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CORINGA, O FILME GATILHO? Longa é considerado perigoso e quem assiste pode cometer crimes ou se suicidar

Muito antes de sua estreia, Coringa gerou discussões pela internet sobre o perigo de lançar um filme sobre um psicopata violento. Para muitos, é uma obra de arte impactante. Para outros, é capaz de incentivar violência, tiroteios em massa e até mesmo disparar gatilhos para suicídio. Mas o longa é realmente perigoso?

Antes de mais nada, é preciso deixar claro que culpar filmes, videogames, livros, etc. por atos de violência é uma forma de tentar encontrar um bode expiatório para reações extremas. Obras de arte, assim como praticamente qualquer outra situação em nossas vidas, podem servir como gatilhos para depressão, suicídio e violência, isso não significa que um filme seja perigoso.

A agressividade parte do discurso de ódio. Da comunidade que joga e te xinga porque você não é bom. De pessoas acharem que quando não tem o que querem podem usar da violência. Isso não tem a ver com jogos ou filmes. Muito pelo contrário. Arte, cultura e jogos mais ajudam do que atrapalham.

Estrelado por Joaquin Phoenix (Ela) e dirigido por Todd Phillips (Cães De Guerra), o longa se baseia em obras como a HQ Piada Mortal e filmes como Taxi Driver e Touro Indomável para trazer a história de um homem a caminho da loucura até a hora que se torna o vilão Coringa, arqui-inimigo do Batman.

A reação ao filme não é algo inesperado, ainda mais se levarmos em conta como o vilão sempre foi uma figura capaz de horrores absurdos. Mesmo nos quadrinhos essas questões já foram levantadas. No longa, a forma como Arthur Fleck, um homem com distúrbios mentais, é tratado o transforma de um ser inofensivo para um vilão psicopata. A discussão aqui é sobre a sociedade.

Cena de Coringa 3

Embora a ideia de alguém se inspirar em Coringa e imitá-lo seja perturbadora, é colocar um peso maior do que o necessário em um único filme e esquecer de outras possíveis causas, muito bem mostradas no próprio longa: como o descaso das autoridades com as pessoas comuns, a falta de apoio a pessoas com distúrbio mentais, o estigma da sociedade com essas mesmas questões, falta de compaixão e a violência de diferentes intensidades presentes nas relações humanas.

Na minha opinião, se todo artista tiver que tomar cuidado com cada possível questão que sua obra possa levantar ao ser interpretada por indivíduos diferentes, seria inviável fazer arte. Veríamos apenas as mesmas histórias consideradas “aceitáveis” recontadas repetidas vezes, algo que já vemos acontecer no mundo do entretenimento de massa, inclusive.

Alguns dos maiores críticos são os parentes das vítimas do tiroteio em Aurora, no Colorado, quando 12 pessoas foram mortas durante sessão de Batman: O Cavaleiro Das Trevas Ressurge, em 2012. Embora defenda a liberdade de expressão, o grupo teme reações similares e pede ajuda para um maior controle de armas nos EUA. Já a Warner Bros. acredita que uma das funções de se contar histórias é estimular conversas difíceis sobre questões complexas. Ambos têm pontos coerentes.

A polêmica foi tanta, que o diretor Todd Phillips já comentou sobre o assunto. Ele acredita que o público será capaz de entender a mensagem do filme, que, segundo ele, é sobre amor, trauma e falta de compaixão, questões bem explícitas na narrativa, de fato. Phillips ainda afirmou preferir encarar de frente as questões difíceis apresentadas no longa ao invés de fugir delas. Algo bastante válido.

Recentemente, eu comentei na crítica da série The Politician sobre a importância de existirem avisos para dar a chance do espectador se preparar para casos como esses. Na minha opinião, a arte e cultura não podem ser limitados e é ótimo ver temas complicados tratados na mídia, porém, isso não significa que o filme será algo positivo, especialmente para pessoas passando por problemas semelhantes aos dos personagens em cena.

A realidade é que Coringa é uma crítica, mas é também um filme com possíveis gatilhos. É uma obra cinematográfica impressionante, com atuação extraordinária de Joaquin Phoenix, tecnicamente impecável e roteiro poderoso, mas é também uma história difícil, pesada e capaz de servir como estopim para pessoas propensas.

O melhor a fazer é: Se informe sobre o filme e, se você não se sente confortável com as questões apresentadas, não vá ao cinema somente por se tratar de um blockbuster muito elogiado.

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Fonte: Cine Click
Créditos: Cine Click