Emoção

Irmãs separadas de forma trágica se reencontram 46 anos depois

Por quase toda vida, ela procurou reconhecer a irmã Milene Oliveira, de 48 anos, nos rotos das pessoas que cruzaram seu caminho.

“Eu lembro dela com cabelinho preto, olhos meio claros”. Essa memória nunca saiu da cabeça de Maria das Graças Oliveira, de 53 anos.

Por quase toda vida, ela procurou reconhecer a irmã Milene Oliveira, de 48 anos, nos rotos das pessoas que cruzaram seu caminho.

Nesta sexta-feira (22), essa busca de mais de 45 anos terminou em Belo Horizonte, com abraço apertado e com uma família que dobrou de tamanho. “É como se você fechasse uma lacuna na sua vida”, diz Milene.
Era 1971 quando o destino das irmãs – e de um irmão, que ainda não foi localizado – seguiu caminhos diferentes na estação ferroviária de Governador Valadares, no Leste de Minas Gerais. Maria das Graças conta que, por causa de desentendimentos, o pai colocou a mãe para fora de casa. Depois disso, ela e Milene foram entregues para outras famílias.
“Eu lembro que meu pai saiu cedinho de casa com nós três, meu irmão estava junto também. Aí, chegou na estação, ele conversou com um senhor. (…) Aí, esse senhor pegou as roupas da gente, as bolsas de roupa, colocou dentro do carro e pegou nós duas”, recorda Maria das Graças.
A primeira parada foi perto da estação, na casa da família que criou a mais velha. Em seguida, a caçula foi entregue.

Os anos se passaram, e Milene foi morar com outra família e se mudou para Belo Horizonte. Maria das Graças continuou vivendo em Governador Valadares e teve sete filhos – entre eles, Alice Oliveira, que decidiu procurar a Polícia Civil para ajudar a mãe a reencontrar a família.
“A vida inteira, a gente escutou ela contando essa história. Eu sempre tive uma preocupação porque a minha mãe sempre falou: ‘eu não tenho família’. Era uma pessoa sem identidade. Ela precisava resgatar essas raízes”, diz Alice.
O trabalho de investigação da polícia durou pouco mais de um mês até que Maria das Graças e Milene pudessem se reencontrar, nesta tarde, na Divisão de Referência da Pessoa Desaparecida (DRPD).
O abraço apertado entre as duas foi acompanhado de lágrimas e da vontade de não se separarem mais. “Eu quero ficar junto, conversar bastante, quero saber algumas coisas, perguntar, porque eu sou muito ‘perguntadeira’”, afirma Maria das Graças. O reencontro na DRPD teve ainda uma foto da – nova – família, que, para ficar completa, ainda quer encontrar o outro irmão desaparecido.

Fonte: G1