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Vacina contra HPV causa paralisia nos adolescentes?

Arte/UOL

 

Apesar de mais da metade da população brasileira de 16 a 25 anos estar infectada com o HPV, o índice da cobertura da vacina contra o vírus é de apenas 48,2% entre as meninas de 9 a 15 anos. Entre os meninos de 12 a 13 anos, que começaram a receber a vacina pelo sistema público neste ano, o índice é ainda mais baixo: 28,3%. A meta do governo brasileiro é de alcançar ao menos 80% do público-alvo da campanha de imunização, que começou em 2014 para as garotas.

Uma das razões para a baixa taxa de aceitação da vacinação, que é distribuída gratuitamente em postos de saúde, são informações que circulam em redes sociais de que a vacina causaria paralisia, teria baixa eficiência contra o vírus e não seria aplicada em outros países. No entanto, essas afirmações são falsas, segundo Edison Natal Fedrizzi, chefe do Centro de Pesquisa Clínica Projeto HPV da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), o Ministério da Saúde e a OMS (Organização Mundial de Saúde).

O HPV é o vírus do papiloma humano que possui mais de 200 subtipos diferentes, alguns deles causam verrugas e outros, ainda mais graves, têm grande potencial de câncer no colo do útero, na boca e na faringe.

A vacina está disponível gratuitamente no Sistema Único de Saúde para meninas de 9 a 14 anos, bem como meninas e mulheres de 9 a 26 anos que vivem com HIV. A partir de 2017, meninos de 12 e 13 anos e HIV positivos de 9 a 26 anos também foram incluídos na campanha.

Com a sobra de vacinas e para evitar desperdício de lotes que perderiam a validade após setembro, o Ministério da Saúde ampliou temporariamente o benefício para todos os homens e mulheres com até 26 anos.

A OMS estima que, desde 2006, mais de 270 milhões de doses foram distribuídas em todo o mundo. Segundo o Inca (Instituto Nacional de Câncer), o câncer de colo do útero é o terceiro tumor mais frequente na população feminina, atrás do câncer de mama e do colorretal. É ainda a quarta causa de morte de mulheres por câncer no Brasil.

 

Como funciona a vacina?

Como explica Fedrizzi, a vacina adotada pela rede pública brasileira é a quadrivalente, protege contra os subtipos 6, 11, 16 e 18, considerados os mais comuns e mais graves.

Esses subtipos do papiloma humano, segundo ele, são responsáveis por mais de 90% das verrugas genitais e na laringe, 70% dos cânceres de colo de útero, 80% dos cânceres anal, 70% dos cânceres de vulva, 60% dos cânceres de vagina e pênis, bem como 70% dos cânceres de orofaringe –boca, língua, palato e faringe.

“A eficiência da vacina contra eles é de quase 100%”, relata o ginecologista, que acrescenta que o risco da infecção está na não imunização, mas não na vacina, que é aplicada em duas doses para jovens de 9 a 14 anos e, em três doses, para pessoas acima de 15 anos e imunossuprimidas [com câncer, HIV, entre outras doenças].

Dá paralisia?

A vacina contra HPV, de acordo com o especialista, é produzida a partir das proteínas virais, que são incapazes de desenvolver a doença. “Ou seja, o risco de contaminação com a vacina é nulo”, destaca Fedrizzi, que também desmente o boato de que a imunização pode provocar paralisia.

Em 2014, mais de 10 meninas de Bertioga, no litoral de São Paulo, passaram mal após a vacinação. Algumas delas chegaram a ficar internadas com dores no corpo.”A notícia foi bastante repercutida na época, deixou muitas mães assustadas e gerou até um efeito negativo à imunização”, lembra ele, que diz que o mal-estar estava muito mais ligado a um efeito emocional e que nada tinha a ver com a imunização. “Pena que a conclusão médica dessas internações não chegou a ser tão propagada como a primeira notícia.”

A OMS publicou, em julho deste ano, um relatório em que afirma que a vacina contra o HPV é extremamente segura. Segundo o texto, o risco de anafilaxia, reação alérgica, é de 1,7 a cada um milhão de doses aplicadas e casos de desmaio relatados estão relacionados à ansiedade e ao estresse por tomar uma injeção.

Sobre a preocupação que a vacina esteja ligada à paralisia ou casos de Guillain-Barré, o relatório cita uma pesquisa feita no Reino Unido com dados de uma população que recebeu mais de 10,4 milhões de doses de vacina. “O estudo mais recente não encontrou aumento significativo do risco de síndrome de Guillain-Barré após receber as doses de vacinas.”

Segundo o Ministério da Saúde, os efeitos colaterais, quando presentes, “são leves e autolimitados”. Além de dor no local de aplicação, a vacina pode causar edema e vermelhidão de intensidade moderada, dor de cabeça, febre de 38ºC ou mais, desmaio e reações de hipersensibilidade.

O desmaio, segundo o órgão, é uma reação comum a outras vacinas e medicamentos injetáveis por estresse.

É eficaz?

A eficiência da vacina, segundo a Sociedade Brasileira de Imunizações, é de mais de 90%.

O CDC (Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos) considera a vacina extremamente efetiva e afirma que quatro anos após a imunização foi recomendada, a taxa de infecções por HPV nas adolescentes norte-americanas caiu em 56%.

De acordo com a OMS, dez anos após a introdução da vacina contra o HPV, os países com maior risco para câncer de colo de útero são aqueles com menor incidência de vacinação.

Diferentemente do que citam algumas teorias da conspiração, o Brasil não é o único país a incluir a vacina contra HPV no sistema de saúde público. “Mais de 85 países no mundo adotaram a imunização como combate direto aos cânceres de colo de útero”, aponta Fedrizzi, da UFSC.

Fonte: UOL
Créditos: UOL