entrou com processo

Após 3 anos, trans do vôlei de praia é vetada e obrigada a jogar com homens

Depois que realizou a transição do gênero masculino para o feminino, Carol Lissarassa atuou em diversos campeonatos de vôlei de praia na categoria das mulheres há três anos. Mas desta vez foi diferente. No final de fevereiro, a atleta transexual foi, pela primeira vez, vetada de um torneio e se viu obrigada a participar da competição entre os homens.

Aos 27 anos de idade, Carol ainda está com um processo na justiça pela mudança de gênero em sua certidão de nascimento. Enquanto isso, ela carrega uma identidade social fornecida pela Secretaria de Segurança Pública do Rio Grande do Sul com seu novo nome. Tal documento a permitiu participar de competições de vôlei de praia na categoria feminina, inclusive do torneio em que foi vetada.

O campeonato em questão era a etapa de Cruz Alta do Circuito Verão Sesc de Esportes. No ano passado, Carol foi vice-campeã na categoria feminina e resolveu se inscrever novamente em 2018. Apesar disso, a organização não aceitou a documentação da atleta trans.

“Em 2017, eu disputei e fui vice-campeã, não teve nada. Depois de toda a repercussão que teve com o meu nome na Copa Juliana (em que Carol fez parceria com a campeã Juliana) e após o caso Tifanny ficaram com uma resistência maior. Já tinha feito e até pago minha inscrição, mas só na véspera eles me ligaram informando que eu não poderia participar nesse ano, que eu teria que jogar no masculino, se quisesse”, explicou Carol em entrevista ao UOL Esporte.

Carol, então, jogou no masculino com o parceiro Helio Lucena, mas enfrentou dificuldades tanto socialmente quanto fisicamente. A única de biquíni, a atleta não conseguia efetuar muitos ataques por causa da altura da rede e ganhou apenas alguns jogos.

“Fui no masculino como forma de protesto para dizer que eu não vou parar de jogar. Em todo o campeonato, eu lembro de ter atacado uma ou duas bolas, porque a rede é muito alta e eu não tenho a mesma propulsão. Conseguimos levar na tática, estratégia e habilidade, porque ataque foi complicado”, contou a atleta, que tentou, com sua advogada, reverter a situação antes do início do torneio.

“Não teve jeito. Na minha certidão de nascimento, ainda consta o masculino, e eu tenho um documento de identidade com meu nome feminino vinculado ao número do registro civil. Mas eles falaram que o problema era que na certidão de nascimento ainda estava o masculino”, acrescentou Carol.

Procurado pela reportagem do UOL Esporte, o Sesc declarou que apenas cumpriu o regulamento previsto pela competição. Quanto à participação de Carol na categoria feminina no ano de 2017, a entidade reconheceu que houve um erro no momento de checar a documentação da atleta.

O regulamento do torneio não tem qualquer tipo de especificação em casos de atletas transexuais. Para a participação, é preciso apresentar a carteira de identidade ou carteira de motorista ou passaporte ou carteira de trabalho ou cartão do Sesc.

“Foi muito constrangedor. Jogar no masculino foi ruim, o meu uniforme era biquíni, eu não pude ser quem eu sou”, finalizou Carol.

Fonte: Uol
Créditos: Uol