MMA

Minotauro visita cinco países e grava série sobre artes marciais

Ex-campeão dos pesos-pesados do UFC e membro do Hall da Fama da organização, Rodrigo Minotauro estreia, em março, no Canal Combate, a série “Viver para Lutar”, que retrata a rotina das principais academias de artes marciais do mundo.

Ex-campeão dos pesos-pesados do UFC e membro do Hall da Fama da organização, Rodrigo Minotauro estreia, em março, no Canal Combate, a série “Viver para Lutar”, que retrata a rotina das principais academias de artes marciais do mundo. Os seis episódios do programa foram gravados no ano passado na Rússia, Japão, Coréia, Tailândia e EUA, e vão abordar a paixão e dedicação desses países a esportes tradicionais como o sambô, caratê, judô, taekwondo, muay thai e wrestling.

Segundo Minotauro, que conversou com a imprensa antes do UFC 209, em Las Vegas, a série vai mostrar as especificidades de cada esporte, abordando também o lado humano e as relações de respeito e de rivalidade dentro de cada modalidade. O brasileiro conversou com a equipe do Combate.com e deu detalhes das gravações. Confira:

Como é finalmente lançar o trabalho depois de passar tanto tempo viajando e gravando?

É muito bonito, depois que você vê o material, a qualidade do trabalho…Foi mostrado também um lado romântico das artes marciais, né? As imagens do caratê, o tipo de treinamento, a técnica, tudo, o lado família, o lado dos lutadores em casa, o lado da luta, o nervosismo, os bastidores, coisa que nunca foi vista.  Os bastidores da Tokai, a maior seleção de judô universitário…ninguém entra lá, nenhuma imprensa, e eles deixaram a gente entrar, acesso livre, falamos com os lutadores antes e depois. Cada cena imperdível. Teve uma cena que me marcou que foi da Tokai ficar em segundo lugar, eles se abraçaram e choraram por meia hora. Isso é coisa de maluco, cara! Eles se olhavam, um parava de chorar e o outro começava de novo. Então o estilo japonês de não aceitar a derrota. A gente viu cada coisa incrível…o John Smith, treinador de wrestling da Oklahoma State University, puxando os garoto pelo protetor de cabeça. Aí tem uma hora que ele puxou o garoto assim e deu uma sacudida e eu perguntei: “A gente pode filmar isso?” e ele: “Mas é claro!”. O cara é bruto (risos).

É diferente visitar todos esses países e ter contato com todas essas artes marciais agora que você já está aposentado? A experiência foi diferente nesse sentido?

Eu fui lá sem essa obrigação de usar a técnica para lutar. Fui para aprender, coloquei a faixa-branca do caratê, do taekwondo. O maior mestre de caratê do Japão, o mestre Higa, ele viu um treino e queria me dar a faixa-preta de caratê, mas eu falei: “Não, mestre, eu tenho que respeitar todas as faixas”. Então foi uma experiência incrível treinar com esses caras, ver os mestres de 90 anos…Eu vi uma senhora lá que é a neta do criador do estilo de caratê kyokushin, então a história total do caratê é uma experiência incrível, né?

Você também teve contato com um lado não tão glamouroso do esporte, como foi o caso do garoto de um dos episódios que acaba morrendo depois de fazer uma luta de muay thai. Como foi essa história?

Quando a gente já tinha voltado da Tailândia, eu fiquei lá, fiquei 20 dias a mais, e o garoto sumiu da academia, voltou para a cidade dele…e assim que eu cheguei no Brasil me deram a notícia da morte dele. É difícil, né? A gente acompanhou o garoto, ficamos seguindo ele uma semana inteira, e era o garoto mais querido de todos. Ele morreu aos 21 anos, no dia do aniversário e o filho dele nasceu um dia antes. Então, tem o lado humano do negócio, são 60 mil lutadores profissionais de muay thai, não tem uma comissão que diz que o cara está machucado e não pode lutar amanhã. Não tem nenhum órgão que cuida disso na Tailândia. O garoto ganhou 200 euros pra fazer aquela luta que ele morreu, então imagina como é que era. Não tem um parâmetro assim. É difícil ver esse lado.

Você também teve contato com todos esses mestres que são considerados lendas em cada um dos esportes. Qual foi o treinador que mais te impressionou?

Todos. O Higa, mestre japonês, pelo conhecimento e por todas as palavras…teve uma coisa que ele me falou que eu guardei. Ser um faixa-preta de caratê não é a técnica, né? É como se fosse um estado de espírito, uma educação que você tem, e ele conseguia ver isso em várias pessoas que nunca tinham lutado. Então, as palavras daquele cara já eram totalmente diferente das do treinador John Smith, que era o treinador de wrestling aqui nos EUA. Ele queria desempenho, rendimento, agilidade, tinha aquela coisa de “a gente não pode perder”. A gente viu vários treinadores diferentes. A amizade dos técnicos japoneses, de parceria, cada um tem seu estilo diferente. O treinador da Tailândia era um paizão, ele tinha 30 garotos em casa. E uma coisa interessante que eu vi na Tailândia é que no norte do pais eles são todos de cor, são morenos assim como eu. Os caras do sul são mais brancos e existe aqui preconceito entre eles. É igual lá no Brasil que a gente tem um certo preconceito com o cara ser nordestino. Só que depois que o Buakaw, aquele campeão do K1 Max, começou a ganhar, eles passaram a olhar o cara diferente. Então, isso mudou o próprio conceito de pessoa da Tailândia através do muay thai. Você vê que todo garoto de pele mais escura na Tailândia quer ser lutador de muay thai. Igual ao brasileiro que queria ser jogador de futebol, para mostrar que é alguém, sabe? Isso também acontece na Tailândia, mas eles querem ser lutadores de muay thai. Então, o muay thai mudou um pouco e isso que o mestre tailandês me falou, que ele pegava esses garotos para ensinar porque não queria que eles fossem discriminados.

E como foi voltar para o Japão para gravar os episódios de karatê e judô? Era muito reconhecido na rua?

Demais. Sempre que eu lutei no Pride, a gente sempre tentou ficar próximo da federação de judô e do karatê, isso era muito importante para o Pride, mas sempre teve essa diferença do que era arte marcial e o que era o MMA. Digo até que era um preconceito contra o MMA, mas a maneira que o “Viver para Lutar” entrou, a gente mostrou para eles como iriamos mostrar a arte marcial e, no final, os campeões olímpicos se reuniram e pediram para darem uma palavra sobre o documentário. Para mim, voltar para lá e ter um contato com os grandes mestres japoneses foi demais.

A sua vinda para Las Vegas é exclusivamente para o lançamento desse programa?

Não, a gente sempre vem em reuniões aqui no escritório de Las Vegas para falar sobre estratégias para o escritório do Brasil. Eu estou ali sempre de frente com os atletas e essa é a função que o Dana White me colocou no Brasil, de estar com eles, sentir, falar com os novos expoentes do esporte, e temos reuniões segunda e terça para falar sobre o UFC Brasil e as expectativas, que são ótimas esse ano. A gente tem a luta do Cigano, Werdum, Bate-Estaca, Demian, Wilson Reis, é uma sequência de brasileiros lutando, temos o UFC Fortaleza essa semana, depois o UFC Rio com o Aldo. Então esse primeiro trimestre fechou muito bem e eu vim falar sobre isso, sobre o desempenho dos lutadores brasileiros. Tivemos uma safra que saiu, outra safra nova que entrou, vamos falar também sobre os matchmakers, porque o Sean Shelby e o Mike, que aliás é muito bom.

Quando estreia o programa no Brasil?

Dia 23 é a coletiva de imprensa e o programa estreia dia 27 de março no Canal Combate. A expectativa é grande pra gente mostrar esse lado. Ele vai ser parte de uma série de documentários que vamos lançar esse ano.

Fonte: Combate