Comissão de Educação da Câmara

SEM PROVAS: Ministro repete que há plantações de maconha e laboratórios de drogas nas universidades federais

À Comissão de Educação da Câmara dos Deputados ele disse que há "plantações de maconha" e "laboratórios de droga" nas universidades federais; o G1 mostrou que os casos citados foram investigados e não geraram processos contra as instituições

O ministro da Educação, Abraham Weintraub, reafirmou nesta quarta-feira (11) a existência de plantações de maconha e laboratórios de produção de drogas nas universidades federais. Sem apresentar provas, o ministro exibiu uma série de reportagens durante o tempo destinado para sua fala.

A declaração foi dada à Comissão de Educação da Câmara dos Deputados, que convocou o ministro da educação para esclarecer uma entrevista do fim de novembro. O ministro da Educação mostrou reportagens sobre o consumo de maconha e drogas sintéticas na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

As reportagens, como mostrou o G1 em novembro, não indicam participação ou anuência dos gestores das universidades. Nenhum processo foi aberto contra os reitores das instituições.

Interferência nos campi

O ministro defendeu que há uma “epidemia de drogas”, disse que “as estatísticas” mostram que o consumo de drogas nas universidades é o dobro do uso geral no país. Com isso ele defendeu a interferência da Polícia Militar nos campi das universidades.

“As universidades estão sim doentes, estão pedindo o nosso socorro”, disse o ministro. “Eu sou a favor da autonomia universitária para pesquisa, para ensino. Pode ensinar o que quiser, falar de Karl Marx, não tem problema. Agora, a PM [Polícia Militar] tem que entrar nos campi.”

Reitores criticam ataques

No início do mês, a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições de Ensino Superior (Andifes) entrou na Justiça para pedir que o ministro da Educação também explique as alegações de que há “plantação de ervas para produção de drogas” nas universidades federais brasileiras.

“Eu não falei em momento algum que a culpa é dos reitores”, defendeu o ministro. “Falei que a situação é tão dramática que há plantação em algumas. Não acusei reitores, professores, técnicos, eu sou professor concursado de uma universidade federal.”

Ele também questionou sua presença entre os parlamentares e disse que o MEC vive a “maior revolução na área do ensino.”

“O símbolo máximo é que sai o kit gay e entram livros para as crianças” – Abraham Weintraub, ministro da Educação

Quarta vez

Esta foi a quarta convocação do ministro da Educação pelo Congresso desde a posse no cargo, em abril. Em maio, em meio aos bloqueios do orçamento das universidades federais, o ministro foi às comissões de Educação da Câmara e do Senado, e também falou ao plenário da Câmara.

A convocação mais recente foi aprovada na última quarta (4). A Comissão de Educação aprovou cinco requerimentos para que o ministro explicasse as declarações dadas ao “Jornal da Cidade Online”, em que o ministro ligou as universidades federais à produção de drogas.

A entrevista foi compartilhada nas redes sociais do ministro e gerou forte reação da comunidade acadêmica. Em nota, a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) disse que o ministro da Educação “parece nutrir ódio pelas universidades” e que “ultrapassa todas as fronteiras que devem limitar, sobretudo, os atos de um gestor público”.

Casos concluídos

No fim de novembro, o G1 mostrou que os casos citados pelo ministro da Educação, após investigação policial, não geraram qualquer processo contra as universidades federais.

Em um dos episódios, pés de maconha foram apreendidos em uma área de cerrado próxima ao campus Darcy Ribeiro da Universidade de Brasília (UnB). Dois estudantes foram detidos, fizeram acordo e cumpriram penas alternativas. Nenhum professor ou diretor da UnB foi implicado na acusação.

No outro, 140 “buchas” de maconha e 1 kg de haxixe foram apreendidos na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). No mesmo dia da ação, a Polícia Civil negou que os traficantes fossem alunos ou funcionários da UFMG.

Fonte: G1
Créditos: G1