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Katy Perry expõe lado atormentado e choroso em melhor álbum desde 2010

G1 ouviu disco da cantora que desconstrói imagem de popstar 'palhaça' com letras sobre sofrimento. Ele começa dance pop, mas tem riffs colantes, grooves e baladas

Katy Perry é uma palhaça triste não só nas fotos de “Smile”, sexto álbum dela (ouça um faixa a faixa no podcast acima). O mundo colorido da cantora californiana de 35 anos já foi desconstruído em baladas emotivas e no documentário “Part of Me”, mas agora ganha um álbum feito com essa intenção.

“Smile” dá conta de mostrar o lado atormentado da pessoa por trás das perucas coloridas, do sutiã de cupcake ou dos looks de pin-up, rainha da selva ou Cleópatra.

No palco e na maioria dos álbuns anteriores, Katy fez fama por ser uma das popstars que menos se leva a sério. Nas 12 músicas e 36 minutos deste álbum, porém, a ideia é deixar essa faceta “garota pateta da turma” definitivamente de lado.

A ideia de cantar um pop consciente e sem hits fáceis, em “Witness”, álbum anterior de 2017, aparece um pouco mais desenvolvida em “Smile”. Em vez de criticar o que está em volta dela, Katy olha para si mesma. E relata o sofrimento decorrente disso.

Ainda é difícil encontrar um refrão óbvio e colante, mas por trás das letras intensas dá para achar arranjos que remetem a eras anteriores de Katy. Tempos mais leves e divertidos.

Em “Teenage Dream”, Katy encontrou 14 maneiras diferentes de fazer referência ao sexo. Em “Smile”, os temas mais recorrente são o choro, o desabafo e a busca por redenção.

Leia abaixo o faixa a faixa de ‘Smile’, da Katy Perry, ou ouça no podcast acima.

‘Never Really Over’

Lançada em maio de 2019, a faixa de abertura versa sobre o tema mais discutido na música pop de hoje: a saúde mental. Em típico pop ansioso com produção do DJ russo Zedd (do hit “The Middle” e de várias parceiras), Katy fala sobre a dificuldade de deixar algo de lado. O refrão resume um fluxo de pensamentos que não cessa. Ele vai sendo cantando cada vez mais e mais rápido, mostrando a sensação de encadear memórias ruins. É o melhor single de Katy desde “Roar”.
‘Cry About It Later’

É a primeira da dobradinha que mostra uma Katy dançando e chorando, ao mesmo tempo. Esta é mais robótica, com menos suingue e solo de guitarra meio glam metal que faz lembrar um pouco a influência metal farofa dela, já ouvida no bom lado B “Hummingbird Heartbeat”.
‘Teary Eyes’

É mais um emo dance pop, porém mais cadenciado. Começa com vocais e teclados suave, mas dá uma ligeira estourada no refrão. “Só continue dançando com olhos lacrimejantes”.

‘Daisies’

Foi a segunda música do álbum a ganhar clipe. Ela é uma espécie de transição: de temas (Katy emotiva e debilitada para Katy plena, autocentrada, resiliente) e de arranjos (do eletrônico ao mais orgânico). Ela diz que vai ser sempre chamada de doida, mas não vai mudar por causa disso nunca, nem quando estiver coberta de flores (ou seja, morta). Katy canta com muita vontade, em uma das melhores performances vocais em anos, como se a carreira dependesse do sucesso dessa música.
‘Resilient’

Faz par com a música anterior. A produção é do duo norueguês Stargate, parceiros de Katy em “Firework”. “Resilient” é uma versão mais madura e menos histriônica desse megahit. A dupla é conhecida pela produção mais limpa, com arranjos orquestrados e menos camadas do que as do pop atual. O Stargate já chegou quatro vezes ao primeiro lugar nas paradas dos EUA com esse pop minimalista: “So Sick” (Ne-Yo), “Irreplaceable” (Beyoncé), “Diamonds” (Rihanna) e, claro, “Firework”.
‘Not the End of the World’

“Não perca as esperanças”, “Não é o fim do mundo” e “Isso é só o começo” são três dos mantras cantados por Katy nesta música com clima de autoajuda pop eletrônica. Está entre as menos inspiradas do álbum.

‘Smile’

A faixa-título tem nove compositores e realmente parece ter dado trabalho. São várias músicas em uma, com camadas de batidas e de vocais processados. Está entre as mais espevitadas e leves do álbum, mas o arranjo mais pra cima disfarça uma letra nada leve. Ela canta sobre se sentir em um “dia da marmota”, com sentimentos fakes, muita decepção e (mais) choro. “Cada lágrima foi uma lição”.
‘Champagne Problems’

Um groove anuncia que o sorriso da música anterior virou uma festa a dois. “Houve um tempo em que a gente poderia ter desistido, mas depois de tanto trabalho sujo, nos tornamos uma versão melhor”, celebra a cantora. “Nós dois sabemos que o pior já passou, me traz para perto de você e nos sirva. Tudo o que temos agora são problemas com champanhe”.
‘Tucked’

Palmas, riff de guitarra colante e baixo bem marcado anunciam uma letra que é uma versão good vibe de “Never Really Over”. Estar com alguém ou algo sempre na cabeça era como uma maldição. Agora, é uma benção. “Você está onde eu quiser, eu te mantenho dobradinho na minha cabeça, para que eu te ache toda hora que eu quiser”. Tem um “nanana” colante que lembra do frescor de “Can’t Get You Out of My Head”, da Kylie Minogue, mas sem plagiá-lo.
‘Harleys In Hawaii’

“Harleys in Hawaii” foi feita com ajuda de Charlie Puth (pianista conhecido por “Attention” e “See you again”). É uma música praiana-urbana, sobre uma viagem romântica para o Havaí, com passeios de moto acompanhada do marido, o ator Orlando Bloom. No fim, gritos acabam com a suavidade do arranjo.
‘Only Love’

É uma balada com algo soul, feita com ajuda da cantora e pianista inglesa Frances, uma aposta para conquistar fãs de Adele e Sam Smith que ainda não vingou. A letra é introspectiva e dispensa as metáforas comuns no cancioneiro de Katy. A letra especula como seria “o último dia viva”. Tem os versos mais atormentados do álbum. “86400 segundos em um dia. A maioria deles tem sido um desperdício.” “Oh meu Deus, quanto tempo gastei dentro da minha própria cabeça.”
‘What Makes A Woman’

Após a letra direta da música anterior, Katy volta às metáforas tão usadas em suas baladas (sacolas voando, caminhada em uma tempestade, fogos de artifício, bala com recheio surpresa). Ela fala que precisa de “Funny tissues for my issues” (lenços engraçadinhos para meus problemas) e “band-aids para o coração”. “É meu corte de cabelo ou deixo de usar maquiagem? Eu me sinto mais bonita fazendo qualquer m… que que eu queira”, canta ela. “É o jeito que eu falo docemente ou o jeito que a minha pele é macia ou como eu posso ser uma vadia, fazendo você manter seus dedos cruzados.”

 

Fonte: G1
Créditos: G1