com Fernanda Montenegro no elenco

'A Vida Invisível' ganha de 'Bacurau' e vai representar o Brasil no Oscar

Filme de Karim Aïnouz baseado em livro de Martha Batalha ganhou prêmio da mostra Um Certo Olhar em Cannes

“A Vida Invisível”, de Karim Aïnouz, vai representar o Brasil na corrida pelo Oscar de melhor filme internacional. O título, anunciado nesta terça (27), desbancou outros 11 longas na disputa, entre eles “Bacurau”, de Kleber Mendonça Filho.

O longa fará sua première no país na abertura do Cine Ceará, na sexta (30), e estreia primeiro nas salas do Nordeste, a partir do próximo dia 19. A estreia oficial no circuito nacional será em 31 de outubro.

“A Vida Invisível” estreou no Festival de Cannes, em maio deste ano, e levou o prêmio de melhor filme na seção Um Certo Olhar desta mostra. Na mesma edição do evento francês, “Bacurau” concorreu na competição principal e acabou faturando o prêmio do júri. Ambas foram vitórias inéditas do cinema nacional.

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Cena do filme ‘A Vida Invisível’, de Karim Aïnouz – Bruno Machado/Divulgação

A obra de Aïnouz, baseada no romance “A Vida Invisível de Eurídice Gusmão”, da escritora Martha Batalha, conta a história de duas irmãs que sucumbem, cada uma à sua maneira, ao machismo no Rio de Janeiro dos anos 1950.

A impositiva Guida (Julia Stockler) se apaixona por um marinheiro grego e acaba grávida antes do casamento. Já a mais contida Eurídice (Carol Duarte) está resignada a se casar virgem com um sujeito sem graça, vivido por Gregorio Duvivier. Uma mentira fará com que as duas irmãs percam contato uma com a outra por décadas a fio.

Fernanda Montenegro também está no elenco da obra. Aïnouz havia acabado de receber uma ligação da atriz quando falou com a Folha. “Estou exultante. Todos os filmes concorrentes comprovam a exuberância do cinema brasileiro” disse o cearense. “Agora é só o começo da maratona.”

Em nota enviada à imprensa, a atriz também comemorou a escolha. “Isso demonstra que a cultura cinematográfica brasileira, num momento como esse, nos credencia como artistas e cidadãos”, diz o texto.

Fernanda, aliás, esteve no elenco do último filme brasileiro que conseguiu concorrer nesta categoria no Oscar, “Central do Brasil”, em 1999. Naquele ano, o longa de Walter Salles estrelado por ela perdeu para o italiano “A Vida é Bela”, de Roberto Benigni.

Apesar dessa ausência de duas décadas —ou até por causa dela—, o histórico de escolha do título é pontuado por polêmicas. Em 2010, quando o título era decidido por um comitê indicado pela Secretaria Audiovisual, do Ministério da Cultura, a seleção da biografia chapa-branca “Lula, o Filho do Brasil” foi criticada por outros cineastas.

Há três anos, “Aquarius”, de Kleber Mendonça Filho, era tido como o favorito, mas foi preterido por um longa que nem sequer tinha estreado no circuito brasileiro, “Pequeno Segredo”, de David Schurmann.

Naquela ocasião, o setor cinematográfico levantou a hipótese de uma revanche política, já que Mendonça Filho e a equipe de “Aquarius” haviam feito ato contra o impeachment de Dilma na edição de 2016 do Festival de Cannes.

Para evitar esse tipo de questionamento de ordem política, a escolha não é mais feita pela Secretaria do Audiovisual, mas por uma comissão especial indicada pela Academia Brasileira de Cinema.

Neste ano, o grupo foi presidido por Anna Muylaert, diretora de “Que Horas Ela Volta?”.

A comissão contou com oito nomes de peso do setor, como Amir Labaki, idealizador do festival de documentários É Tudo Verdade, Ilda Santiago, diretora do Festival do Rio, e Walter Carvalho, mais conhecido diretor de fotografia do país. Schurmann, diretor do filme que desbancou “Aquarius” há três anos, também faz parte do atual comitê.

Caso seja aceito pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, organização por trás do Oscar, “A Vida Invisível” pode enfrentar longas como o coreano “Parasite”, de Bong Joon-ho, ganhador da Palma de Ouro em Cannes este ano, e o alemão “System Crasher”, de Nora Fingscheidt, vencedor do Urso de Prata na última edição do Festival de Berlim.

A próxima cerimônia do Oscar está marcada para 9 de fevereiro do ano que vem.

Depois que cada país apontar o seu filme representante, um comitê de 300 pessoas em Los Angeles assiste aos títulos e escolhe sete para a categoria. As três vagas remanescentes são definidas por um grupo paralelo, formado por membros antigos da Academia que, ao contrário dos colegas na ativa, são menos assediados pelos agentes das produções. Assim são decididos os dez títulos que competirão na categoria, anunciados em 13 de janeiro do ano que vem.

Fonte: Folha de S. Paulo
Créditos: Folha de S. Paulo