o 'milicianismo'

CARTA ABERTA AOS EVANGÉLICOS: Ao político que subiu os degraus do poder sem uma mísera gota de sensibilidade cristã - Por Sebastião Costa

"O maior torturador da história do país, Brilhante Ustra, chegou ao requinte de praticar suas atrocidades numa gestante, obrigando seus filhos a assistirem"

CARTA ABERTA AOS EVANGÉLICOS

A história, senhores evangélicos, nos conta que o protestantismo, extraído de uma costela do catolicismo, já nasceu sem compromisso com as práticas cristãs. Para o alemão Martinho Lutero, mentor intelectual do movimento que fragmentou a Santa Madre Igreja nos idos de 1517, a fé, e não os atos em vida, é que abririam as portas do céu.
Um outro pensador alemão, Max Weber, fala do protestantismo de Calvino fortalecendo as pilastras do capitalismo.

Em outras palavras, a corrente religiosa que deu origem aos templos que se alastraram pela Europa, montou na garupa sedosa do sistema capitalista, com os ensinamentos de Cristo devidamente soterradas pela exclusividade da fé, passaporte único com competência para acessar o Reino dos Céus.

Todas essas considerações se harmonizam perfeitamente com a realidade  do Brasil atual, quando se observa a idolatria  invadindo mente e coração do mundo evangélico, ao político que subiu os degraus do poder, sem uma mísera gota de sensibilidade cristã.

Removam-se sentimentos,  abram alas para a razão e vai-se identificar no pedigree militarizado do presidente, o estímulo à violência, conectado com o ‘milicianismo’ escancarado da família.

Há de se  reconhecer as convicções evangélicas interagindo com o Cristo divino. Mas, há uma ostensiva contradição, quando essa mesma interação está fortemente atrelada com o capitão que se fez presidente.
Um capitão que anda incentivando a disseminação do vírus e sem uma fagulha de sensibilidade com tantas vidas perdidas.
Um capitão que nunca escondeu sua homofobia e sempre demonstrou o seu viés racista.
Um capitão sem qualquer respeito à dignidade da mulher e sem dá a mínima para a fome e miséria de milhões de brasileiros
Um capitão que vive a estimular a proliferação de armas e a ensinar criancinhas o símbolo da violência.
Um capitão,  torcedor fanático da ditadura militar, que apesar de ter assassinado muita gente, deveria, nas suas palavras, ter “eliminado mais 30 mil”

O maior torturador da história do país, Brilhante Ustra, chegou ao requinte de praticar suas atrocidades numa gestante, obrigando seus filhos a assistirem.
E o capitão, senhores evangélicos, tem na figura desse sádico o seu maior ídolo.

Difícil entender como  todo este fervor por Cristo, que pregou a misericórdia, a paz e o amor  entre os homens, pode interagir e admirar um capitão cheio de truculência e autoritarismo, insensível às misérias sociais, que vive a estimular o desrespeito às mulheres, o repúdio aos afro-descendentes,  a voracidade do vírus, a morte de cidadãos pelas armas.

É no mínimo deprimente observar quase todo um universo evangélico, inconsciente, inconsequente, sem a mais leve percepção de que está se promovendo uma  imensa agressão à memória de Jesus Cristo feito homem, sempre que os senhores enaltecem a figura de um ‘genocida’, cuja família cresceu politicamente envolvida com as práticas violentas dos milicianos do Rio de Janeiro.

Sebastião Costa – Médico

Fonte: Sebastião Costa
Créditos: Sebastião Costa