visão de futuro

IDEAIS DE ANTONIO MARIZ: De volta a 1992 para entender o legado de um grande político paraibano

Os megablocos econômicos, na Europa, na América, na Ásia, têm como contraponto a manipulação dos organismos internacionais em favor das grandes nações. A ONU chegou a autorizar a utilização de quaisquer meios, inclusive a guerra, para punir o IRAK pela invasão do KUWAIT. Certamente medidas econômicas, políticas, diplomáticas teriam sido suficientes. A Rodada Uruguay do GATT é outra demonstração de que as nações ricas nada cedem quando estão em jogo seus interesses. A Europa não abra mão dos subsídios à produção dos seus agricultores. O Japão através de barreiras aduaneiras, ou não, fecha seu mercado interno, e continuará a considerar crime a importação de arroz. Os Estados Unidos organizam seu mercado-comum e preparam-se para restringir as importações japonesas.

ANTONIO MARIZ DEIXOU UM LEGADO DE PRINCÍPIOS E IDEIAS POLÍTICAS POUCO LEMBRADOS PELOS SEUS FAMILIARES, AMIGOS E SEGUIDORES

MARIZ
(Discurso pronunciado pelo Senador Antonio Mariz em Sessão Plenária da 87ª Conferência Interparlamentar, em Yaoundé – capital da República dos Camarões. – Abril de 1992)
“O fim da bipolarização mundial, após a fragmentação e o desaparecimento da União Soviética do cenário internacional, coloca a humanidade diante de novos e igualmente graves desafios.
Certamente, reduziram-se os temores de uma catástrofe nuclear. Formidáveis recursos antes destinados à preparação da guerra, podem agora destinar-se à construção da paz.
Dentre os desafios trazidos pelo fim da bipolarização, contudo, está a instauração da hegemonia global de uma superpotência única, com todos os riscos que isso implica para a soberania dos demais Estados.
A concentração do capital, do conhecimento científico e tecnológico, do poder militar nas mãos de um grupo restrito de nações, que se aliam e se organizam em megablocos econômicos fechados, agravará sem dúvida a situação de imensas parcelas da humanidade condenadas a permanecer no atraso, no subdesenvolvimento, na ignorância, na indigência.
O Presidente norte-americano anunciou na Organização das Nações Unidas uma nova ordem mundial. Será a “pax universalis”, ou será simplesmente a “pax americana”? Com franqueza rude que a caracteriza, a ex-Primeira Ministra Britânica desvenda objetivos ainda obscuros ao afirmar: “desmascarada a impostura, o mundo acaba de dar aos Estados Unidos a missão de dirigi-lo.”
Formidável orquestração ideológica, articulada para comemorar a vitória ocidental, repõe Adam Smith no centro da modernidade e ressuscita os valores ultrapassados do liberalismo econômico. Nessa ótica, seria preciso destruir o Estado interventor, sepultar o planejamento econômico, liberar de todos os controles as ferozes leis do mercado. Decreta-se a internacionalização da economia, a queda mais completa das barreiras alfandegárias, das tarifas protetoras da industrialização nascente nos países em desenvolvimento, fulmina-se toda e qualquer espécie de reserva nacional de mercado. Decreta-se a morte do socialismo. Decreta-se a morte da própria história.
O fato é que a avassaladora onda neo-liberal que pretende dominar o pensamento político e econômico contemporâneo, poderá determinar a estagnação da atividade econômica e o maior empobrecimento dos povos periféricos.
Os megablocos econômicos, na Europa, na América, na Ásia, têm como contraponto a manipulação dos organismos internacionais em favor das grandes nações. A ONU chegou a autorizar a utilização de quaisquer meios, inclusive a guerra, para punir o IRAK pela invasão do KUWAIT. Certamente medidas econômicas, políticas, diplomáticas teriam sido suficientes.
A Rodada Uruguay do GATT é outra demonstração de que as nações ricas nada cedem quando estão em jogo seus interesses. A Europa não abra mão dos subsídios à produção dos seus agricultores. O Japão através de barreiras aduaneiras, ou não, fecha seu mercado interno, e continuará a considerar crime a importação de arroz. Os Estados Unidos organizam seu mercado-comum e preparam-se para restringir as importações japonesas.
Na verdade, tais mercados comuns se são abertos por dentro são fechados por fora.
A internacionalização da economia supostamente feita no interesse de todos os povos é, assim, uma falácia. Os Estados subdesenvolvidos devem derrubar as fronteiras econômicas. Mas os Estados ricos poderão exercitar livremente sua soberania.
Substituiremos assim o conflito Leste-Oeste pelo conflito Norte-Sul? Podem nações livres aceitar esse novo Tratado de Tordesilhas para redividir o mundo entre os vários sistemas de interesses econômicos?
Não, isto não ocorrerá. É preciso resistir. É preciso que os chefes de Estado de todas as latitudes se convençam de que não haverá paz duradoura em um cenário estigmatizado pela aguda contradição entre a extrema riqueza de uns e a extrema pobreza de outros. Em nome da paz, da justiça, da liberdade, da democracia, é imperativo que os bens resultantes do progresso, que as conquistas do trabalho e da inteligência sejam compartilhados por todos os homens, de todas as nacionalidades, de todas as raças, em todos os lugares do mundo.”
Créditos: Dos arquivos de Eilzo Matos