146 anos do Pai da Aviação

Piloto restaura dirigível de ar quente para voar como Santos Dumont

Equipamento europeu da década de 1980 permite voo semelhante ao do inventor brasileiro; piloto de São Pedro restaurou dirigível e quer resgatar essa modalidade de voo no Brasil

A caminhonete puxa por São Pedro (SP) a estrutura inicialmente irreconhecível que se confunde com uma barraca desmontada. Aos poucos, o ar quente dá forma ao grande dirigível, único regulamentado para sobrevoar o Brasil. O modelo, preservado pelo piloto Feodor Nenov, permite um voo semelhante ao que o inventor brasileiro Santos Dumont, que faria aniversário neste sábado (20), fazia pelos céus da França.

O dirigível tem 16 metros de altura por 32 metros de comprimento. Para dar forma a essa estrutura, um motor é usado para inflar a grande lona. Daí para iniciar o voo, o equipamento usa um motor de quatro cilindros movido à gasolina.

Essa raridade da década de 1980 foi redescoberta pelo piloto Nenov, um apaixonado por balões em busca de algo diferente. Ao comentar com amigos sobre os balões que já fazia, um deles falou sobre o dirigível, que tinha sido trazido da Inglaterra e estava parado. O piloto, então, recebeu o equipamento de presente e levou para ser restaurado em São Pedro.

“Esse equipamento foi abandonado, ele ficou praticamente abandonado por muitos anos, e a gente está resgatando o equipamento e essa modalidade de voo também, que só existe [com] esse dirigível voando no Brasil”, conta.

Nenov e alguns colegas começaram a restaurar o dirigível há um ano e meio. “É um trabalho bem minucioso, porque a gente quase não encontra peça aqui no Brasil pra este motor, algumas coisas a gente teve que fazer, foi uma restauração mesmo pra deixar tudo original.”
Ele conta que algumas partes precisaram ser feitas mesmo, como a junta de motor. As peças foram desenhadas no computador e encomendadas reproduzindo projetos originais de dirigíveis. Outras foram adaptadas, como o alternador.

“A regulagem do motor, por exemplo, que é um negócio super importante do motor dois tempos, a gente foi ajustando ao poucos, porque como a gente não tem o manual do motor, nós fizemos várias tentativas até chegar no que seria o ideal. Várias pessoas ajudaram, como mecânicos aeronáuticos, engenheiros, que se apaixonaram pelo projeto”, explica.

Voe como o pai da aviação

A estrutura dá trabalho para ser montada. É preciso cinco colegas se ajudando e alguns até se pendurando para puxar a lona enquanto ela vai se formando no solo. “Precisa muito arroz e feijão”, brinca um dos amigos de Nenov que participava da montagem no aeroporto de São Pedro.

“É um trabalho de equipe, a gente precisa checar tudo, se todas as válvulas estão fechadas”, explica o piloto.

Mas nenhum esforço se compara ao desafio do inventor dessa técnica de voo. Durante anos, Santos Dumont quebrou a cabeça para tornar possível essa experiência até conseguir voar pela primeira vez em um dirigível.

Os materiais são diferentes, já que os do dirigível de Nenov são mais modernos, mas o voo é praticamente o mesmo, permitindo a sensação de se estar em uma viagem entre o fim do século dezenove e começo do século vinte.
“O princípio do voo é praticamente o mesmo, um ‘envelope’ aerodinâmico e um motor empurrando esse conjunto. Então, basicamente, é igual”, explica Nenov.

Os dirigíveis daquela época também ficaram famosos pelas explosões, que poderiam incendiar toda a estrutura, mas segundo o piloto, esse tipo de acidente não tem mais como acontecer no equipamento.

“O nosso dirigível é de ar quente. O do Santos Dumont era um dirigível com gás hidrogênio, que é altamente inflamável.”

Uma peculiaridade do dirigível é que o controle de voo não permite muita precisão, pois por ser com ar quente, o vento pode atrapalhar um pouco, dificultando a estabilidade. Para “driblar” isso, o piloto costuma voar sempre no início da manhã ou final da tarde, quando a pressão atmosférica é mais estável.

“A gente restaurou todo o equipamento e está também buscando informações e descobrindo o dirigível de ar quente, a gente fez até agora três voos com ele e está iniciando mesmo a operação dele agora. A ideia agora é dominar o voo para fazer depois algumas aventuras com ele”, revela.

Nenov conta que sempre foi um admirador de Santos Dumont, mas após “herdar” o dirigível, passou a pesquisar mais da vida dele e a admiração cresceu mais ainda.

“Eu nunca imaginei me tornar um piloto de dirigível da noite pro dia, não era um projeto. Mas foi dando certo e a história foi continuando, e ainda não sei onde vai parar. Agora eu estou olhando com outros olhos o Santos Dumont, é realmente um ‘cara’ fora de série, fez coisas incríveis, e é bacana fazer essa homenagem pra ele.”
O pai da aviação

Alberto Santos Dumont projetou, construiu e voou os primeiros balões dirigíveis com motor a gasolina. O inventor nasceu em Palmira, uma província de Minas Gerais, em 20 de julho de 1873, e morreu no Guarujá (SP), no dia 23 de julho de 1932.

Posteriormente, a cidade natal do aviador mudou o nome para Santos Dumont.

Do nº 1 ao nº 13, foram muitos sobrevoos com um dirigível. Alguns inventos não deram muito certo, mas outros colocaram Santos Dumont no patamar dos grandes nomes da ciência do século XX. Foi com o nº 5 e o nº 6 que o inventor brasileiro conseguiu provar que o homem conseguia controlar, de fato, um aparelho no céu, com destinos, distâncias e horários predefinidos.

Fonte: G1
Créditos: G1