profissão ou promiscuidade?

POR TRÁS DAS CÂMERAS: como é a vida dos atores pornô no Brasil?

É difícil falar sobre sexo sem mencionar, eventualmente, pornografia. É por meio dos vídeos eróticos que muitas pessoas começam a educação sexual. Mas nos bastidores acontecem mais coisas do que as imagens revelam, e os atores são os grandes responsáveis por fazer todo mundo gozar no final.

Por isso, a coluna conversou com três profissionais do ramo, entre atuantes e que já deixaram o segmento, para entender melhor a profissão e os bastidores do mercado pornô.

Ex-empresária do ramo de entretenimento, Mia Linz começou na indústria pornográfica há quase dois anos. “Eu tinha uma rotina muito estressante, até que resolvi vender tudo e fazer outra coisa. Como eu gostava muito de sexo e sempre recebia mensagens de empresas para fazer eventos, resolvi testar. Foi uma cena tranquila, mas fiquei muito excitada e vi que o exibicionismo era minha praia. Decidi que queria isso para minha vida. Mas antes falei com minha família e eles me apoiaram”, revela.

Minha parte favorita do pornô é mostrar do que eu sou capaz e me empoderar como mulher. Quando a gente goza, se liberta. O pornô foi um escape para mim. Eu era deprimida, estressada e me preocupava muito com a imagem que a sociedade tinha de mim. Depois me libertei disso. Vivo como eu quero e sou mais feliz.
Mia Linz

Já Nego Catra trabalhava como bancário até receber convite para fazer uma audição para um filme erótico, em 2014. “Claro que eu aceitei. É o sonho de muitos homens sair com aquelas mulheres. Mas meu interesse não era só ser ator pornô, era falar sobre a indústria, desenvolver alguma coisa. Comecei a gravar, mas não sabia que a carreira ia dar tão certo. Acabei largando o banco para investir no segmento e ganhei prêmios, como Melhor Ator Hétero no prêmio Sexy Hot”, compartilha Catra, que atualmente conta com o apoio familiar, mas se divorciou quando entrou para a indústria pornográfica. “As parceiras sentem muitos ciúmes.”

A vida no set
Catra estima que grava de dois a quatro filmes por semana. “Passamos o dia inteiro gravando, dependendo da proposta. As produções com história e texto são similares a uma novela. Algumas cenas são feitas em uma hora. Ao voltar para casa, eu sou um homem tranquilo, com vida normal. Sou um ator igual ao de emissoras populares. A única diferença é que entrego sexo explícito”, defende.

Ele ainda opina que hoje em dia as produtoras pornô estão apostando mais em enredos e menos em sexo. “Isso é um um novo foco, que visa chegar ao público feminino, e acho a mudança positiva. O pornô era muito machista, com muita grosseria. Acho legal colocar o feminismo em alta, com a mulher curtindo tudo o que merece”, avalia. “Na indústria pornô a gente preza muito pela atriz. Se ela não estiver bem, a gente não grava. Há respeito”, completa.

Mia confirma que é tratada com dignidade pelos colegas. “Nunca me relacionei com nenhum ator fora das câmeras. Até porque eu sempre deixei bem claro que eu estava ali profissionalmente. O trabalho também não interfere nos meus envolvimentos íntimos. As pessoas acham que é bagunça depois das gravações, mas não é assim”, garante. Ela diz que costuma gravar duas vezes por mês no Brasil e diariamente quando atua no exterior.

A atriz afirma que não dá para se sustentar no país apenas com o pornô e reclama da falta de estrutura. “Minha principal renda vem de trabalhos como camgirl. O pornô é um momento de empoderamento. Faço quando quero me satisfazer. Os cachês são bem ruins”, aponta.

Nem tudo é gozo
Aposentada da indústria pornográfica há cerca de três anos, Vanessa Danieli (nome real da pornstar Bárbara Costa) revela que, para ela, a realidade não foi tão divertida quanto parece. “Quando eu entrei, não tinha nenhum entendimento sobre empoderamento feminino e respeito. Achava comum as pessoas me tratarem como lixo. Preferi o pornô a me prostituir”, confidencia.

Com um histórico conturbado, a jovem sofreu um abuso sexual aos 5 anos, estupro aos 15, quando perdeu a virgindade, e um relacionamento abusivo ao longo de três anos. Ela lembra que dava preferência para atuar com outras mulheres porque “sabia que não ia sair chorando e machucada”.

“Muitos jovens se educam através do pornô, mas ele não corresponde à realidade. Até o gozo é falso. Fazem com água e maisena. É muito distorcido, mas as pessoas veem e acreditam. Sempre tem uma pessoa que passa lubrificante nas partes íntimas quando o foco está em outro lugar, e isso faz parecer que a mulher está sempre lubrificada. A maioria dos homens toma remédio ou injeção para manter o pênis ereto. Já vi cara desmaiar e passar muito mal porque exagera. É tudo falso e feito pensando em dinheiro”, diz Vanessa.

Divulgação

Pornô = educação sexual?
Questionado sobre a relevância do filme pornô na atualidade, Catra defende ser necessário acabar com o preconceito sobre o gênero. “Todo mundo vê e existem vários tipos. O gênero não está ali para prejudicar, e sim para ajudar. Com ele, você pode até apimentar relacionamento. As pessoas julgam muito”, opina.

Já Vanessa acredita que o pornô não deve ser usado como forma de educação sexual. “O jovem é imaturo e tudo que importa para ele é gozar. Independentemente de com quem, onde ou quantas vezes. Acredito que o pornô faz com que o homem não se importe com a mulher”, pontua.

Fonte: Metropoles
Créditos: TATYANE MENDES