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Falas de Trump e Meirelles fazem dólar virar e fechar na mínima

Índice registrou queda em dia de maior cautela do mercado doméstico e externo com o forte noticiário político local e ambiente geopolítico mundial

O Ibovespa voltou a cair nesta quarta-feira (12) acompanhando o cenário de maior tensão no exterior, com as bolsas dos Estados Unidos também registrando queda de olho no cenário geopolítico. Por aqui, o mercado acompanha a quebra do sigilo da “delação do fim do mundo” e a divulgação da lista de políticos com investigação autorizada pelo relator da operação Lava Jato no STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Edson Fachin.

O benchmark da B3 fechou com queda de 0,73%, aos 63.891 pontos, em dia marcado pelo vencimento de opções sobre o índice. O volume financeiro ficou em R$ 14,618 bilhões. Pesou para o índice o movimento da Vale, que caiu mais de 4% após a derrocada do minério de ferro na china. Na agenda econômica dos mercados, destaque para a decisão do Copom, com a expectativa de corte de pelo menos 100 pontos-base na Selic.

Os contratos de juros futuros com vencimento em janeiro de 2018 fecharam com variação levemente positiva de 2 pontos-base, a 9,64%, ao passo que os DIs com vencimento em janeiro de 2021 subiram 1 ponto-base, a 9,86%. Já o dólar comercial teve queda de 0,45%, para R$ 3,1339 na venda – na mínima do dia -, ao passo que os contratos de dólar futuro com vencimento em maio deste ano caíram 0,11%, sinalizando cotação de R$ 3,147.

O presidente Donald Trump ajudou na virada do dólar após falar ao The Wall Street Journal que ele ainda não decidiu se irá reeleger Janet Yellen para comandar o Federal Reserve quando seu mandato expirar no próximo ano. Além disso ele comentou sobre juros e dólar: “Eu gosto de uma política de baixa taxa de juros, devo ser honesto com você”, disse. Trump afirmou também que o dólar está “ficando muito forte” e também disse que seu governo não rotulará a China como manipulador de moeda.

A fala do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, também colaborou para que o dólar revertesse os ganhos contra o real. Segundo ele, a expectativa é que a reforma da Previdência seja aprovada neste semestre, mas “não há grande drama se for em agosto”. Além disso, ele destacou que o regime de transição ainda não está definido e afirmou que o governo não considera o fim do abono salarial para compensar perdas com a flexibilização da reforma da Previdência.

Destaques da Bolsa
Do lado acionário, os papéis da Vale (VALE3; VALE5) chegaram a ter perdas de quase 4%, reagindo ao forte recuo de 8,5% do minério de ferro no mercado à vista na China e de 3,44% nos mercados futuros. A holding da companhia, a Bradespar (BRAP4) seguiu o movimento. Os futuros do aço também caíram, após um movimento das siderúrgicas chinesas para reduzirem os seus preços em uma tentativa de desovar o excesso de estoques. Acompanharam o movimento ainda as ações das siderúrgicas: Gerdau (GGBR4), Usiminas (USIM5) e CSN (CSNA3).

No caso da CSN, outra notícia no radar: em delação premiada, Marcelo Odebrecht afirmou que, a pedido do empresário Benjamin Steinbruch, da companhia siderúrgica, repassou R$ 14 milhões ao ex-ministro Antonio Palocci e outros R$ 2,5 milhões para Paulo Skaf, atual presidente da Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo). Segundo Odebrecht, os pagamentos foram feitos em razão de compromisso assumido por Steinbruch com o Partido dos Trabalhadores (PT). As informações constam em pedido analisado por Edson Fachin.

Vale destacar ainda que os mercados acionários da China caíram hoje, uma vez que os dados mais fracos de inflação ao produtor levantaram questões sobre a sustentabilidade da recuperação econômica do país e com algumas ações que tiveram alta com os planos de uma nova zona econômica perdendo força. A inflação dos preços ao produtor da China desacelerou pela primeira vez em sete meses em março, justamente em meio à queda dos preços do minério de ferro e do carvão, pressionados pelos temores de que a produção de aço do país esteja superando a demanda e ameaçando um excesso de metal neste ano.

As ações da Gol caíram cerca de 4% após dispararem 6,63% na véspera na esteira da medida do governo para liberar o capital estrangeiro em 100% para as aéreas. Ontem, o governo federal formalizou que enviará ao Congresso Nacional projeto de lei com urgência que determina fim do limite para participação de capital estrangeiro nas companhias aéreas do país, informou o governo federal. A decisão surpreendeu técnicos do governo, que até poucas horas antes acreditavam que o texto seguiria como Medida Provisória.

Na prática, isso significa que a medida só entrará em vigor após tramitar no Congresso, em vez de imediatamente, que seria o caso se fosse por meio de MP. “O governo quer debate aberto e ágil sobre esse tema. Por isso, encaminhará projeto de lei a ser analisado o mais rápido possível. Solicitará, para tanto, que os líderes da base aliada requeiram tramitação em regime de urgência da matéria”, diz nota conjunta o ministérios do Turismo, dos Transportes e Casa Civil.

O comunicado apontou que a mudança se deu porque o presidente Michel Temer preferiu honrar compromisso assumido no ano passado com senadores, quando vetou um item de um projeto que tinha sido aprovado no Congresso, que tratava justamente da liberação total do capital estrangeiro em áreas.

 

Lista do Fachin
O mundo político reage à divulgação da “Lista do Fachin”. Na véspera, o relator da Lava Jato no STF determinou a abertura de inquérito contra oito ministros do governo Michel Temer, 24 senadores e 42 deputados federais, entre outros. A informação tumultuou o mundo político e azedou o humor dos mercados no fim do pregão e o Ibovespa fechou em queda de 0,45%, a 64.360 pontos.

Nesta quarta-feira, novos desdobramentos seguem no radar dos investidores. A expectativa é de que a lista possa contaminar, pelo menos em um primeiro momento, a negociação para as reformas, com destaque para a Previdência. Por outro lado, há a expectativa de que a lista de Fachin acelere até mesmo as reformas, de forma a minimizar o desgaste da classe política. Por enquanto, a ordem no Planalto  é concentrar a atenção nas reformas e esquecer lista da Fachin.

Renegociação da dívida dos estados
A Câmara dos Deputados adiou ontem, mais uma vez, a votação do Projeto de Lei Complementar 343/17, que trata da recuperação fiscal dos estados superendividados. Desde a semana passada, deputados da base aliada insistem na aprovação do projeto, mas a oposição atua firme na obstrução.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, foi surpreendido pela enorme resistência dos parlamentares ao projeto da dívida dos Estados. Maia tentará aprovar a proposta na próxima semana, mas está pessimista, informa o jornal O Estado de S. Paulo.

Em função dos feriados da Semana Santa, o presidente da Câmara convocou sessões da Casa para segunda-feira (10) e para ontem destinadas à apreciação do projeto. No entanto, usando dispositivos regimentais como requerimentos de adiamento de votação, a oposição conseguiu impedir a votação do projeto ontem e nesta terça-feira e a apreciação ficou para a próxima semana. O vazamento de nomes de políticos citados na chamada “lista do Janot” também contribui para o esvaziamento do plenário da Câmara e o adiamento da votação.

Fonte: Com Reuters, Bloomberg e Agência Estado