após convenção do PSL

Janaina põe Bolsonaro no bolso - Ricardo Noblat

Pode ter nascido a nova estrela da direita

Quem brilhou na convenção do PSL que lançou Jair Bolsonaro para a presidência da República não foi o candidato, chamado de “O Mito” por seus fanáticos seguidores, mas a advogada e professora de Direito do Largo de São Francisco Janaína Paschoal.

Convidada para compor a chapa de Bolsonaro na condição de vice, ela nem disse sim, nem não. Os que esperavam que ela exaltasse o candidato e suas propostas absurdas e radicais ouviram de Janaina o discurso de direita mais bem elaborado por estas bandas até aqui.

Como fez questão de observar logo de início, Janaína não estava ali atrás de cargos nem de aplausos. Pediu para que a escutassem em silêncio. Em seguida, sem concessões ao desvario, apresentou seu ideário para a conquista e manutenção do poder.

Acusou o PT de ser um partido totalitário, avesso às divergências, interessado em dominar pelas mentiras. Para logo advertir que ele não poderia ser combatido por outro que compartilhasse desses mesmos valores. Ensinou:

– Se construirmos um quadradinho e quisermos que todos estejam dentro dele, estaremos limitando a possibilidade de vitória e a possibilidade de governar. Não é hora de olhar com lupa e selecionar: ‘quem concorda com a gente, venha. Quem não concorda, saia.’ Isso não existe numa República e numa democracia.

Bateu duro na corrupção. Disse que a impunidade é o maior estímulo ao crime. Mas na contramão do que prega Bolsonaro, advertiu que “a prisão” deve ser “a última arma a ser usada pelo Estado. Vez por outra perguntava ao público numa tentativa de se aproximar dele: “Estão me entendendo?”

Diante de uma plateia marcada pela intolerância, ensinou a ser tolerante. “Não podemos cair na armadilha de cisão”, disse. “Porque as pessoas podem discordar da gente e serem honestas, e serem corretas e desejarem trabalhar”. E mais: “Não somos donos da verdade. Não julguem seus irmãos”.

Como ela mesma afirmou para que não restassem dúvidas, dirigia-se “à Nação”, não aos que a ouviam tão de perto. E por ser assim, o que a seduzia não era “um projeto de poder, mas um projeto de país”. Fortemente aplaudida antes de falar, foi moderadamente aplaudida quando se despediu.

Se os partidos contassem com caçadores de talentos como acontece no mundo do futebol, a essa altura Janaina estaria sendo assediada por muitos deles. Se não para disputar as eleições de outubro, mas seguramente as próximas.

Fonte: O Globo
Créditos: Ricardo Noblat