Sucessão na Capital. Uns Morrem, alguém sobrevive

Gilvan Freire

Não precisa de ‘Edito’, ordem escrita passada pelos maiorais e destinada aos que devem dela conhecer e cumprir, para que os súditos da capital do império possam saber o que pensa e quer o governador provincial Ricardo Coutinho sobre sua sucessão direta em João Pessoa, através das eleições deste ano.

Dias antes, RC desautorizou a candidatura de Luciano Agra, a quem havia escolhido a dedo e gosto como seu vice nas eleições de 2008. Até então não pensava em fazer Luciano um líder político, coisa que tentou com Bira, o melhor quadro político tirado de seu laboratório eleitoral. Ultimamente, talvez tenha considerado Bira inapto ainda para ser candidato a prefeito, ou então acha que ele está ficando taludo por conta própria, sem desejo de revelar a origem e a paternidade. Isso também conta e é fatal.

Com relação a Luciano Agra, que em principio foi escolhido vice para afastar Manoel Júnior e o PMDB de uma recandidatura a vice, que pudesse atrapalhar os planos do então prefeito de se candidatar a governador em 2010, o intuito de RC era deixá-lo na administração como técnico, para que tudo continuasse como antes, tendo a desincompatibilização legal efeito meramente protocolar. Esse afastamento cartorial, efetivado através da renuncia ao posto de prefeito e a investidura no cargo de governador, continua aparente, pois RC ainda governa a prefeitura também.

Ao longo desses dois anos, a questão Luciano Agra tornou-se um problema, e não uma solução. Primeiro, porque Agra, fortemente apoiado na câmara municipal, começou a aparecer como candidato natural a prefeito, o que RC não imaginou quando o escolheu vice. A razão parece lógica demais: é que sendo Luciano candidato a prefeito, a ‘muda’ entraria na campanha inevitavelmente, pois essa é a regra mais sagrada dessa prostituta escrachada, notoriamente bígame e amoral, chamada reeleição, que, no futuro, vai para a história como a maior excrescência da democracia brasileira em todos os tempos.

Voltando a Luciano, seus auxiliares menos ligados a RC e os partidos e líderes aliados seus fizeram dele um bom candidato, aproveitando de seu excelente capital técnico e de sua imagem não política, bastando que pudesse financiar a campanha dos correligionários e garantir os empregos noutra gestão. Foi ai que RC descobriu que seu vice estava perdendo a pureza, ficando presa de aves de rapina e tomando gosto pelo cargo que passaria a ser somente seu e não de seu chefe. Havia chegado a hora da decapitação. A cabeça rolou.

É ESTELIZABEL. E MAIS NINGUÉM.

A saída de Luciano Agra como candidato a prefeito, decapitado por ordem superior, propiciou a RC a chance de nomear seu preferido dentro do PSB, o partido que detém o monopólio da candidatura e do projeto de governo no município e no Estado.

Diante do vazio criado por Luciano, Bira muito mal esperou que a guilhotina subisse e colocou a cabeça de fora. Foi advertido a tempo, antes que seu pescoço se partisse em dois. É reserva estratégica para outros tempos de melhor humor funerário.

Nonato Bandeira, articulador hábil e bruxo do terreiro dos girassóis, bateu os zabumbas e invocou os espíritos para saber se havia chegado a sua vez. E, assim como as ciganas, a entidade zambeteira lhe mentiu mais uma vez. O feitiço caiu por cima do feiticeiro, mas ainda não sabe que sua cabeça será também separada do corpo.

A renúncia repentina de Agra e a não menos repentina escolha de Estela, atordoou os políticos ligados ao prefeito. Todos ficaram órfãos de uma proteção governamental, especialmente daquele afago que tem som metálico (os vis metais dos tempos bíblicos), também alcunhado de ‘dinheiro’ – uma arma de guerra e paz que só não convence muito quando é pouco.

Estela não precisou das correntes políticas que fomentavam a candidatura de Agra (partidos e líderes), porque bastou RC. Os líderes se indignaram e criaram uma Frente, que não é exatamente para o confronto, mas é para barganhar os favores públicos que, pelo menos, Luciano cumpriria em acordo prévio. Hoje, com Estelizabel, não há pacto prévio nem pós. Há só obedecer ou não.

O que era uma estratégia de pressão, dentro do modelo vigorante, virou dissidência sem norte explicito, porque os insurretos querem tudo, menos uma ruptura com o poder.

No final de semana, RC deixou a linguagem mais clara e abriu os ouvidos dos amotinados, assim como anteriormente a imprensa abriu os ouvidos de Luciano Agra. E apontou na direção daquela que os falsos míopes fazem de conta que não vêem: Estela, que no italiano e no latim é Sttela; no Francês é Étoile; no alemão é Stern; no sânscrito é Star; e no português provincial é simplesmente Estrela. É isso mesmo que os descontentes vão ver. Se já não estiverem vendo.