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Corintiana vence câncer de mama no ano da Libertadores e cria projeto de prevenção

Em meio à quimioterapia, torcedora continuou acompanhando a equipe no estádio durante a campanha da conquista do título inédito de 2012

Torcedora fanática do Corinthians, Nátali de Araújo frequenta os jogos da equipe desde pequena, a ponto de não se lembrar em quantas partidas já compareceu para apoiar o time de coração. Uma delas, no entanto, ficou marcada na memória. Mas não pelo fato de o Corinthians ter vencido o São Paulo por 1 a 0 no Paulistão de 2012. Ao chegar em casa após a ida ao Pacaembu para assistir à partida, a torcedora, na época com apenas 26 anos, sentiu um nódulo no seio. Uma semana depois, Nátali descobriu que estava com câncer de mama.

A notícia de um câncer ainda jovem é capaz de abalar o psicológico de qualquer pessoa, mas Nátali buscou forças no amor pelo clube para encarar de frente a doença. Em meio a sessões de quimioterapia, a corintiana continuou frequentando os jogos do Corinthians, incluindo as partidas do título inédito da Libertadores, em 2012. Uma motivação e tanto para a torcedora se manter firme na luta.

– Passei a fazer quimioterapia às segundas. Na terça eu sabia que precisava descansar e me recuperar, porque às quartas eu já estava no estádio para os jogos na Libertadores. Foi isso que me deu forças para lutar, era o que me motivava. Cada vez que o Corinthians ganhava me dava mais força. Me ajudou no momento mais difícil da minha vida. Eu colocava blusa de frio, um lenço e ia ao estádio sozinha. Não importava meu estado físico, ninguém me olhava diferente, nós tínhamos o mesmo objetivo – conta Nátali.

O Corinthians como injeção de ânimo teve o efeito desejado por Nátali. A vitória veio também fora dos gramados, já que a torcedora conseguiu superar a doença, e só não terminou de vez com os medicamentos por precisar parar o tratamento. Após ouvir dos médicos que não poderia ter outro filho, a corintiana descobriu que estava grávida de um menino. O nome escolhido não poderia ser mais pertinente: Vitorio.

– Disseram muitas coisas, inclusive que meu filho poderia ter sequelas ou que o câncer voltaria se eu parasse o tratamento. Optei por ter o bebê. Ele nasceu perfeito, e eu não tive o câncer de novo. Mas continuo tomando um remédio que vou precisar usar durante dez anos – disse Nátali.
Depois de contar com a ajuda do futebol para encarar a luta contra o câncer, Nátali decidiu criar um projeto para que outras mulheres, assim como ela, fossem motivadas pelo futebol na recuperação da doença. Assim, nasceu o “O futebol contra o câncer de mama – Marque esse gol”, que tem como objetivo promover ações de prevenção e conscientização sobre o câncer de mama na comunidade futebolística.
O que me motivou a criar esse projeto foi justamente a vontade de que outras mulheres tivessem no futebol e no amor pelo time a mesma força que eu encontrei. É o meu projeto de vida. Se eu tive que passar por isso, eu tinha que sair de um jeito diferente, não poderia sair igual.

Apoiado pela Federação Paulista de Futebol desde o ano passado, o projeto realiza, há três anos, durante o mês de outubro, mamografias gratuitas na porta de estádios em São Paulo, através da Unidade Móvel do Hospital do Câncer de Patrocínio Dr. José Figueiredo. Também ocorrem ações que levam pacientes para dentro de campo na entrada dos jogadores em partidas de equipes paulistas.
– Ele começou pequeno, hoje estamos no nosso terceiro ano. Se o nódulo for detectado no nosso exame, a paciente já é encaminhada a um hospital parceiro, e também oferecemos apoio psicológico de imediato. O objetivo maior é conscientizar as mulheres sobre o câncer de mama.

Pelos projetos de apoio a mulheres com câncer, Nátali recebeu a Medalha Theodosina Ribeiro no ano passado, uma premiação da Assembleia Legislativa de São Paulo, em reconhecimento ao trabalho de mulheres que impactam positivamente a vida de pessoas pertencentes a grupos vulneráveis da sociedade. A torcedora destaca que o projeto traz uma importante visibilidade à causa.
– Em outubro está todo mundo unido, todos os clubes se juntam pela causa. A gente consegue mobilizá-los para fazerem algo diferente. O Santos, esse ano, fez uma camisa especial para o Outubro Rosa. Nós vamos entrar em campo no clássico entre São Paulo e Santos. Em um esporte ainda tão masculino, estamos conseguindo o nosso espaço.

No último ano, o projeto realizou 777 mamografias gratuitas. A expectativa é que o número seja ainda maior em 2017. Nátali destaca que todo o trabalho é compensado pelo bem que o “Marque esse gol” faz, tanto na questão da prevenção quanto na alegria proporcionada às pacientes que participam da ação.
– Passamos um ano planejando para que o mês de outubro seja um sucesso. A gente vê a felicidade e emoção das meninas entrando em campo, depois de tudo que passaram. Esse projeto é minha vida, é um filho meu.

Sobre o câncer de mama
O câncer de mama é o segundo mais comum em mulheres, atrás do câncer de pele. Os sinais e sintomas da doença podem ser percebidos com a realização do autoexame das mamas. A rapidez da avaliação facilita a detecção precoce da doença.
A Sociedade Brasileira de Mastologia recomenda a realização anual da mamografia a partir dos 40 anos. Já o Instituto Nacional do Câncer (INCA), o Ministério da Saúde e a Organização Mundial de Saúde recomendam o exame a cada dois anos para mulheres de 50 a 69 anos. Para acompanhamento e prevenção, procure sempre a ajuda de um médico.

Fonte: Globo Esporte
Créditos: Jamille Bullé