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Cientistas listam costa da Paraíba entre três possíveis locais de origem do óleo

Para garantir maior qualidade ao resultado, os pesquisadores utilizaram dados de diferentes profundidades até 10m.

As pessoas removem um derramamento de óleo na praia de Coruripe, estado de Alagoas, Brasil, 14 de outubro de 2019. REUTERS / Adriano Machadooleo 

Já se sabe que o óleo que afeta um terço do litoral brasileiro é uma mistura de três campos de exploração venezuelanos.

Agora, um grupo de pesquisadores da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) que tem investigado a origem do vazamento a pedido da Marinha afirma que está mais perto de determinar onde o vazamento ocorreu.

Os cientistas apontaram três áreas entre 350 km e 600 km da costa de Sergipe, Pernambuco e Alagoas que têm maior probabilidade de abrigar a origem do derramamento de óleo e então avaliaram as chances de cada uma.

Os locais foram escolhidos a partir de modelagem inversa, que mapeia o óleo do litoral até sua provável origem, e do refinamento e cruzamento de dados, informações e variáveis como profundidade marinha, correntes marítimas e ação do vento.

Um desses pontos está a 350 km da costa da Paraíba (primeiro estado atingido); o outro, a cerca de 400 km da divisa de Pernambuco e Alagoas, e o terceiro e mais distante está a 600 km da divisa entre Alagoas e Sergipe.

O estudo foi realizado por pesquisadores do Lamce (Laboratório de Métodos Computacionais em Engenharia), que integra o Coppe/UFRJ (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro).

Luiz Paulo Assad, professor colaborador da Coppe/UFRJ e que integra o grupo que investiga a origem do óleo, disse à reportagem que a técnica aplicada possibilita a simulação da trajetória dos resíduos do local que atingiram a costa até áreas que podem ser o marco zero do vazamento.

“Usamos a observação do óleo na costa e em condições de correntes marítimas e de vento passadas para simular a trajetória inversa do óleo, do litoral de volta ao local de origem. Essas trajetórias se aglomeraram em algumas regiões, e assim conseguimos intuir a probabilidade do descarte nessas três áreas”, diz.

Desde que o grupo passou a investigar o caso, há três semanas, 80 pontos atingidos no litoral nordestino foram testados na modelagem inversa. Os resultados que apontam três áreas como as mais prováveis são fruto da segunda etapa da pesquisa, que durou cerca de uma semana.

Para garantir maior qualidade ao resultado, os pesquisadores utilizaram dados de diferentes profundidades até 10m.

Com os achados, os pesquisadores agora vão dar início à fase três, na qual farão novas simulações para verificar se os pontos atingidos no litoral do Nordeste condizem com as três áreas de maior probabilidade.

Para fazer isso, o grupo aplicará uma modelagem direta que poderá ajudar a mapear o caminho que o óleo fez a partir de cada uma das três áreas até o litoral. Após a simulação, os resultados devem ser comparados com o surgimento das manchas nos nove estados do Nordeste, determinando, assim, qual simulação se aproximou mais do evento real.

Esta fase é um pouco mais complexa e demorada porque leva em conta correntes marítimas, vento, profundidade e também o volume do petróleo no mar, ainda desconhecido. Mas, em caso de sucesso, seus resultados podem ajudar a prever para onde o óleo pode ir no futuro.

O principal desafio do grupo nesta etapa é a falta de informação sobre o real volume do óleo vazado.

“Além de todas as características do óleo, também precisamos saber quanto óleo foi descartado e quanto ainda está na água. Isso é fundamental e não sei se vamos conseguir ter esse resultado sem esse valor”, afirma Assad.

Questionado sobre se há previsão para novos resultados, Assad disse que é difícil falar em datas agora. “Estamos trabalhando no modo reação. Infelizmente, era para sermos proativos e não reativos, mas já entendemos que para eventos como esse temos que investir em sistema de identificação e monitoramento de óleo que funcionem em toda a costa brasileira. É uma lástima o que aconteceu, mas serve de alerta.”

O grupo de pesquisadores também descartou a possibilidade de haver uma mancha de 165 km² próxima ao litoral da Bahia. O Ibama também já havia descartado essa possibilidade, em nota.

Segundo Assad, fatores meteorológicos ou a presença de microalgas poderiam ter influenciado a superfície do mar de maneira que as imagens funcionassem como “falso positivo”, indicando algo que não é real.

Fonte: Folhapress
Créditos: Folhapress