Ex-diarista abre demolidora sustentável e fatura até R$ 1,5 milhão por obra

Quando chegou a São Paulo do Nordeste, em 2006, Eliane Nóbrega, 37, trabalhou como diarista para ajudar a sustentar a família.

demolidora

 

Quando chegou a São Paulo do Nordeste, em 2006, Eliane Nóbrega, 37, trabalhou como diarista para ajudar a sustentar a família. De observar as demolições no caminho até sua casa, no Jardim Tremembé, zona norte, e ver o desperdício de material, teve a ideia do negócio: uma demolidora que recicla.

Aberta em 2009, a Nobre Demolidora chega a faturar hoje até R$ 1,5 milhão em uma única obra. O lucro por serviço não foi informado.

“A partir daí, eu tive a ideia de abrir uma demolidora e começar a separar o material reciclável na própria obra”, diz. A empresa foi aberta com a ajuda do marido, Félix de Souza, e do filho, Gustavo Nóbrega de Souza. Ambos já tinham experiência de trabalho em demolidoras. Mas a proposta de reaproveitar materiais de boa qualidade nas obras, como madeiras, portas e janelas, era novidade para eles.

“Começamos a investir na demolição sustentável e passamos a oferecer um diferencial para os clientes.” Todo o material retirado das obras é separado para ser reutilizado e revendido. “Com a madeira, produzimos móveis como bancos, cômodas e cristaleiras. Também reformamos portas e janelas e revendemos.”

A peça mais barata é um banco pequeno, que custa R$ 70. A mais cara, uma cristaleira de pinho de riga, sai por R$ 1.500.

Preço da demolição depende do material reciclável
A empresária não revela o faturamento total, mas diz que cobra de R$ 15 mil a R$ 1,5 milhão por demolição. O preço depende do tamanho da construção e dos materiais que poderão ser reutilizados. Por mês, a empresa faz até cinco demolições.

“Tudo depende do material. Tem obra que fica mais cara porque só tem concreto. Nas que têm muita madeira e ferro, por exemplo, o desconto é maior.” Segundo Eliane, já houve construções com material “tão rico” para ser retirado que ela nem cobrou pela demolição. “Eu fico com o material em troca do serviço.”

Antes de iniciar a demolição, uma equipe vai ao local para retirar tudo o que pode ser reutilizado. “A ideia é preservar para conseguirmos aproveitar ao máximo. Sempre me perguntam se isso é vantajoso, já que entrar com a máquina direto na obra é muito mais prático. E eu afirmo que sim. Tanto para contribuir para o meio ambiente, como financeiramente.”

Ser sustentável ajuda a atrair cliente
De acordo com Eliane, o foco sustentável ajuda a atrair clientes. “Com os recursos naturais cada vez mais escassos, as pessoas estão começando a se preocupar com isso. Eu já tive cliente que escolheu nossa empresa em uma concorrência justamente por causa da nossa preocupação ambiental. Já outras, optaram por causa do preço mais baixo.”

Para manter o negócio, Eliane tem um galpão de 700 m², onde é deixado todo o material retirado das obras. Hoje a empresa conta com 30 funcionários e ainda mantém prestadores de serviços para produzir os móveis e reformar portas e janelas, por exemplo.

Setor da construção civil não está favorável
Segundo Caroline Minucci, consultora de marketing do Sebrae-SP (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo), algumas demolidoras costumam separar o material reciclável, mas com a ajuda de empresas especializadas. “Elas derrubam tudo e chamam as empresas para retirarem os materiais que acham que são aproveitáveis.”

No entanto, uma demolidora oferecer este serviço não é comum. “Muitas pequenas empresas procuram material reutilizado e entulho para suas obras ou em algum processo do seu negócio.”

Segundo ela, atualmente, o mercado não está favorável para as demolidoras. “O setor da construção civil está estagnado e a demanda por material de uma forma geral está baixa.”

Outro ponto desfavorável para ela é a falta de cultura do brasileiro em reutilizar materiais. “Com exceção de um pequeno grupo de empresários, o brasileiro, muitas vezes, opta por comprar um material novo, mesmo sendo mais caro, porque desconhece a oferta de reutilizáveis ou tem receio de comprar.”