ENGAJADA

Irmã da vítima do "Caso de Queimadas" atua em defesa dos direitos das mulheres

Engajada na luta, Isania percebeu que poderia ajudar outras pessoas. Diante de uma oportunidade de trabalhar no Centro de Referência da Mulher, em Campina Grande, ela fez uma prova e conseguiu a vaga.

Há quem consiga tirar da dor da violência contra a mulher, a força para lutar. Foi o que aconteceu com Isania Monteiro. Irmã de uma das vítimas da “Barbárie de Queimadas” – em que cinco mulheres foram estupradas e duas delas mortas, há cinco anos -, ela usou toda a experiência da busca por Justiça para ajudar a evitar que outras mulheres sofram violência e auxiliar aquelas que já foram agredidas de alguma forma.

Engajada na luta, Isania percebeu que poderia ajudar outras pessoas. Diante de uma oportunidade de trabalhar no Centro de Referência da Mulher, em Campina Grande, ela fez uma prova e conseguiu a vaga.

Cinco anos depois do crime, ela coloca em prática políticas públicas específicas para o atendimento de mulheres em situação de violência doméstica e sexual.

O crime aconteceu em fevereiro de 2012, no município de Queimadas, no Agreste paraibano. Cinco mulheres foram estupradas durante uma festa de aniversário e duas delas, por terem reconhecido os agressores, foram assassinadas. Os autores do crime eram tidos como amigos das vítimas e foram presos quando acompanhavam o cortejo dos caixões de Izabela Monteiro, de 27 anos, e de Michelle Domingues, de 29, para o cemitério.

“É um espaço bem relevante para mulheres que convivem com o ciclo da violência. Temos uma equipe psicossocial e jurídica que acompanha, acolhe, para fazer com que as mulheres se apoderem e possam romper esses ciclos. Algumas já chegam após a violência física, outras chegam no início da violência psicológica, mas nós fazemos o possível para minimizar o sofrimento delas”, explicou.

Com a morte da irmã, Isania sofreu, mas não desistiu de lutar para que os responsáveis pelo crime fossem punidos. Mesmo com lágrimas nos olhos, ela buscou órgãos de atendimento às mulheres, organizou caminhadas em diversos pontos do estado, procurou movimentos feministas e de mulheres, tudo para que a Paraíba não esquecesse as mulheres de Queimadas.

“Comecei uma batalha no município, mostrando à população que tanto Isabella quanto Michelle não eram as culpadas pelo que aconteceu. Ainda existia essa ideia de culpabilizar as vítimas. As pessoas questionavam: por que elas estavam na festa? Por que se envolveram com essas pessoas? Eles aparentemente eram pessoas de bem, do convívio de todo mundo. Mas é possível mudar alguma coisa a partir desse processo de desconstrução”, contou Isania.

No mesmo ano, a Justiça começou a ser feita. Três adolescentes foram condenados a cumprir medidas socioeducativas, e seis dos réus foram condenados pelos crimes de cárcere privado, formação de quadrilha e estupro.

O mentor da barbárie, Eduardo dos Santos Pereira, só foi condenado dois anos depois, em júri popular, a 108 anos e dois meses de prisão. Ele foi considerado culpado por dois homicídios, formação de quadrilha, cárcere privado, corrupção de menores, porte ilegal de arma e cinco estupros, além de lesão corporal contra um dos adolescentes envolvidos no crime.

Com exceção dos adolescentes, que já cumpriram três anos de internação no Lar do Garoto e foram soltos em 2015, todos os outros envolvidos permanecem presos em regime fechado no Complexo Penitenciário de Segurança Máxima Romeu Gonçalves de Abrantes, o PB1. Eduardo vai cumprir a pena em regime fechado até que ela seja extinta, uma vez que o período para progressão para o semiaberto, com base nos 108 anos aos quais ele foi condenado, é de mais de 40 anos, enquanto que a de extinção da pena é de 30.

“O que estava dentro dos da competência do Poder Judiciário, foi feito. De imediato, aconteceram as prisões. Isso foi muito gratificante para a família. As meninas já tinham perdido a vida. O mínimo que o Estado podia garantir era a prisão desses agressores. O que tinha que ser feito, foi feito com muita responsabilidade e agilidade. A gente viu resolutividade nesse caso”, lembrou Isania.

Fonte: G1 Paraíba