Aposentadoria

Bob Burnquist comenta aposentadoria dos X-Games

Ele se sente confortável em anunciar a sua aposentadoria da competição, conhecida mundialmente como a Olimpíada dos esportes radicais.

O ano era 1995. Um garoto magrelo e de óculos grossos chegava para a primeira edição dos X-Games. Na época, poucos o conheciam. O evento contava com lendas do skate e do BMX, como Tony Hawk e Matt Hoffman, mas mal sabiam que o atleta que viria a ser o maior ícone da história do campeonato estava logo ali: Bob Burnquist.

Agora, 22 anos se passaram. Estamos em 2017 e aquele garoto, que já conta com 30 medalhas, das quais 15 de ouro, é o único competidor a participar de todas as edições do evento.

Com isso, ele se sente confortável em anunciar a sua aposentadoria da competição, conhecida mundialmente como a Olimpíada dos esportes radicais, pois sabe que deixou uma grande legião de talentos – que se inspiravam nele – para trás.

“Só sinto que depois de todo esse tempo, eu tenho 40 anos, tenho 30 medalhas. Por que eu ainda continuo nisso? São as medalhas?”, questiona.

Com 40 anos de idade, Bob é um dos maiores skatistas do Brasil e do mundo. Foi o primeiro brasileiro a vencer um campeonato internacional e, junto aos na época conhecidos como “Ultra Boys” – Sandro Dias (Mineirinho), Licoln Ueda e Cristiano Mateus -, ajudou a profissionalizar o esporte no país.

Antes tachados como “vagabundos” e “drogados”, os skatistas passaram a ser reconhecidos e ter maiores oportunidades.

“Durante esse (último) evento, eu estava andando de skate e olhando para os lados. Então me dei conta de que o talento ao meu redor era bom o suficiente para fazer com que o evento continuasse nesse nível. Mesmo se eu não estivesse mais lá” explicou, mencionando a nova geração.

Nos X-Games, Bob fez história e, hoje, não é possível pensar no campeonato sem que o seu nome venha à mente. É a mesma coisa que pensar em Fórmula 1 sem Ayrton Senna, surfe sem Kelly Slater ou Wimbledon sem Roger Federer. Ele é um ícone. O maior campeão.

Mas nem só de medalhas vive um skatista. Bob também elevou o skate vertical a um novo patamar, com manobras inovadoras e uma progressão que a modalidade não estava preparada naquela época. Eram aéreos e transições que instigaram cada vez mais fãs e adeptos, tanto do esporte em si, quanto do evento.

“Sabe, isso com certeza não é sobre as medalhas. É claro que é incrível, afinal, estou sentado aqui falando sobre elas. Mas nem tudo é sobre elas” explica o skatista.

“É sobre progressão, interação. É sobre inspirar um ao outro, continuar andando de skate. Não importa se você compete, se é profissional. O que importa é você e o seu skate, crescendo e aprendendo”, finalizou.

Em 2001, ele protagonizou um dos momentos mais marcantes da história do campeonato e que ficaria gravado na sua carreira.

Bob fazia a sua volta final no vertical, mas com uma linha tão perfeita e manobras de alto nível de dificuldade, que o comentarista Tony Hawk perdeu o ar de tanto gritar, e o público foi à loucura. É claro que depois desse feito, ninguém conseguiu ultrapassá-lo e o skatista levou o ouro para casa.

Junto ao norte-americano Danny Way, o brasileiro também foi um dos pioneiros no skate big-air, fazendo da MegaRampa um estilo e a popularizando nos campeonatos. Essa modalidade consiste em se lançar de uma rampa de cerca de 105 metros de extensão, realizando manobras aéreas em uma velocidade que chega a 70 km/h.

Em 2015, ele ganhou a sua décima e última medalha na MegaRampa, nos X-Games de Austin, no Texas. No ano seguinte, por conta do vento forte, a competição precisou ser cancelada e, em uma tentativa de descer a pista, Bob sofreu uma queda perigosa. Segundo ele, foi isso que o fez pensar em terminar o seu ciclo.

“Eu acho que no ano passado, depois de todo o risco, passei a me questionar: o que eu estou fazendo aqui? Quantas vezes eu ainda preciso me provar? Por que estou tentando conseguir mais uma medalha? São 31, 32 e depois o quê?” disse o atleta.

“Neste momento, senti que já estava completo. Quero começar uma nova fase. Eu não vou parar de competir, eu não estou me aposentando. Para mim, no skateboard não existe isso. Mas quando falamos de X-Games e meu histórico competitivo, acabou. E tudo bem”, completou, em lágrimas.

Fonte: ESPN