COMÉRCIO

PRIMEIRA VEZ: OMC nomeia uma mulher como diretora, a nigeriana Okonjo-Iweala

Agora, ficará à frente de uma instituição que, desde sua criação em 1995, foi dirigida por seis homens: três europeus, um neozelandês, um tailandês e um brasileiro.

 

A nigeriana Ngozi Okonjo-Iweala se tornou, nesta segunda-feira (15), a primeira mulher e a primeira africana a chefiar a Organização Mundial do Comércio (OMC), uma instituição quase paralisada.

“Os membros da OMC acabam de decidir nomear a doutora Ngozi Okonjo-Iwela como próxima diretora-geral da OMC. A decisão foi tomada por consenso em uma reunião especial do Conselho Geral da organização hoje”, anunciou a OMC nesta segunda-feira, cerca de quinze minutos depois da abertura do encontro.

“A doutora Okonjo-Iweala se tornará a primeira mulher e a primeira africana à frente da OMC. Assumirá suas funções em 1o de março e seu mandato, renovável, expirará em 31 de agosto de 2025”, acrescentou a organização.

“Uma OMC forte é essencial se quisermos nos recuperar plena e rapidamente da devastação causada pela pandemia de covid-19”, declarou Okonjo-Iweala de 66 anos, após sua nomeação.

“Nossa organização enfrentará inúmeros desafios, mas trabalhando juntos, coletivamente, podemos tornar a OMC mais forte, mais ágil e melhor adaptada às realidades atuais”, acrescentou.

A economista planeja uma coletiva de imprensa às 13h00 (horário de Brasília).

Sua nomeação e o debate prévio dos delegados aconteceram remotamente por causa da pandemia de coronavírus.

Okonjo-Iweala, chamada por alguns de Dra. Ngozi, era a única candidata ainda na disputa graças a um amplo consenso e apoio da União Africana e da União Europeia, assim como dos Estados Unidos.

No final de outubro, o governo do ex-presidente americano Donald Trump, que em quatro anos fez todo o possível para enfraquecer a organização, bloqueou o consenso que se delineava em torno da nigeriana de 66 anos.

Duas vezes ministra das Finanças e chefe da pasta de Relações Exteriores da Nigéria por dois meses, Okonjo-Iweala começou sua carreira no Banco Mundial em 1982, onde trabalhou por 25 anos. Em 2012, não conseguiu se tornar presidente desta instituição financeira e o cargo coube ao americano-coreano Jim Yong Kim.

Agora, ficará à frente de uma instituição que, desde sua criação em 1995, foi dirigida por seis homens: três europeus, um neozelandês, um tailandês e um brasileiro.

Sua carreira acadêmica e profissional é impressionante, mas Dra. Ngozi também tem detratores que a criticam por não ter feito mais para erradicar a corrupção quando esteve à frente das finanças do país mais populoso da África.

Crise existencial

“Mais do que tudo”, dirigir a OMC exige “audácia, coragem”, disse ela àqueles que a consideram carente de conhecimentos técnicos em um ambiente regido por regras bizantinas.

A coragem será, de fato, essencial para tirar a OMC de sua crise quase existencial.

A pandemia expôs todas as fraturas causadas pela liberalização do comércio mundial, desde a dependência excessiva de cadeias produtivas dispersas, até os excessos da realocação industrial ou a fragilidade do tráfego comercial.

Em meados de outubro, Ngozi Okonjo-Iweala disse que queria definir duas prioridades para mostrar que a OMC é indispensável.

Deseja apresentar na próxima conferência ministerial um acordo sobre subsídios à pesca, que está paralisado, para mostrar que a OMC ainda pode produzir avanços multilaterais. E também se propõe a reconstruir o órgão de solução de controvérsias (o tribunal da OMC), que foi torpedeado pelo governo Trump.

Recentemente, pediu à OMC que se concentrasse na pandemia de covid-19. Seus membros estão divididos quanto à conveniência de isentar de direitos de propriedade intelectual os tratamentos e vacinas anticovid para torná-los mais acessíveis.

Muitos países em desenvolvimento são a favor das isenções de patentes. Mas os países ricos acreditam que as regras atuais previstas pelo Acordo da OMC sobre aspectos dos direitos de propriedade intelectual são suficientes.

Fonte: Estado de Minas
Créditos: Polêmica Paraíba