Depressão

Após três suicídios em sete meses, Coréia do Sul se pergunta porquê tantos casos envolvendo cantores de k-pop

A perda repentina de Kim Dong Yoon, 20, no fim de julho, foi mais um sinal alarmante de que algo não está bem no mundo do k-pop. Quando as causas de sua morte forem esclarecidas, é provável que o rapper do grupo Spectrum se junte à crescente lista de expoentes do pop coreano que perderam a vida cedo demais por razões ligadas a sua saúde mental.

A perda repentina de Kim Dong Yoon, 20, no fim de julho, foi mais um sinal alarmante de que algo não está bem no mundo do k-pop. Quando as causas de sua morte forem esclarecidas, é provável que o rapper do grupo Spectrum se junte à crescente lista de expoentes do pop coreano que perderam a vida cedo demais por razões ligadas a sua saúde mental.

Foram três mortes em um período de menos de sete meses: em dezembro, Kim Jong-hyun, principal vocalista do grupo SHINee, suicidou-se aos 27 anos; e Seo  Min-woo, líder do 100%, morreu em maio, após uma parada cardíaca possivelmente causada por overdose. Outros integrantes desse universo também tiveram que se afastar dos holofotes no último ano para tratar depressão, anorexia e dependência química.

Mas esses não são casos isolados: é alto o número de artistas que se suicidaram na Coreia do Sul desde meados dos anos 2000, quando o país passou a investir fortemente na indústria do entretenimento –uma pesquisa realizada em 2010 pela atriz Park Jin-hee para seu mestrado indicava que 40% de seus pares sofriam de depressão e 20% já haviam comprado agentes tóxicos ou outros “dispositivos” para o suicídio.

A notoriedade desses casos joga luz sobre o que é um problema mais amplo de saúde pública na Coreia do Sul. O país tem a maior taxa de suicídios no mundo desenvolvido (é o 10º colocado no ranking geral), com 24,1 mortes a cada 100 mil habitantes, segundo dados reunidos pela Organização Mundial da Saúde em 2015. No mesmo ano, os suicídios foram a principal causa de morte de pessoas entre 10 e 39 anos no país, de acordo com o Serviço Coreano de Informação Estatística.

“Óbvio que o problema na indústria musical é muito sério, mas na verdade o k-pop não passa de um microcosmo do que é a vida do jovem sul-coreano desde muito cedo. E é provavelmente o maior problema de saúde pública que a Coreia enfrenta hoje em dia”, diz Thiago Mattos, mestre em relações internacionais e especialista em Leste Asiático, que trabalha para a embaixada do Brasil na Coreia do Sul há um ano.

“O sistema de ensino é muito pautado na ideia de que você tem que ser o melhor, tem que vencer”, acrescenta ele, apontando que no Ensino Médio os jovens sul-coreanos têm uma jornada escolar de cerca de 12 horas diárias, desde cedo com o objetivo de entrar nas melhores universidades.

Essa competitividade tem relação com a rápida ascensão econômica da Coreia do Sul, que em duas gerações se transformou de uma sociedade pobre e agrária para a 11ª maior economia do mundo, e se acirrou depois da crise do fim dos anos 1990.

“Historicamente, em países que num curto espaço de tempo ascendem de uma situação de pobreza para uma situação de abundância econômica, aumenta muito o desejo entre as pessoas de conseguirem ser vencedoras nessa sociedade, e isso pode aumentar o individualismo e a competitividade entre adolescentes, e pode aumentar a frustração quando eles não conseguem chegar onde pensaram”, explica o psiquiatra Neury Jose Botega, professor da Unicamp e especialista em saúde mental.

“A sociedade sul-coreana lembra um pouco algumas coisas da sociedade japonesa, muito voltada para o trabalho, onde há uma pressão social muito forte. Isso acaba sendo um fator, entre vários outros, que pesa para o aumento de suicídios entre os jovens sul-coreanos”, completa.

Mattos vai no mesmo sentido: “De tanto investir na educação sem pensar muito nas pessoas, mas sim no propósito econômico do ensino, chegou-se a um ponto de sociabilidade em que uma das consequências é essa pressão sobre os jovens e, como consequência, as altas taxas de suicídio“, diz. “Com certeza isso se insere e transborda para o mundo do k-pop, mas é um problema generalizado do país”.

Fonte: Uol
Créditos: Uol Notícias