Cenários

Entenda as diferenças entre pesquisas e por que o cenário segue indefinido

Preparativos do salão nobre do Palácio do Planalto para a posse da nova minstra do Trabalho Cristiane Brasil, mesmo com a decisão da justiça de proibir a posseFoto: Sérgio Lima/PODER 360

O cenário geral: você é do PT e simpatiza muito com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O PT diariamente fala em todas as plataformas de mídia que o candidato para a corrida ao Planalto é Lula, que está preso, mas seria 1 injustiçado.

Cenário específico: você então está circulando pelas ruas e é abordado por 1 pesquisador que pergunta se você poderia responder a algumas perguntas. O 1º cenário eleitoral apresentado é com o nome de Lula. Quem você escolhe para dizer que vai votar para presidente? Lula, claro.

O cenário evolui: aí você é apresentado a uma segunda situação. Lula desaparece da lista de candidatos. O que você faz? Você e muitos outros lulistas decidem não votar em ninguém.

A pesquisa Datafolha divulgada nesta 4ª feira (22.ago.2018) apresenta 1º o cenário com Lula. Depois, sem Lula. Essa metodologia não está errada. Aliás, por uma dessas idiossincrasias brasileiras, há até uma lei obrigando empresas de pesquisas a incluir o nome de Lula nas pesquisas –e o entendimento de alguns ministros do TSE é que a lista com o ex-presidente deve ser a 1ª apresentada ao pesquisado.

[observação: não existe nenhum país no planeta Terra que tenha uma lei para estipular como pesquisas de opinião devem ser feitas no nível de detalhe da legislação brasileira. Essa é mais uma invenção dos políticos locais com a chancela feliz do Congresso]

Tudo considerado, é importante levar em conta que as pesquisas hoje ficam premidas por uma situação que não será a real no dia 7 de outubro de 2018, quando se realiza o 1º turno.

Para saber mais sobre a influência de colocar ou não colocar Lula na lista de pesquisados, leia este artigo.

As pesquisas, ressalte-se, não estão erradas. Cada uma apresenta o resultado compatível com a metodologia adotada.

O problema é não ser possível, a esta altura, fazer sondagens que possam simular apenas o cenário mais provável de 7 de outubro: com Fernando Haddad (PT) sendo 1 dos 13 candidatos que estarão na urna eletrônica.

No mais, vale também falar 1 pouco sobre taxas de rejeição e sobre o desempenho diferente (entre vários levantamentos) de Marina Silva (Rede), Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB).

No caso das taxas de rejeição, há várias metodologias usadas. Por exemplo, uma empresa de pesquisa pode apresentar uma lista de nomes e perguntar em qual daqueles candidatos o eleitor não vota de jeito de nenhum –com a o pesquisado tendo o direito de escolher vários nomes.

Com a possibilidade de múltiplas escolhas, há uma tendência de que seja diluída a taxa de rejeição. O eleitor compara os nomes. Vê que 1 pode ser melhor ou pior do que outro na sua avaliação pessoal.

Há também outras empresas que pesquisam individualmente cada nome. Mostram então o nome de cada candidato e perguntam especificamente sobre aquele político: se o eleitor vota com certeza, se poderia votar ou se não votaria de jeito nenhum. Com essa metodologia, a taxa de rejeição tende a ser maior para todos.

É por essa razão que no Ibope Lula tem 30% de rejeição, no Datafolha registra 34% e vai a 60% no DataPoder360. No caso de Jair Bolsonaro, o capitão do Exército na reserva marca 37% (Ibope), 39% (Datafolha) e 65% no DataPoder360.

A respeito das divergências entre as pesquisas para as intenções de voto em Marina Silva, a resposta está na forma de abordagem dos pesquisados.

Marina é, de longe, a candidata que mais encarna o espírito do “politicamente correto”, para o bem ou para mal, uma das marcas deste século 21. Dizer que vai votar na candidata da Rede é uma ótima solução para quem está indeciso neste momento, mas prefere passar uma imagem mais assertiva. É o que pode acontecer em pesquisas feitas “face a face”, quando o entrevistador busca respostas pessoalmente.

As empresas de pesquisa dizem que inovaram em anos recentes e permitem ao eleitor votar “em segredo”, digitando sozinho o voto em 1 tablet ou em outro equipamento. Ainda assim, há 1 pesquisador ali ao lado.

Nas pesquisas por telefone automatizadas, o eleitor indeciso sente-se mais à vontade para não ter de demonstrar alguma assertividade nem se render ao politicamente correto. Vota em branco, nulo ou se declara realmente indeciso ao teclar sua opção no telefone.

É por essa razão que Marina Silva aparece com até com 16% no Datafolha, 12% no Ibope, mas apenas 6% no DataPoder360.

Há até uma pergunta no DataPoder360 que coloca 1 pouco de ciência nessa explicação sobre o voto em Marina Silva. Os pesquisados são indagados se votariam na candidata da Rede com certeza, poderiam votar ou não votariam de jeito nenhum. Só 32% dos eleitores da própria candidata se dizem realmente decididos a votar nela –a taxa dessa “certeza de voto” é muito maior para outros candidatos, como mostra o quadro a seguir:

CIRO E ALCKMIN
No caso de Ciro Gomes e de Geraldo Alckmin não há tanta diferença entre as pesquisas conhecidas. Embora sejam realizadas com metodologias diferentes, todas têm margem de erro. E é necessário considerar –isso é muito relevante— que os levantamentos são feitos em períodos diferentes. Às vezes, poucos dias podem fazer a diferença.

Ciro chega a 10% no Datafolha, 9% no Ibope e 13% no DataPoder360. Em certa medida, esses percentuais estão todos muito próximos quando se consideram as margens de erro das pesquisas.

O mesmo vale para Alckmin: vai até 9% no Datafolha, 7% no Ibope e 9% no DataPoder360.

Em suma, o cenário eleitoral segue incerto. O fato de as empresas de pesquisas estarem manietadas pela obrigação legal de testar sempre o nome de Lula acaba produzindo 1 viés nas respostas de cada levantamento.

Por essa razão, só será possível ter alguma segurança sobre quem realmente tem chances reais de ir ao 2º turno na corrida pelo Planalto após uma ou duas semanas do horário eleitoral. Esse também será o período em que a Justiça Eleitoral terá dado uma palavra final sobre o registro de Lula. Até lá, viveremos no escuro a respeito de quem poderá comandar o Brasil a partir de 2019.

Fonte: Poder360
Créditos: Poder360