GUILLAIN-BARRÉ: Doença que causa paralisia temporária também pode estar atrelada a incidência do Zika Vírus

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Especialistas veem uma “forte evidência” de que o aumento de casos da síndrome de Guillain-Barré em algumas regiões tem relação com a chegada do zika vírus ao Brasil. A síndrome afeta o sistema nervoso e pode provocar fraqueza muscular e paralisia – geralmente temporária – dos membros. Até o momento, porém, o Ministério da Saúde não confirma a correlação. O ministério está estudando a situação e deve divulgar as conclusões sobre o assunto em breve.

Pelo menos seis estados observaram um aumento significativo de ocorrências da síndrome este ano.

Em Pernambuco, foram 130 casos de Guillain-Barré em 2015. No ano passado, tinham sido só 9. O Rio Grande do Norte teve um aumento de 23 para 33 casos de 2014 para 2015. No Piauí, houve 42 casos em 2015, contra 23 casos em 2014. Sergipe registou 28 casos este ano, número expressivo já que nos anos anteriores não há registro de nenhum caso. Maranhão teve 32 casos suspeitos; no ano passado, foram 10. Na Bahia, há 64 casos registrados em 2015. Apesar de não haver dados disponíveis sobre anos anteriores, o número mais do que dobrou em apenas 5 meses: em julho, havia 29 casos confirmados.

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“Neste momento, temos que encarar que existe um indício forte de relação entre o zika e a síndrome de Guillain-Barré, mas para ter certeza absoluta precisamos de mais elementos e avaliar com mais profundidade os pacientes que desenvolveram a síndrome”, diz o médico Marcondes Cavalcante França Junior, coordenador do Departamento Científico de Neurogenética da Academia Brasileira de Neurologia (ABNeuro).

O zika vírus foi identificado pela primeira vez no Brasil em abril e sua relação com a microcefalia já foi confirmada pelo Ministério da Saúde.

O G1 contatou as secretarias de saúde de 24 estados brasileiros, além do Distrito Federal. Com exceção dos seis estados já citados, os outros não constataram aumento significativo de Guillain-Barré ou não tinham dados disponíveis. A doença não é de notificação compulsória, ou seja, não é obrigatória a comunicação de casos individuais às autoridades sanitárias.

Quais são os sintomas da síndrome de Guillain-Barré?
A síndrome de Guillain-Barré – que pode afetar pessoas de qualquer idade, especialmente adultos mais velhos – começa a se manifestar por formigamento nos pés e pernas. A sensação tem caráter ascendente, ou seja, vai subindo para os joelhos, coxas, mãos e braços.

O formigamento e a alteração da sensibilidade dos membros vêm acompanhado de fraqueza nos músculos e paralisia. Os sintomas podem atingir os músculos da face e da respiração, o que faz com que o paciente precise ser tratado em unidades de terapia intensiva (UTI).

Quais são as causas da doença?
A síndrome de Guillain-Barré ocorre, na maioria das vezes, algumas semanas após uma infecção por vírus ou bactéria. O que ocorre é que o organismo do paciente desenvolve uma reação imunológica para combater a infecção e destruir os vírus ou bactérias. Mas existem estruturas nos vírus e bactérias que são muito parecidas com a bainha de mielina, estrutura que reveste as células nervosas.

“O sistema de defesa, de uma hora para outra, passa a ter como alvo a capa que reveste o nervo, chamada mielina, que é um isolante elétrico que faz com que o impulso nervoso seja conduzido mais rápido. A bainha de mielina é acometida e o impulso elétrico passa a não ser mais conduzido”, explica o médico Tarso Adoni, membro da ABNeuro e neurologista do Hospital Sírio-Libanês. É por isso que a síndrome pode ser considerada uma doença autoimune.

Algumas infecções que já foram associadas ao desenvolvimento de Guillain-Barré são as infecções por citomegalovírus, vírus da gripe, da dengue, da hepatite, além de bactérias como a Campylobacter jejuni.

Há evidências de que o aumento de casos tenha relação com o zika vírus?
Considerando o aumento expressivo do número de casos de Guillain-Barré em regiões onde também se constatou a presença do zika vírus, especialistas consideram que existem fortes indícios de correlação. Até o momento, porém, o Ministério da Saúde não confirma a existência desse vínculo, está analisando a situação e deve divulgar resultados em breve.

Instituições como o Hospital da Restauração, no Recife (PE), que já atendeu um número excepcional de casos de Guillain-Barré este ano, também desenvolvem estudos para confirmar a possível correlação.

O médico Érico Arruda, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), pondera que é mais difícil confirmar a correlação entre o zika e a síndrome de Guillain-Barré do que foi em relação à microcefalia. “Na maioria dos casos, a síndrome de Guillain-Barré ocorre após a conclusão da viremia. O vírus vai embora e depois vem o Guillain-Barré. Por isso seria mais difícil encontrar o vírus nesses pacientes.”

Como é o tratamento?
A doença pode regredir de maneira espontânea, mas existem dois tratamentos que aceleram a recuperação. Um deles é a plasmaférese, procedimento que lembra a hemodiálise, em que o sangue é filtrado para remover os anticorpos que estão lesando os nervos do paciente. O tratamento exige uma estrutura hospitalar complexa e uma equipe com experiência em hemoterapia.

O outro é a injeção de imunoglobulina humana, que faz com que os anticorpos deixem de atacar os próprios nervos. O tratamento de um único paciente com essa estratégia pode custar entre R$ 30 e 40 mil. Segundo o neurologista Marcondes Cavalcante França Junior, da ABNeuro, os dois tratamentos estão disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS), porém nem todos os hospitais têm a estrutura necessária para aplicá-los.

Além disso, é importante que o paciente fique internado durante a doença porque, caso a paralisia afete os músculos respiratórios, ele precisa ser submetido à ventilação mecânica. Mesmo pacientes com sintomas mais leves devem ser internados, pois a doença pode evoluir rapidamente.

Há risco de o paciente ficar com sequelas?
A síndrome de Guillain-Barré é considerada uma doença de prognóstico favorável pelos médicos. Em 85% dos casos, há uma recuperação praticamente completa que pode levar de dois a quatro meses. Em 15% dos casos, pode haver sequelas, desde as mais leves, como fraqueza nos pés ou dormência, até as mais significativas, em que os pacientes podem perder a capacidade de andar.

g1