ARTE VICERAL

Artista faz performance com útero após retirada do órgão reprodutor

"Essa expansão do meu órgão simboliza o peso que ele teve de carregar. O útero historicamente é disputado pelos poderes patriarcais e neoliberais. E isso cria uma série de pressões e pesos."

A artista Dani d’Emilia apresenta em Porto Alegre a performance U TE(A)R US, em que interage com o seu próprio útero. O título é um jogo de palavras com “útero” e a expressão em inglês para “você nos rasga”. A ação, que tem duração de 34h, ocorre desde as 10h de sábado, na Galeria Península (Rua dos Andradas, 351), até as 20h de domingo. O evento tem entrada franca e é aberto ao público.

Diagnosticada com um mioma, Dani d’Emilia decidiu passar por uma cirurgia para retirar o útero em 19 de janeiro (ela poderia ter optado por retirar apenas o mioma). Desde então, conservou o órgão em um recipiente de vidro com formol para realizar a performance, que marca os dois meses da operação e não deverá ser repetida. A duração tem a ver com a idade da artista, conforme ela explica:

– Essa ação duracional de 34 horas marca uma hora para cada ano que eu convivi com o meu útero dentro de mim. Tenho 34 anos no momento. Ela se propõe a externalizar a nossa relação, criar uma interação extra corporal. E abrir um novo momento na minha vida com uma série de liberações que a retirada desse órgão me permite.

Durante as 34 horas, a artista vestirá uma roupa branca, beberá água e só comerá ovos cozidos enquanto fará exercícios para sentir o peso do órgão, que, devido à doença inchou e atingiu o peso de quase um quilo. Com o ato, ela quer abrir uma discussão sobre os pesos simbólicos que recaem sobre o útero.

– Essa expansão do meu órgão simboliza o peso que ele teve de carregar. O útero historicamente é disputado pelos poderes patriarcais e neoliberais. E isso cria uma série de pressões e pesos. A gente internaliza pressões com relação à maternidade que vêm com um semblante de espiritualidade, de ciclos naturais, de aparências que estão nutridas por sistemas econômicos que necessitam da reprodutibilidade humana. Não ter filho é uma escolha muito forte socialmente.

Dani esclarece que não é contra a maternidade, apenas defende a soberania das pessoas sobre seus próprios corpos:

– Não é um órgão sobre o qual o Estado e a Igreja deveriam ter mais controle.

Fonte: ZH