defesa dos oprimidos

DOM JOSÉ: ‘Sou negro de corpo e alma’ - Por Nonato Guedes

A oração de José a seu padroeiro homônimo rendeu frutos. No dia 25 de janeiro de 1931, José entrou para o seminário de Diamantina. A madrinha teve de fazer uma vaquinha para providenciar o enxoval. E entre os muros do Seminário Sagrado Coração de Jesus, inaugurado em 1867 por dom João Antônio dos Santos, o menino iniciou seus estudos no seminário menor.

dom-jose
No Dia da Consciência Negra, é fundamental lembrar a atuação de Dom José Maria Pires, atual arcebispo emérito da Paraíba, em prol da defesa dos oprimidos e do reconhecimento da negritude, da qual sempre se orgulhou.

Natural de Minas Gerais, Dom José chegou a João Pessoa no governo de João Agripino, por volta de 1964, em meio à eclosão do chamado golpe militar. Na década de 60, dom José era chamado de dom Pelé, em homenagem ao atleta do século, já que se destacava como o único bispo negro do país – em 2015, eram apenas 13. Também era conhecido como dom Zumbi, “rebatizado” por dom Pedro Casaldáliga na celebração do centenário da Abolição da Escravatura em 1988, na Serra da Barriga, que fica distante nove quilômetros do município de União dos Palmares em Alagoas.

Nascido em 15 de março de 1919, em Córregos, cidadezinha de Minas Gerais, filho de pai carpinteiro, seu Eleutério, e de dona Pedralina. Aos 12 anos, com o apoio de uma madrinha, dom José entrou para o seminário, iniciando os estudos para o sacerdócio. Num domingo, depois da missa, na frente de todos, ele disse que queria ser padre. “Todos riram, foi uma decepção só’.

A madrinha Maria D’Africa Machado, que residia em Diamantina, puxou o menino pelo braço e o levou para conversarem sobre a novidade. – José, o que você disse é algo muito sério, reze para São José, que é o padroeiro das vocações, e veremos o que ele arruma – disse a madrinha.

E foi a partir da conversa com madrinha que José passou a ir todos os dias à igreja, antes da aula. Parava diante da imagem de São José, se ajoelhava e dizia: “São José, eu quero ser padre”. Fazia o sinal da cruz, girava os calcanhares e seguia rumo à escola.

A oração de José a seu padroeiro homônimo rendeu frutos. No dia 25 de janeiro de 1931, José entrou para o seminário de Diamantina. A madrinha teve de fazer uma vaquinha para providenciar o enxoval. E entre os muros do Seminário Sagrado Coração de Jesus, inaugurado em 1867 por dom João Antônio dos Santos, o menino iniciou seus estudos no seminário menor.

Já como padre, ele se dividiu entre paróquias do interior de Minas. Foi pároco de Curvelo (MG) e ordenado bispo em 22 de setembro de 57. Foi o terceiro bispo da diocese de Araçuaí (MG). Dom José participou das quatro sessões do Concílio Vaticano Segundo e foi um dos defensores do Pacto das Catacumbas, que pregava o retorno da Igreja às suas origens humildes.

Por Nonato Guedes

Fonte: OSGUEDES
Créditos: nonato guedes