O que abriu os olhos de Agra?

Rubens Nóbrega

O povo quer saber e há uma semana espera uma resposta sincera para a pergunta que não quer calar: afinal, o que foi que abriu tanto assim os olhos azuis do prefeito Luciano Agra ao ponto de ele renunciar a uma candidatura forte e competitiva?

Teria sido a percepção da gravidade da denúncia sobre a desapropriação de área inindenizável da fazenda Cuiá por R$ 11 milhões, pagos em apenas 20 dias na véspera da eleição de 2010 que elegeu governador o já então ex-prefeito Ricardo Coutinho?

Teria ele se dado conta de que em decorrência daquele negócio pode ser cassado pela Justiça, ficar com os direitos políticos suspensos por oito anos, os bens indisponíveis e ainda ser obrigado a ressarcir os cofres em mais de R$ 6 milhões?

Ou será que Agra arregalou os olhos depois de notar que já é réu em duas ações por improbidade que lhe move o Ministério Público Estadual, sendo a primeira resultado da não menos escandalosa terceirização da merenda escolar à famosa SP?

Quem sabe o prefeito não teria acordado pra Jesus depois de ler Clilson Júnior, do portal ClickPB, denunciando que a Emlur dirigida pelo irmão do governador estava para alugar caminhões por R$ 600 mil a uma empresa que ‘pertencia’ a um gari?

Ou será que foi porque ele leu no mesmo portal que o Poderoso Cori, Coriolano Coutinho, superintendente da Emlur, empenhara quase R$ 60 mil em favor da empresa ‘do’ gari, mesmo depois de o prefeito ter ordenado o cancelamento da transação?

Pode ser também que o alcaide tenha se escandalizado ao saber que na mesma Emlur sob direção do Poderoso Cori estavam para ser compradas toneladas de carne de segunda a (sobre) preço de primeira, e mais cara até do que fosse adquirida no varejo.

Mas pode ser ainda que o prefeito tenha dito “só pode ser brincadeira!” ao descobrir que um edital de licitação para comprar brinquedos de creches fora montado a partir do catálogo de vendas da empresa que coincidentemente venceu o certame.

Tem mais, muito mais, mas a hipótese mais provável do despertar ou desvelar do alcaide remete ao exato momento em que ele sentiu um cheiro muito forte de fritura no ar e se tocou que era ele mesmo que estava sendo fritado. Em fogo brando, desde 2010.

Aposto, contudo, que para finalmente ele sentir as orelhas queimando, o corpo ardendo e a ficha caindo, foi preciso admitir de que a sua pessoa, para além da própria gestão, fora seriamente abalada por todas aquelas denúncias cabeludas, gravíssimas.

De outro lado…

Parece-me significativo, mesmo sem termos ainda uma explicação objetiva para tanto, que Agra tenha agradecido à imprensa, por lhe ter aberto os olhos, em pleno lançamento da candidatura de Estelizabel Bezerra à Prefeitura da Capital.

Interessante observar também que ele tenha dito isso a jornalistas presentes no evento e nenhum deles, até onde sei, tenha se dado ao trabalho de perguntar ao prefeito como, quando e, principalmente, porque a imprensa abriu-lhe os olhos.

De qualquer sorte, enigmático ou não, com o seu agradecimento Agra abriu um leque de possibilidades para que a própria imprensa pudesse especular sobre os motivos mediatos e imediatos que o levaram a abrir mão de tão bem posta candidatura.

Nessa prospecção, considerei mais relevante principalizar os possíveis quês e não quem contribuiu para fazer o prefeito antever que enfrentaria uma campanha mais dura do que poderia suportar a sua saúde ou o seu jeito manso de ser e tratar os outros.

No mais, acredito que ele teve uma pequena e convincente amostra daquilo que o aguardava quando soube que a frigideira em que fora lançado estaria sendo manejada pessoalmente por gente do círculo íntimo do poder, ligadíssima ao Ricardus I.

Resta saber, por fim, se depois de abrir os olhos algum dia o atual prefeito de João Pessoa vai abrir a boca. Aí…

Que liberdade?

O amigo Bicho Bom enviou-me ontem por i-meio cópia de notícia publicada na Folha.com sobre a queda vertiginosa do Brasil (41 posições) no ranking da Liberdade de Imprensa 2011-2012, elaborado pela organização Repórteres Sem Fronteiras.

No último relatório antes do atual, divulgado em 2010, ocupávamos o 51º lugar numa lista com 179 países. Agora, estamos na 99ª posição, abaixo de Uruguai (32º), Argentina (47º), Chile e Paraguai (ambos na 80º).

“Segundo a organização, o Brasil é o país da América Latina que mais caiu no período. O motivo foi o ‘alto índice de violência’ contra os jornalistas, em especial nas regiões Norte e Nordeste, de acordo com ela”, diz a Folha.com.

Sim, mas por que cargas d’água uma nota assim me foi remetida justamente por Bicho Bom? A explicação ele deu ao chamar a minha atenção para o fato de que o Nordeste teria contribuído decisivamente para piorarmos nesse ranking.

“Elementar, meu caro Rubens. A coisa piorou justamente de 2011 prá cá. Estou lhe dando a dica que é pra ver se você se mexe e pergunta a Repórteres sem Fronteira qual a participação da Paraíba nessa piora”, provocou, arrematando:

– A não ser que você ache que a liberdade de imprensa na terrinha em nada foi afetada após a coroação do Ricardus I e o impulso que ele deu ao avassalador projeto de transformar em vassalos todos os jornalistas em atividade na Paraíba.