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Rafaela avisou patrocinadores antes de caso de doping 'estourar'

Clube que ela defende desde que começou no judô, o Instituto Reação é um dos cases mais bem sucedidos do país em captação de patrocínios.

Contando com a decisão da PanAm Sports (antiga Odepa) de não divulgar os casos de doping dos Jogos Pan-Americanos até que todas as situações fossem julgadas, o staff de Rafaela Silva teve tempo para amenizar o tombo da judoca campeã olímpica da categoria até 57 quilos. Antes que fosse tornado público o resultado analítico adverso, patrocinadores foram informados do que estava por vir.

Clube que ela defende desde que começou no judô, o Instituto Reação é um dos cases mais bem sucedidos do país em captação de patrocínios. Os “parceiros” da ONG de Flávio Canto são mais de 50, com destaque para BV, Cielo e IBM. Pessoalmente, Rafaela é patrocinada pela PetroRio, enquanto a Confederação Brasileira de Judô (CBJ) tem Bradesco e Cielo.

Na semana passada, ao menos parte desses patrocinadores já havia sido avisada de que Rafaela Silva havia sido flagrada em exame antidoping. A iniciativa teria agradado as empresas, que costumam saber de escândalos assim pela imprensa. Paralelamente, a judoca manteve sua rotina como se nada tivesse acontecido, inclusive participando da ação de um hotel junto com a namorada.

Olhar Olímpico (e boa parte da imprensa brasileira) recebeu pela primeira vez a informação de que Rafaela havia caído no doping ainda no final de agosto. Como Canto revelou em entrevista coletiva, a primeira vez que ele ouviu sobre essa possibilidade foi em uma ligação do blog, no dia 27 de agosto. Nos dias seguintes, COB e CBJ seguiam tratando a notícia como “boato”, enquanto não chegava nenhuma informação oficial.

Pelo novo código antidoping, as entidades não são obrigadas a anunciar casos de doping antes de uma punição ser aplicada. Caio Bonfim, por exemplo, competiu no Mundial de Atletismo, em 2017, já sabendo, ainda por boatos, que estava para estourar um caso de doping dele. O fato só se tornou público em julho de 2018, onze meses depois, quando foi publicada uma suspensão retroativa.

A situação de Rafaela é um pouco diferente porque em algum momento a PanAm precisa divulgar um balanço com todos os casos de doping do Pan e do Parapan. A entidade, porém, aguarda a abertura de todas as contraprovas solicitadas e que se decida quem perde e quem não perde medalhas. É ela quem informa as federações internacionais dos resultados, cabendo a estas decidir por suspensão ou não.

O atletismo, por exemplo, aplicou suspensão provisória em Andressa de Morais, uma semana depois de o Olhar Olímpico confirmar o caso com diversas fontes e publicar o doping em primeira mão. O ciclismo não puniu, ainda, o brasileiro Kacio Freitas, que revelou o resultado positivo em suas redes sociais antes que a imprensa – que já tinha a informação – o fizesse.

Confiando na inocência de Rafaela e sabendo da importância de preservar a imagem dela, pessoas que poderiam confirmar o resultado analítico adverso não o fizeram, o que impediu que a informação fosse publicada. O doping só se tornou público nesta sexta-feira (20), por iniciativa do staff de Rafaela, que decidiu na quinta que faria uma coletiva na tarde seguinte, avisando a imprensa duas horas antes.

Só minutos antes da coletiva é que o Olhar Olímpico foi o primeiro veículo a noticiar que a substância encontrada era o Fenoretol e que ela alegaria que teve contato com a substância ao interagir com uma criança que havia sido medicada. Para a maior parte da imprensa, a informação chegou pela boca de Rafaela Silva, que, assim, passou a controlar a narrativa.

A favor de Rafaela pesa o fato de que a substância proibida encontrada em seu organismo é considerada “não especificada” no código mundial antidoping. Em casos assim, a suspensão preventiva não é obrigatória – ela é analisada caso a caso. Por enquanto, ela não está suspensa, tanto que vai lutar um torneio nacional em Brasília no fim de semana.

Além do apoio expresso de Flávio Canto – e consequentemente do Reação -, Rafaela também tem respaldo da CBJ, que soltou a seguinte nota: “Rafaela é uma das maiores judocas do Brasil, exemplo de superação dentro e fora dos tatames. A CBJ prestará o apoio que lhe cabe e que for necessário para a resolução do caso”. Gestor de alto-rendimento e principal porta-voz do judô, Ney Wilson foi mais claro: “Confio na Rafaela Silva”, postou no Twitter.

O COB, que foi quem indicou a ela a equipe que está cuidando do caso, preferiu não se envolver. “O Comitê Olímpico do Brasil só pode se manifestar sobre casos de doping depois que a autoridade de teste tornar público qualquer caso envolvendo algum atleta brasileiro. A entidade está atenta aos recentes acontecimentos e acredita que, com o devido processo, os atletas envolvidos poderão esclarecer o que aconteceu”, comentou o COB.

Fonte: UOL
Créditos: UOL