Problemas nas instalações

E-mails revelam que Flamengo soube de problemas elétricos no Ninho do Urubu nove meses antes de incêndio

O Flamengo soube dos problemas nas instalações elétricas do Ninho do Urubu nove meses antes do incêndio que vitimou dez atletas de suas categorias de base, em fevereiro de 2019, iniciado em um aparelho de ar-condicionado. Em troca de e-mails do dia 11 de maio de 2018, obtidos pelo portal “UOL”, responsáveis pela manutenção do CT alertaram ao clube sobre as “não conformidades” das instalações e “suas gravidades”.

Os problemas elétricos foram identificados semanas antes dos e-mails. Então, um técnico de segurança do trabalho do clube foi ao local no dia 10 para realizar uma inspeção e elaborou o relatório enviado ao Flamengo no dia 11.
“A avaliação foi realizada na presença do Sr Adilson, da empresa CBI, este indicado pelo Sr Luiz Humberto [Gerente de Administração do Flamengo], sendo comprovado as não-conformidades e suas gravidades. Conforme a avaliação do Sr Adilson e relatório anterior, a situação é de alta relevância e grande risco, ficando este de apresentar uma proposta ao Sr Luiz Humberto para atendimentos emergenciais de alguns pontos: quadro elétrico (poste ao lado do refeitório), disjuntores e fiação no jardim, quadro elétrico atrás do alojamento da base”, dizia o documento, enviado por Wilson Ferreira, funcionário do departamento pessoal, a Luiz Humberto Costa Tavares, gerente de administração do Flamengo, Roberta Tannure, gerente de recursos humanos, e mais um funcionário, identificado como Douglas Silva Lins de Albuquerque.

 

 

Os e-mails contêm fotos da precariedade das instalações e citam “gambiarras” no quadro de eletricidade dos contêineres.
“As irregularidades abaixo não serão tratadas no momento, pois, conforme informação, o local será demolido e substituído por novas instalações até o final do ano de 2018, deixando claro que caso haja fiscalização e autuação o argumento mesmo que evidente não justifica a irregularidade, ficando a critério do órgão fiscalizador a penalidade ou intervenção”, afirma um trecho.

 

Um dia após receber o e-mail, Luiz Humberto Costa Tavares, gerente de administração, repassou o relatório ao diretor executivo de administração do Ninho do Urubu, Marcelo Helman.
“Boa tarde, Marcelo. O técnico de segurança do trabalho do CRF [Clube de Regatas do Flamengo], em vistoria nas instalações elétricas do CT, verificou vários itens fora da conformidade com as normas de seguranças exigidas. Falamos com o Marcelo Sá, que estava no CT, a respeito dessas instalações (não sabiam se foram feitas pelo patrimônio ou se já vêm de longa data, no esquema ‘faça-de-qualquer-jeito’ que os antigos administradores atuavam). Sá achou por bem solicitar que o Adilson (engenheiro eletricista que fez a instalação elétrica do CT – que você conhece) acompanhasse para verificar a real situação e elaborasse, caso seja necessário, um primeiro orçamento para colocarmos as instalações elétricas em dia. Após o envio desse primeiro orçamento, pediremos outros mais para compor quadro de concorrência. Segue abaixo e-mail enviado pelo técnico a respeito do que encontrou no CT (com fotos). Te manterei atualizado quando o Adilson fizer suas considerações. Grande abraço. Nos falamos melhor na segunda”, disse Humberto.

O orçamento foi feito pela empresa CBI dois dias depois e o valor foi de R$ 8.550,00. A empresa emitiu duas notas fiscais de R$ 4.275,00, datadas em 25 de maio de 2018 e 1º e outubro de 2018, mas nunca chegou a realizar o trabalho. Mesmo após realizar o pagamento e verificar que o serviço não foi realizado, o Flamengo não providenciou novos reparos.

 

 

No dia 8 de fevereiro de 2019, um incêndio atingiu os contêineres que serviam como alojamento para os jovens das categorias de base. Foram dez vítimas fatais: Athila Souza Paixão, Arthur Vinícius de Barros, Bernardo Pisetta, Christian Esmério, Gedson Santos, Jorge Eduardo Santos, Pablo Henrique da Silva, Rykelmo de Souza, Samuel Thomas Rosa e Vitor Isaías.

Fonte: Meia Hora
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