no Rio de Janeiro

Parada LGBTI é marcada por protestos políticos

A primeira parada LGBTI do Rio sem apoio financeiro da prefeitura em 15 anos foi marcada por protestos políticos. Nos trios elétricos e entre o público, eram muitas as falas e cartazes contra o prefeito Marcelo Crivella, que dividiram espaço com fantasias, purpurinas, adesivos e tatuagens temporárias, que foram febre este ano.

Mesmo com estrutura mais enxuta e metade do orçamento ideal de R$ 600 mil, a parada atraiu 800 mil à orla de Copacabana, segundo os organizadores. A PM não divulgou balanço do público. De cima do principal carro, por exemplo, a cantora Daniela Mercury criticou a prefeitura.

– A sociedade carioca é libertária. Jamais combina com o prefeito que vocês têm – alfinetou.

Já um dos gritos que soava de vez em quando pela plateia foi entoado pela sambista Teresa Cristina, que também subiu ao trio principal da parada e puxou as palavras de ordem.

– Beijo ele, beijo ela, só não beija a boca do Crivella – gritou.

Este ano, a parada gay teve o slogan “Parada da Resistência contra a LGBTfobia, o fundamentalismo religioso e em defesa do Rio”. Segundo Claudio Nascimento, membro do Arco-íris e um dos organizadores, nos últimos anos, a prefeitura aportou de R$ 360 mil a R$ 400 mil no evento.

A falta de dinheiro fez com que, este ano, em vez de dez trios elétricos, desfilassem só três. Os artistas convidados, como Mercury, Iza, Preta Gil e Pabllo Vittar, abriram mão dos cachês.

– No primeiro momento, a falta de subvenção para garantir a estrutura mínima foi um impacto muito forte – contou Claudio. – Todas as paradas têm um protesto, mas esta tem um tom mais político ainda. Infelizmente, pela postura fundamentalista do prefeito atual.

Este ano, a “guarda” da bandeira do arco-íris ficou sob a responsabilidade dos jogadores, todos uniformizados com direito a meião e calção, dos times da Ligay, a liga de peladeiros LGBT brasileira criada há apenas dois meses, que, no próximo sábado, disputará seu primeiro torneio. O Bees Cats, do Rio, botou o time completo em campo:

– Em 2017, temos mais do que a obrigação de estarmos presentes para mostrar nosso poder – disse o roteirista André Machado, presidente dos Bees Cats.

O momento mais aguardado era a apresentação da cantora Pabllo Vittar, que levou o público ao delírio. Muita gente se espremeu e até chorou para ficar perto da artista que cantou oito músicas. Carismática, Pabllo, entretanto, não fez menção a políticos em sua apresentação e até deu bronca em uma turma que fazia tumulto no meio do público.

Em meio ao público, muitos também eram os cartazes que criticavam também outras questões políticas. O advogado Daniel Cardinale, de 28 anos, era a todo momento solicitado para fotos por quem passava. Com o rosto coberto por purpurina dourada, ele segurava uma cartolina onde se lia: “Tire a sua Bíblia do nosso currículo escolar”, em alusão também ao ensino religioso confessional, liberado por decisão do Supremo Tribunal Federal.

– Acho que o estado laico está sob ameaça, temos a moral religiosa definindo os direitos das minorias sexuais – ressaltou Daniel. – Já participei de outras paradas. Há dois anos eu não vinha, mas esta parada é especialmente importante, de resistência.

FURTOS DURANTE A PASSEATA

Durante a parada, ocorreram vários furtos. Ainda durante a concentração, três estrangeiros foram roubados perto do Arpoador. O GLOBO viu mais duas vítimas registrarem ocorrências na 12ª DP (Copacabana): uma delas foi o niteroiense Luís Carlos Borges, que 6teve o cordão arrancado e o celular retirado do bolso por dois adolescentes.

Procurado, o prefeito Marcelo Crivella não quis responder às declarações de Daniela Mercury. Já sobre as críticas de corte de verba para a passeata, a sua assessoria afirma que a prefeitura ajudou a organização a captar recursos da Lei Rouanet e investiu R$ 500 mil em estrutura para a parada, citando o bloqueio da Avenida Atlântica.

Fonte: O Globo
Créditos: O Globo