posições contrárias

Casamento e eleições: dormindo com o inimigo

Ninguém quer ver uma cervejinha descompromissada virar briga risca faca com perdigotos e agressões voando sobre a mesa.

Falemos a verdade: o Natal em família já está fatalmente comprometido pelas diferenças políticas. Haja o que houver, quando outubro terminar algumas de nossas relações estarão em frangalhos. No mínimo estaremos sem clima para compartilhar o peru – no máximo estaremos (um lado ou outro) discutindo o que fazer em porões subversivos. Os amigos, já dividimos em “os de cá” e “os de lá”. Ninguém quer ver uma cervejinha descompromissada virar briga risca faca com perdigotos e agressões voando sobre a mesa.

Atire a primeira pedra quem não viu um grupo de WhatsApp de surf, crochê ou de pais da escola virar uma lama que termina com textão e alguém saindo repentinamente, quase que batendo o pé.

Tá. Mas até aí, tudo bem. Família vai e vem, assim como os natais, e amigos a gente perde pelo caminho mesmo. O duro, minha gente, é quando a vala política divide a nossa cama. Quando os posts do parceiro ou parceira nos atingem como flecha. Duro é jantar falando da chuva que caiu ainda agorinha ignorando a última pesquisa do IBOPE saída do forno. A cabeça pensa nas profundezas do Brasil pós-eleição, mas o papo não sai do rasinho.

Conheço alguns casais que brigaram quase a tal ponto de rachar de vez. Precisaram sentar pra discutir os termos da relação no que diz respeito à política para evitar o divórcio. Gente que quando casou votava alinhado no centrão e com o racha de direita e esquerda viu o parceiro tomar o outro lado da bifurcação. E, falemos a verdade, quando isso acorreu há parcos anos, não imaginávamos que a coisa tomaria proporções hollywoodianas.

Tem também aquele casal que votou a vida inteira no PT, juntinho, depois de três mandatos e meio e uma lava a jato, se viu dividido pelo amor e pelo ódio ao Lula. Algo que lá em 2016 não parecia muito grave, hoje, uma prisão e um Haddad depois, criou um abismo dentro de casa.

É preciso muito amor, empatia e uma boa dose de resiliência para não deixar este tufão eleitoral acabar com relações que a gente presa. Porque bloquear o tio que mora em Goiás no Facebook é fácil, mas tomar café da manhã com o inimigo todo dia é inviável.

Oxalá todos vocês votem alinhados com seus cônjuges, porque esse bode cresceu tanto que não dá mais pra ignorar a presença dele na casa. Foi- se o tempo em que dava pra mudar de assunto e apelar para “amor, passa o sal”.

Fonte: Universa
Créditos: Universa