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'POPSTORA': Baby do Brasil prega liberdade de cores mas critica feminismo radical

Ela fugiu da casa dos pais em Niterói aos 17 anos e foi para Salvador, onde conheceu Luiz Galvão, Paulinho Boca de Cantor e Moraes Moreira, formando os Novos Baianos.

Baby do Brasil surgiu na cena musical nos anos 70, auge da ditadura militar. Ela fugiu da casa dos pais em Niterói aos 17 anos e foi para Salvador, onde conheceu Luiz Galvão, Paulinho Boca de Cantor e Moraes Moreira, formando os Novos Baianos.

“Não nasci na época em que eu seria aceita do jeito que era. Hoje, estou vivendo no futuro, que me aceita com a roupa, com o cabelo e fala: ‘Olha que barato como ela já era assim.'”

Empoderada desde o tempo em que essa palavra não era empregada, a cantora falou em entrevista sobre aborto, o novo feminismo, preconceito religioso, onda de conservadorismo no mundo e, claro, música.

“Sou feminina, mas pego na enxada, se precisar. Sou feminina, mas mudo a casa inteira de lugar sozinha, levanto todos os móveis. Não vou depender de nada. Mas entendo a coisa mais deliciosa que é a musculatura masculina. Como ela é forte, como ela ajuda.”

Hoje a pastora, ou “popstora”, como ela mesma define, mudou sua forma de olhar o mundo, sem deixar de lado o legado musical dos Novos Baianos. “Nós não tivemos essa consciência do movimento hippie, nem nada do político. O que a gente queria era fazer música”, afirma.

A religião não interferiu na liberdade com que usa e abusa das cores. “Amo homem de gravata rosa. Imagina, camisa rosa ou uma roupa muito louca rosa”, diz após ser questionada sobre a polêmica frase da ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, de que “meninos vestem e meninas, rosa”.

Baby diz inclusive pregar com seus looks extravagantes. “Rompi no meu meio pastoral apostólico essa questão da vestimenta. Essa relação tem que ser meio amorosa, mas com pulso firme de que as cores estão aí para a gente usar.”

Aos 67 anos, Baby encara um novo desafio. A cantora participa do musical 70? Doc Musical – Década do Divino Maravilhoso em cartaz no Theatro Net Rio, em Copacabana. É a primeira vez que ela faz teatro, onde recebeu a reportagem em seu camarim.

“A década de 70 foi a mais criativa de todos os tempos. A arte explodiu em todas as áreas. O mundo inteiro esperava construir a paz e o amor. Apesar de a gente ver o mundo hoje tão diferente do que os anos 70 sonhou, a gente ainda tem essa fé”, afirma.

Feminismo e aborto

Mãe de seis filhos e desde a adolescência dona do seu destino, Baby se tornou a voz feminina de uma banda composta por homens. Por si só, sua trajetória pode ser vista como um exemplo prático de feminismo e empoderamento feminino.

A cantora entretanto faz ressalvas ao que chamou de feminismo radical. “O feminismo, quando vira aquele ismo do radicalismo, perde a beleza, perde toda a graça. Nós somos iguais, porém mulher é outra planta.” Ela contudo não deu exemplos do que considera “feminismo radical”.

Baby sublinhou o que vê como diferença entre o masculino e o feminino. “Sou feminina, mas mudo a casa inteira de lugar sozinha, levanto todos os móveis, saio rodando. Não vou depender de nada. Mas entendo a coisa mais deliciosa que é a musculatura masculina. Como ela é forte, como ela ajuda.”

Para ilustrar a singularidade dos sexos, buscou um exemplo em sociedades primitivas. “Toda organização do mundo é feita por uma mulher. Me lembro dos livros da Rose Marie Muraro [feminista e escritora brasileira]. Se o homem não ficasse nas tribos e as mulheres saíssem pra caçar, quando ele voltasse, elas estariam todas mortas. A outra tribo mataria todo mundo pela força do braço.”

Na contramão de correntes evangélicas mais conservadoras, Baby se mostra solidária a mulheres que optam pelo aborto.

“A princípio, parte-se da premissa de não fazer. Tem que tomar cuidado, que precisa estar com muita concordância espiritual. O que é muito difícil. Graças a Deus, nunca me vi em uma situação dessas. Entendo com muita dificuldade e vejo isso com muito sentimento de misericórdia pelas mulheres. É muito delicado. Vai a Deus, ore antes e fale: ‘Por favor, eu preciso tirar isso.'”

Fonte: UOL
Créditos: UOL