvolto no mexer das pedras no tabuleiro do xadrez. Preservou a popularidade conquistada com a farsa da lava jato e se apresentou como um nome muito viável para a direita nas eleições presidenciais de 2022. Diferentemente do ministro da saúde que saiu prestando homenagens ao presidente que o demitiu, despediu-se fazendo uma “delação premiada”. Como quem diz: “antes ele do que eu”. Pelo menos foi honesto em algumas oportunidades de seu bombástico pronunciamento de anúncio da sua saída do governo. Reconheceu que enquanto esteve à frente da operação Lava Jato, os governos do PT respeitaram a condição de autonomia da PF e do Ministério Público. O ministro Jose Eduardo Cardoso, jamais interferiu nas investigações e sequer passou informações privilegiadas para o presidente da república. Palmas, teve um lampejo de consciência respeitando a honestidade de avaliação.

Considero essa entrevista do ex-ministro como definidora dos próximos caminhos da história nacional. Aguardemos os próximos capítulos. Soube sair de cabeça erguida. Diferentemente do ex ministro da saúde que se retirou do governo de cabeça baixa e homenageando quem estava lhe demitindo. Para ser sincero, eu subestimei a inteligência do ex juiz. Ele é muito mais estrategista do que imaginava. A extrema direita ganhou um potencial candidato à presidência da república. Mas tem um longo caminho a ser percorrido. Vamos ver se será competente para preservar o capital político conquistado habilmente.

Um fato é inquestionável, ele feriu de morte a popularidade do presidente Bolsonaro. Tirou dele a máscara da honestidade que muitos fanaticamente defendiam. O rei ficou nu. Hoje começa uma nova história da república brasileira. Um ponto positivo em tudo isso é que o ex ministro colocou com muita ênfase a necessidade de preservar a consideração da Polícia Federal como uma instituição de Estado e não de governo. Vamos em frente.

Fonte: Rui Leitão
Créditos: Rui Leitão