milagre de páscoa

Pais contam como filha foi da "morte à ressurreição" no domingo de Páscoa

Uma batalha entre e a morte que só teria fim no domingo de Páscoa daquele ano

O relógio da maternidade marcava 13h38 quando, por meio de uma cesariana, a pequena Ísis chegou ao mundo, em 2013. Ilka Freitas Lopes, de 38 anos, estava internada há 20 dias por conta da gravidez considerada de alto risco. Um pico de pressão, caracterizando início de pré-eclampsia, a obrigou a ir às pressas ao hospital, onde, acompanhada do marido, o servidor público Carlos José Pacheco Lopes, 39, começou a viver momentos de desespero. Era o princípio de uma verdadeira corrida contra o tempo. Uma batalha entre e a morte que só teria fim no domingo de Páscoa daquele ano. A vida venceu, o que deu à família a chance de contar e comemorar um verdadeiro “milagre de Páscoa”.

Traumatizado, o casal já havia sofrido com a morte do primeiro filho e, tudo o que menos queriam na vida, era enfrentar o drama. Outro medo era deixar sem mãe outro bebê, a primogênita da família, de apenas 1 ano e 2 meses. O risco era iminente. E mesmo com todos os mínimos cuidados para garantir as duas vidas, a mãe já havia chegado no limite suportado pelo corpo humano, segundo os próprios os médicos. Não havia possibilidade de esperar mais que as 29 semanas de gestação.

Embora estivesse em total repouso há muito tempo, a notícia de que aquele seria o dia do parto chegou como um sobressalto. Ilka teve pouco menos de duas horas para se preparar para a cesariana de emergência. Deu tempo de trocar as roupas, fazer uma oração e pedir a Deus que o bebê nascesse vivo. E nasceu. No dia 20 de fevereiro de 2013, entre o medo e a esperança, que a pequena Isis Freitas veio ao mundo. Pesando 1,250 kg e 36 centímetros, o bebê prematuro cabia na palma de uma mão.

“Assim que a tiraram, ela não respirou, fizeram a manobra de respiração mecânica e correram com ela para a incubadora, eu fui atrás. Foi um desespero, muita gente tentando reanimá-la e naquele momento eu estava meio aéreo, completamente inerte. Quando conseguiram estabilizar [o bebê] a pediatra foi muito realista e dura comigo, não escondeu nada, sobre toda dificuldade que é cuidar de um bebê prematuro”, relembra, emocionado, o pai de Ísis, Carlos Freitas.

Quase morte…

Segundo os médicos, quando nasceu, a menina tinha morte aparente. Passou ao menos dez dias em estado gravíssimo na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) neo-natal da maternidade do Hospital Anchieta, em Taguatinga, e chegou a pesar apenas 900 gramas. Até ali, todos os juízos médicos sobre a vida da pequena eram desanimadores. A parte mais delicada, as primeiras 72 horas, foram vividas entre a angústia e a expectativa de que o pior não acontecesse. “Eu não consegui falar para a minha esposa tudo o que a pediatra havia me dito. Quando a vi pela primeira vez, ela me perguntou como a neném estava e eu só disse que estava bem, não tive coragem de contar a gravidade da situação. Só quando cheguei em casa, na primeira noite depois do nascimento da Ísis, foi que eu desabei pela primeira vez”, conta Carlos.

 

 

“Logo no início, os médicos tiraram todas as nossas esperanças, diziam coisas horríveis, que ela podia morrer e que se sobrevivesse não ia falar, nem andar ou ter paralisia cerebral”, relembra Ilka. Com a voz embargada, pede desculpa pelo choro e torna a contar como se sentiu ao ouvir os prognósticos sobre a vida do seu bebê. “Eu não aceitava aquilo. Não aceitava minha filha morta. É muito difícil escutar isso, todo dia que eu chegava naquela UTI era como se parisse de novo”.

Nos nove primeiros dias, Isis só respirava com a ajuda de aparelhos. Uma parte do pulmão estava seriamente comprometida por conta da imaturidade do órgão e uma válvula do coração estava aberta. Por causa disso, a pequena teve ainda complicações intestinais, que a fizeram perder os poucas gramas que havia conquistado. “A gente só entende o que é comemorar ou chorar 10 gramas de peso de um bebê quando está na UTI neo-natal”.

… E ressurreição! 

No entanto, contra tudo o que os médicos previam, Ísis venceu a morte. Não como Cristo, como prega a fé cristã, em três dias, mas ao longo de dolorosas semanas. Dia após dia. Primeiro, superou o quadro respiratório critico. Depois, a infecção intestinal. E, por fim, os problemas cardíacos. Foram 70 dias de internação, 20 deles na Unidade de Terapia Intensiva. Em um Domingo de Páscoa, dia em que religiosos de todo o mundo celebram a ressurreição de Jesus, Ilka e Carlos celebraram a “resssurreição de Ísis”. O bebê, antes sem expectativa de vida, deu adeus para sempre à UTI. Renasceu.

Para a família, Isis sobreviveu graças à fé. Milagre é a única palavra que define a volta por cima da menina, segundo os pais. E ter acontecido em um Domingo de Páscoa tornou a data duplamente especial para a família. “Minha vida mudou completamente depois disso. Fui, realmente, da morte à ressurreição. Hoje eu sei que preciso viver o abandono da minha maternidade e da minha vida, porque só Deus pode dar aquilo de que preciso”, conta Ilka.

Depois do milagre de Ísis, a família, que é católica atuante na Igreja, celebra este domingo com a alegria especial. “A Páscoa tem literalmente esse significado de ressurreição, de nascer de novo, de nova vida, porque para a gente é isso: experimentamos isso verdadeiramente. Para nós, a Páscoa é realmente vida. De verdade, na nossa carne, no nosso lar, porque tivemos esse encontro com a ressurreição”, comenta.

Aos 5 anos de idade, recém-completados na semana passada, Ísis é uma criança de presença imponente e tem mais histórias para contar do que muitos adultos. Gosta de desenhar, brincar de boneca e cantar com a irmã mais velha. “Ela não consegue passar despercebida, é o nosso riso, a nossa alegria”, diz a mãe. Quando perguntada sobre o que quer ser quando crescer, responde rápido: “Doutora e professora”.

A mãe conta que a menina ainda não sabe detalhes sobre as dificuldades que enfrentou quando veio ao mundo, mas que pretende contar essa história a ela, gradualmente. “Ela é muito criança para entender o que aconteceu, mas aos poucos vamos mostrando as fotos e explicando a ela como foi o seu nascimento”. E quase morte. E, o mais  importante: a ressurreição.

Páscoa

A palavra Páscoa vem do hebraico peshah, que significa passagem. Para os judeus, ela representa a travessia do mar Vermelho, quando o povo liderado por Moisés passou da escravidão do Egito para a liberdade na Terra Prometida. Para os cristãos, esse sentido é mais metafísico, representa a passagem das trevas para a luz. “Para nós, cristãos, Jesus vence a morte e dá vida nova ao homem, chama-se a nova criação e toda a humanidade é redimida de seus pecados”, explica o padre da Comunidade Católica Shalom, Pe. Célio Lourenço.

A Páscoa cristã recebeu o nome da comemoração judaica porque a Paixão de Cristo aconteceu no início do Pessach – a festa judaica dura sete dias em Israel. A cerimônia conhecida como Última Ceia teria sido um Seder, o tradicional jantar realizado na véspera do início da Páscoa judaica, por exemplo.

Para os cristãos católicos, a Páscoa é a data mais importante do ano e, diferente do senso comum, o dia mais importante da Semana Santa não é o Domingo da Ressurreição, mas o Sábado de Aleluia. “O sábado é a Vigília Pascal, é o dia em que Jesus ressuscita, por isso é o ponto mais alto do tríduo pascal e do ano litúrgico, porque é aí que Cristo vem da morte e dá novo sentido a vida do homem”, explica.

Mas para além de todos esses significados, a Páscoa também tem o sentido de reflexão,  mesmo para quem não é cristão. “Nesse tempo, as pessoas ficam mais propícias a reflexão, por exemplo, vemos muitas pessoas que não são religiosas fazerem propósitos na quaresma. As vezes não tem um significado religioso, mas aquele propósito tem um fruto”, acredita.

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Fonte: Correio Braziliense
Créditos: Correio Braziliense