Opinião

'MORALMENTE INACEITÁVEL': não é hora de perdoar o PT - por Catarina Rochamonte

Escreveram haver soado no Brasil a trombeta da “hora de perdoar o PT”. Por um lado, a exortação é sem sentido; por outro, é refutável e moralmente inaceitável.

Publicado originalmente em Folha de São Paulo*

Escreveram haver soado no Brasil a trombeta da “hora de perdoar o PT”. Por um lado, a exortação é sem sentido; por outro, é refutável e moralmente inaceitável.

Vez ou outra levanta-se poeira no jornalismo quando algum articulista expõe uma opinião mais exótica. Isso não é mau, pois dá ensejo ao debate, que é saudável e democrático. Mau seria não haver quem se contrapusesse à extravagância de trazer para esse âmbito algo tão nobre e digno como o ato de perdoar.

No seu sentido profundo, o perdão é ato singular que se dá na relação de indivíduo a indivíduo e do indivíduo para com Deus. No âmbito político, é quase regra que haja fraude por parte de quem pede e por parte de quem concede perdão. Um exemplo do perdão político foi a anistia; perdão este que o PT e vários outros segmentos da esquerda não aceitaram de modo imparcial, mas instrumentalizaram para interesse de seu próprio grupo.

Vejam que ironia: o ex-ministro José Dirceu (PT), condenado na Lava Jato a 42 anos de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro —já tendo sido beneficiado pela comissão da anistia com indenização de cerca de R$ 60 mil— valeu-se também da contagem do tempo de anistia, de outubro de 1968 a dezembro de 1979, para obter a aposentadoria no valor de cerca de R$ 10 mil por mês, que acaba de ser aprovada.

 Dirceu, não faz muito tempo, ao ser questionado sobre PT e eleições, declarou em entrevista: “É uma questão de tempo pra gente tomar o poder; nós vamos tomar o poder, que é diferente de ganhar uma eleição”.

O PT ainda tem um projeto de poder que passa pela desmoralização da Justiça, da imprensa e de outras instituições; ainda é aliado de ditaduras e, apesar de, do mensalão ao petrolão, ter institucionalizado a corrupção, ainda glorifica seus corruptos e nega os escândalos nos quais se envolveu. Não se arrepende.

 Se o PT mudar, deixa de ser PT, e não haverá PT para perdoarmos. Mas, se continuar a ser PT, o nosso perdão será capitulação e covardia.

Fonte: Folha de São Paulo
Créditos: Catarina Rochamonte