Cássio, um morto-vivo

RICARDO RUMO À HEGEMONIA? Será a primeira vez que o governador ficaria sem um cargo público - Por Flávio Lúcio

Ainda falta derrotar definitivamente as lideranças ditas “tradicionais”, como Cássio, que, como um morto-vivo político ainda continua a assombrar a vida dos paraibanos. Depois de 2018, e a depender do resultado, os grupos e partidos tradicionais perceberão a necessidade de “reciclar” suas lideranças para que elas consigam – eu não gosto desse termo, mas vá lá − “dialogar” com o novo eleitorado.

RC: RUMO À HEGEMONIA? Por Flávio Lúcio Vieira


O anúncio feito por Ricardo Coutinho de que não renunciará para disputar mais um cargo em 2018, feito em entrevista concedida ao programa Conexão Master na última segunda-feira (03/07), não apenas confirmou o furo dado pelo jornalista Fernando Caldeira que, uma semana antes, antecipou em seu blog a decisão do governador, mas confirma a análise feita aqui no Blog do Rubão e publicada em 6 de abril.

O texto, intitulado ‘As opções de Ricardo Coutinho‘, procurava confrontar a opinião majoritária entre os analistas políticos paraibanos de que Ricardo Coutinho manteria o padrão recente da maioria dos ex-governadores e renunciaria em busca de mais um cargo – a exceção foi Tarcísio Burity, em 1990, que fez um governo desastroso e não seria eleito.

Não que RC tenha deixado de priorizar o seguimento de sua carreira política – essa seria a primeira vez que o governador ficaria sem um cargo público desde que se elegeu vereador, em 1992, − mas, entre disputar o Senado e dar continuidade ao “projeto”, que significa impedir a volta dos adversários ao governo e das práticas políticas e administrativas que representam, RC optou pelo que, para muitos, inclusive para muitas figuras próximas a ele, representa um “sacrifício pessoal”.

Talvez seja, mas não pelo viés pragmático. É preciso ter virtù para se movimentar nesse pântano político – em vários sentidos − que se tornou a política brasileira nos últimos anos. Ou seja, a decisão de RC leva em conta cálculos futuros. E o mais importante deles, e certamente o mais estratégico, é a busca da consolidação de uma hegemonia ainda incompleta.

Ainda falta derrotar definitivamente as lideranças ditas “tradicionais”, como Cássio, que, como um morto-vivo político ainda continua a assombrar a vida dos paraibanos. Depois de 2018, e a depender do resultado, os grupos e partidos tradicionais perceberão a necessidade de “reciclar” suas lideranças para que elas consigam – eu não gosto desse termo, mas vá lá − “dialogar” com o novo eleitorado.

Notem que a decisão do governador, anunciada dez meses antes do prazo de desincompatibilização, está dentro dessa estratégia. Ela procura reforçar a ideia de RC como um “político diferente” – 2018 será uma eleição que julgará o governo e a figura do governador como agente político, onde, do ponto de vista do discurso, o maior espólio a ser apresentado pelo PSB será a mudança na cultura política do estado promovida nos últimos anos, contra o “retrocesso”, o passado, o familismo, o tradicionalismo.

A toada iniciada em 2010 continuará a mesma, agora sob a batuta provavelmente de um “técnico”, um “planejador”, um “não-político”, enfim. E caso seja vitorioso, o cassismo terá sofrido sua derrota definitiva, restando a RC retomar o controle de João Pessoa e abrir o caminho para voltar ao governo do estado.

Cartaxo já está fora do jogo, o que facilita muito essa estratégia – e, se for esperto, permanece assim para preservar o espólio e tentar mantê-lo em 2020. Maranhão tem recall, mas lhe falta voto em disputas para o Executivo.

Além disso, o quadro eleitoral de 2018 é cada vez mais favorável ao ricardismo. Mas esse é outro assunto que trataremos depois.

Enfim, a pergunta mais importante depois de 2018 será talvez essa: quem sobrou entre as lideranças tradicionais para confrontar a hegemonia ricardista que, como toda hegemonia, tem prazo de validade, mas que, pelo visto, ainda terá longevidade?

Flávio Lúcio Vieira é analista político

Fonte: http://rubensnobrega.com.br/
Créditos: Por Flávio Lúcio