Segredos do prazer

USAR VIBRADOR É PECADO?! sexólogas cristãs dizem que Deus criou o clitóris e querem levar fiéis ao clímax

Noventa por cento das mulheres que chegam ao consultório da sexóloga evangélica Rafaella Santos têm problemas para gozar durante a relação sexual com o marido. “A primeira coisa que faço é tentar desconstruir o pensamento de que porque ela é crente ela não pode sentir prazer”, conta a terapeuta goiana de 37 anos, frequentadora da igreja Assembleia de Deus.

Ela começou a estudar o tema porque não tinha uma boa vida sexual com o parceiro, diz. “Quando me dei conta de que o prazer também foi criado por Deus, decidi que tinha de fazer minha cama tremer. Parei de fingir orgasmos, abri o jogo com meu marido e passamos a reconstruir o prazer juntos.”

Foi a partir daí que Rafaella começou a se especializar na área. Hoje ela atua como sexóloga e já chegou até a criar um curso de exercícios íntimos (pompoarismo) para a mulher cristã. “Digo que sou casada e feliz há 12 anos; agora, casada, feliz e com prazer há seis”, compartilha.

Rafaella não é a única cristã que atua como sexóloga e tenta desconstruir estereótipos religiosos acerca do tema. Assim como ela, outras profissionais também defendem que, sim, o prazer é um presente divino —e mais mulheres deviam se aproveitar dele, desde que algumas normas sejam seguidas.

 

Usar vibrador é pecado?
“Minha missão é ajudar as mulheres a se amarem, amarem seu corpo e a desfrutar da sexualidade de forma plena, como Deus idealizou”, diz Eidiomara Carvalho, sexóloga cristã.
Uma das perguntas mais constantes que a sexóloga paraense e terapeuta pélvica Eidiomara Carvalho, de 39 anos, recebe de suas pacientes é quanto ao uso do vibrador. “Elas têm dúvidas se é pecado, ou não, usar sex toys”, explica Eidiomara.

Este é um ponto de divergência entre os profissionais. Para algumas sexólogas cristãs, se o brinquedinho for usado com o marido, não tem problema; para outras, sim, o aparelho é problemático porque pode condicionar a mulher a sentir um tipo específico de prazer —o que a impediria de chegar ao orgasmo com o companheiro.

O que é unânime entre todas as sexólogas cristãs é que o prazer não pode ser sentido de forma individual —ou, como elas falam, “de uma forma egoísta”. ” Quando a pessoa se masturba, ela está canalizando seus desejos para si. O que nós, cristãos, acreditamos é que o sexo foi criado para celebrar a bênção do casamento”, diz Eidiomara, que segue os princípios da Igreja Adventista do Sétimo Dia.

Rafaella Santos também é contra o uso de vibradores. “Se a mulher não tem prazer com o marido dela, ela não precisa introduzir um sex toy no canal vaginal, ela precisa ensinar o marido a fazê-la gozar”, argumenta a sexóloga goiana. “Por isso é importante que a fiel se conheça, a autonomia sexual dela é importante para uma sexualidade saudável.”

Autoconhecimento sim, masturbação não

Apesar de defender a importância da autonomia sexual, Rafaella é contra a masturbação. “Hoje em dia a ideia de que a masturbação promove o autoconhecimento está sendo amplamente difundida, mas eu não acredito nisso. Acho que, sim, a mulher precisa pegar um espelho para se conhecer, mas sem se tocar —o toque só pode acontecer com a mão do marido.”

Com a intenção de aumentar o prazer sexual sem, para isso, usar brinquedos eróticos, masturbação, pornografia ou fantasia erótica, Rafaella apostou na criação de um curso de exercícios íntimos. “Meu marido tinha ejaculação precoce, foi só com a realização desses exercícios que ele melhorou”, avalia.

Toda mulher precisa fazer exercício íntimo —tanto as casadas quantos as solteiras. Melhora 80% a resposta sexual.

Já a sexóloga Aline Calister, 38 anos, fiel da Igreja Apostólica Profética da Graça, tem uma visão diferente sobre o uso de vibradores (inclusive, o mercado de sex shops evangélicos está em plena expansão e nós já falamos sobre o assunto em Universa). “Se o casal está de comum acordo em relação ao assunto, sente paz no coração, por que não?”, defende.

Para ela, esta é a resposta para diversas questões polêmicas que surgem entre casais evangélicos, entre elas frequentar motéis, praticar sexo anal ou ter fantasias sexuais. Aline, aliás, encontrou uma saída para que um casal evangélico possa ter seus sonhos eróticos sem considerar isso um pecado: “Biblicamente nós achamos que o pensamento tem poder; portanto, você pode cometer adultério só com o pensamento. O que eu recomendo é que os casais tenham a mesma fantasia, sem a participação de uma terceira pessoa. Além disso, oriento que os casais escrevam contos eróticos juntos”.

‘Carícias’ orais estão na Bíblia
As sexólogas cristãs defendem que o prazer está na Bíblia. “Deus fala sobre sexo oral, ou melhor —carícias orais—, no Livro de Cantares. Assim como ele criou nossa mão, nosso cérebro, ele também criou o clitóris, órgão feminino com a única função de proporcionar prazer. Nosso corpo é todo erógeno”, opina a terapeuta pélvica Eidiomara Carvalho.

A Bíblia não é um manual de regras, mas sim de amor. Deus nos ama tanto que ele deixou um manual para que nos cuidássemos

Eidiomara Carvalho

Na opinião de Aline Calister, ainda hoje muitos casais evangélicos enxergam o sexo apenas com o intuito de reprodução. “O prazer foi feito por Deus para ser sentido, vivido. A mulher tem que ter autonomia cristã, encarar isso e entregar-se ao orgasmo. Infelizmente ainda hoje estamos acostumadas a ser submissa às necessidades masculinas e esquecemos de olhar para o nosso próprio prazer —isso tem que mudar”.

Fonte: universa
Créditos: Polêmica Paraíba