História

Caso dos discos voadores encontrados na Inglaterra completam 50 anos

Os discos de metal emitiam um estranho som. Eram seis deles, que apareceram misteriosamente alinhados em diversas cidades do sul da Inglaterra, há 50 anos.

Os discos de metal emitiam um estranho som. Eram seis deles, que apareceram misteriosamente alinhados em diversas cidades do sul da Inglaterra, há 50 anos.

Durante horas, público, polícia e mesmo o Exército Britânico acreditaram que espaçonaves alienígenas tinham pousado no país – e acionaram planos de emergência para lidar com as chegadas.

Até que um grupo de estudantes de engenharia revelou que se tratava de uma “pegadinha”. Mas como ela foi tão bem-sucedida? Ray Seager fez parte do grupo de crianças que brincava na Ilha de Sheppey naquele 4 de setembro de 1967, quando um dos “discos voadores” foi encontrado nas redondezas.

“Todos corremos para ver. E lá estava ele, o típico disco voador de antigamente, redondo e prateado.” Seager conta que a polícia chegou com apreensão ao local. “Eles pareciam estar com medo e começaram a gesticular para que saíssemos do local.”

De acordo com jornais da época, os seis discos foram levados para estações policiais e mesmo uma base da Força Aérea Britânica. O objeto encontrado em Sheppey, por exemplo, foi removido por um helicóptero militar.

Em Berkshire, nos arredores de Londres, especialistas em satélites foram chamados para examinar um dos discos, que supostamente estava repleto de um misterioso líquido e emitindo sons estranhos.

Enquanto isso, estagiários do centro de pesquisas Royal Aircraft Establishment em Farnborough (RAE na sigla inglesa) observavam como sua “pegadinha” tinha dado certo. O engenheiro Chris Southall conta que o grupo estava determinado a montar uma história convincente.

Fãs de ficção de científica, os estudantes criaram um design que não poderia ser imediatamente reconhecido como humano. Eles criaram moldes de gesso para criar duas “tampas” feitas de plástico de lã de vidro e metal, que eram coladas. No seu interior, colocaram um dispositivo sonoro movido a bateria que era ativado com movimento.

“Se você pusesse os discos de cabeça para baixo, isso acionava o mecanismo. Pusemos os discos no terreno secretamente, no meio da noite. Acionamos o ruído na hora de sair. E fugimos”, conta Southall.

Os discos tinham também em seu interior uma mistura de farinha e água que fermentava e se tornava uma “gosma fedorenta. Queríamos algo que realmente parecesse alienígena”.

Os discos foram colocados em uma linha de costa a costa no Reino Unido, em seis diferentes localidades – Sheppey, Bromley, Ascot, Welford, Chippenham e Clevedon.

Rog Palmer, que também fez parte do comitê de estudantes, conta que a turma se organizou em equipes de duas ou três pessoas para levar os discos para as diferentes localidades. Quando os objetos foram encontrados, já estavam todos de volta à base.

Só não esperavam que a empreitada fosse ser tão bem-sucedida. Southall, hoje com 72 anos e envolvido com ativismo ambiental, conta que a “pegadinha” tinha também um objetivo sério: “achávamos que o governo deveria ter algum plano para o caso de alienígenas realmente aterrissarem na Terra. Demos às autoridades uma chance de testá-lo. Mas elas não tinham um plano.”

Southall conta como os estudantes de engenharia ficaram surpresos ao ver a forma pouco inepta com que a polícia e o Exército lidaram com os discos.

Para o advogado David Clarke, responsável pelos arquivos oficiais do Reino Unido sobre OVNIs (Objetos Voadores Não-Identificados), a resposta das autoridades não foi apropriada.

“Quando os policiais tentaram perfurar um dos discos, que estava cheio da substância de farinha fermentando, este explodiu e espirrou a substância sobre o grupo de policiais. Se fosse algo realmente radioativo, isso teria criado uma área de desastre. Em vez disso, os agentes apenas lavaram a cena, com a água caindo nos bueiros da rua.”

Em 1967, segundo Clarke e Southall, a imaginação do público estava cativada pelos OVNIs e o Ministério da Defesa recebia relatos diários de avistamentos. Ainda assim, os autores da “pegadinha” não esperavam a repercussão, que incluiu relatos mídia estrangeira.

“Foi muito mais do que esperávamos”, afirmou Southall. Ele lembra de dar entrevistas para a TV depois que a “pegadinha” foi revelada. Jornais foram alertados, mas ainda assim publicaram histórias sobre uma invasão alienígena, segundo ele.

Embora relatos da mídia falem em irritação das autoridades, os estudantes responsáveis pelo projeto não foram autuados ou coisa do gênero. “Era uma época diferente, as pessoas tinham um atitude diferente”, conta ele. Southall acredita que hoje os responsáveis por uma “pegadinha” dessas poderiam acabar na cadeia.

Fonte: Bol Notícias