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'Judas e o Messias Negro' trata de questões raciais com impacto e vigor

Filme produzido pelo diretor de 'Pantera Negra' impressiona pela ótima direção de Shaka King e pela trilha sonora. Daniel Kaluuya, de 'Corra!', é o destaque do elenco como Fred Hampton

Temas como representatividade, racismo e desigualdades sociais foram amplificados pelo movimento Black Lives Matter.

Por isso, um filme como “Judas e o Messias Negro” se torna ainda mais relevante para levar o público a refletir, mesmo com uma história ambientada no final da década de 1960. A estreia nos cinemas brasileiros é nesta quinta-feira (25).

Dirigido por Shaka King, estreante na direção de longas para um grande estúdio, o filme mostra como o jovem ativista Fred Hampton (Daniel Kaluuya, de “Corra!”) ascendeu no movimento Panteras Negras, em 1969. Ele chegou a se tornar o líder do grupo no estado de Illinois.

Os atos dele acabaram chamando a atenção de J. Edgar Hoover (Martin Sheen, de “Os Infiltrados”, com uma estranha maquiagem). O chefão do FBI resolve acabar com a “ameaça” que Hampton representa.

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Assim, o agente Roy Mitchell (Jesse Plemons, de “Vice”) resolve transformar o ladrão de carros William O’Neal (LaKeith Stanfield, de “Corra!”) em seu informante. Ele é colocado dentro dos Panteras Negras para ficar de olho em Hampton e repassar informações sobre ele.

O’Neal começa a entrar em conflito ao perceber que está simpatizando com Hampton e se envolvendo mais do que gostaria com a causa dos manifestantes. Mas ele sabe que, se não fizer o que mandam, ele pode acabar atrás das grades.

Inspirado em uma história real, “Judas e o Messias Negro” mantém um clima de tensão. O diretor, também roteirista ao lado de Will Berson, se mostra seguro na condução da trama. Ele bota o suspense sempre em alto nível, sem exageros.

Coração de pantera

Outra questão bem trabalhada no filme é a relação que Hampton desenvolve com Deborah Johnson (Dominique Fishback). Além de mostrar a vulnerabilidade do ativista, tímido na intimidade, ganha pontos quando discute a possibilidade de morrer por uma causa que a jovem levanta após engravidar dele.

Nesses momentos, os dois atores tornam ainda mais convincente o envolvimento do casal. Numa das cenas mais belas do filme, Deborah explica que teme pelo bebê que espera, embora admire o fato de que ele nascerá com o coração de uma pantera.

‘Eu sou um revolucionário!’

No entanto, o que mais deve causar impacto a quem assistir a “Judas e o Messias Negro” é ver os incendiários discursos de Fred Hampton para o público.

Daniel Kaluuya mostra mais uma vez que é uma das melhores revelações dos últimos anos. Quando diz “Eu sou um revolucionário!”, frase que tornou Hampton conhecido nos Estados Unidos, ele se entrega.

Não é por acaso que seu nome vem sendo lembrado na temporada de premiações, com grandes chances de ser indicado ao Oscar de Ator Coadjuvante.

Quando ele sai de cena momentaneamente no meio da trama, o filme cai um pouco de ritmo, centrando-se ainda mais nos conflitos do personagem de LaKeith Stanfield (embora muito bem em seu papel). Mas isso dura pouco. Após o ressurgimento de Kaluuya, o filme fica ainda mais intenso e impactante.

Além da boa direção e do elenco afiado, “Judas e o Messias Negro” se destaca na parte técnica pela ótima direção de arte. Ela transmite bem a ambientação de época e a trilha sonora, assinada por Craig Harris e Mark Isham, que ajudam a criar a tensão que permeia o filme.

Como disse Ryan Coogler, diretor de “Pantera Negra” e um dos produtores de “Judas e o Messias Negro”, a luta mostrada no filme permanece atual. Ainda mais com tantos conflitos raciais que acontecem no mundo nos últimos tempos.

Isso fica bem claro quando são mostradas imagens da época em que se passa a trama, num recurso que lembra um pouco o também ótimo “Infiltrado na Klan”, de Spike Lee.

A sequência revela que muita coisa ainda precisa ser mudada em termos de relações pessoais, não só nos Estados Unidos, mas também em boa parte do mundo.

Fonte: G1
Créditos: G1